Mesmo com prejuízo, fundos dos EUA vendem ações da Americanas
Acionistas preferem arcar com prejuízo do que seguir apostando na empresa que enfrenta crise sem precedentes
Surpreendidos pelo rombo bilionário na Lojas Americanas, e o temor de que a situação se deteriore ainda mais, fundos americanos com trilhões de dólares sob gestão têm preferido vender ações da companhia e arcar com o prejuízo a seguir apostando na empresa que enfrenta uma crise sem precedentes, mas que muitos dizem que ainda é viável operacionalmente.
Dois dos maiores acionistas minoritários da varejista, a gigante Capital Group, com sede em Los Angeles, e o Teachers Insurance and Annuity Association of America (TIAA), um dos maiores fundos de pensão de professores dos Estados Unidos, puxaram a fila. Outro nome de peso no capital da Lojas Americanas é a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo.
A Americanas está em recuperação judicial desde a semana passada. A companhia informou à Justiça ter uma dívida de R$ 43 bilhões. A crise na empresa começou no dia 11 de janeiro, quando, em fato relevante, disse ter encontrado “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões. O anúncio veio com a renúncia do então presidente Sergio Rial, que estava a pouco mais de uma semana no cargo.
O grande temor dos investidores dos EUA é o risco de uma fraude, tema que já causou muita dor de cabeça a investidores americanos, escaldados com escândalos contábeis como os da Enron e da WorldCom. Eles hoje preferem amargar o prejuízo a permanecer com as ações de companhias envolvidas em negócios pouco transparentes.
Só em janeiro, os papéis da Lojas Americanas já acumulam perdas de mais de 90%. No exterior, os títulos de dívida (bonds) tiveram queda semelhante e chegaram a ser negociados a apenas US$ 0,10 (R$ 0,51) na tarde da última sexta-feira.
De saída
A Capital International Investors, que pertence à gigante norte-americana Capital Group, informou ontem que reduziu a sua fatia na Lojas Americanas para 4,07% de 5,45%. A operação foi realizada em 20 de janeiro, um dia após a Americanas ter entrado com um pedido de recuperação judicial, conforme comunicado divulgado ao mercado ontem. Naquele dia, o papel caiu 29%, e fechou em R$ 0,71. Também no dia 20, a ação deu adeus ao índice Ibovespa.
Com US$ 2,2 trilhões (R$ 11,4 trilhões) em ativos sob gestão, a Capital Group tem participações em outras empresas brasileiras como a mineradora Vale e a BR Malls. Sobre o restante da fatia na Americanas, a gestora não deu sinais do que pretende fazer.
Zerado
Antes, o TIAA, um dos maiores fundos de pensão de professores dos Estados Unidos com US$ 1,1 trilhão em ativos, praticamente zerou sua participação na Americanas em meio à crise da varejista. De 6,05% que detinha na empresa, baixou para 5% e, na sequência, para 0,14%. A operação foi feita por meio da gestora norte-americana Nuveen, responsável pelas transações para o TIAA, no dia 18, um pregão antes do pedido de recuperação judicial.
A situação da Americanas também preocupa a gigante BlackRock, com cerca de 5% do capital da companhia, de acordo com uma fonte que preferiu não se identificar. Por ora, a maior gestora de recursos do mundo ainda não agiu a respeito do caso.
Resposta
Procurada pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a BlackRock afirmou que não comenta o investimento em “empresas de forma individual”. A reportagem também entrou em contato com a Capital International, que não se pronunciou sobre a fatia restante na Lojas Americanas. O TIAA foi procurado nos últimos dias, mas não comentou o caso. A Americanas também não falou sobre o assunto.
Em nota, a Americanas diz que é uma varejista centenária, que presta um serviço amplo à população e tem um compromisso social forte de levar produtos acessíveis aos seus 53 milhões de clientes. A companhia segue na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos. A Americanas espera que os credores também se comprometam na busca de soluções.