Ibovespa cai 1,51% com expectativa de vídeo de reunião entre Moro e Bolsonaro
Agenda do dia, com reunião do Copom e do Conselho do governo, e cenário externo ficam no radar dos investidores da B3
A bolsa paulista fechou em queda nesta terça-feira (12), contaminada pela piora em Nova York e preocupações relacionadas ao cenário político no país. Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,51%, a 77.871,95 pontos, após superar os 80 mil pontos mais cedo na sessão. O giro financeiro somou R$ 22,7 bilhões.
No cenário político, a tensão foi alimentada pela expectativa de divulgação do vídeo de uma reunião ministerial na qual, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro cobrou a troca do chefe da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro, que é apontado como possível prova da tentativa de interferência política do presidente.
Em reunião ministerial no dia 22 de abril, Bolsonaro teria dito que a investigação sobre seus familiares justificaria a troca do então superintendente da PF no Rio, e afirmou que, se ela não fosse efetivada, trocaria o diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo então ocupado por Moro.
“Isso fez a bolsa acelerar as perdas”, afirmou o diretor da Mirae Asset Pablo Spyer em vídeo na sua conta no Twitter.
Ainda no cenário político, agentes financeiros também estão na expectativa do veto prometido por Bolsonaro da proposta que exclui categorias do congelamento de salário previsto aos servidores públicos. A medida está no projeto de auxílio a Estados e municípios aprovado pelo Congresso.
“O Brasil não tem novidades auspiciosas”, afirmou a Verde Asset Management, em relatório de gestão, citando que aos problemas relacionados à pandemia do Covid-19 juntam-se a confusão política recente e a deterioração do cenário fiscal e de dívida no curto e médio-prazos.
“Nessa neblina de incertezas, fica mais difícil alocar mais capital”, afirmou a equipe liderada pelo gestor Luis Stuhlberger, para quem não surpreende a fraqueza – com algumas exceções – do mercado acionário.
Entre as ações do principal índice da B3, bancos aprofundaram as perdas, com investidores receosos sobre medidas de combate aos efeitos do Covid-19 que podem prejudicar o sistema financeiro e estão na pauta do Senado para os próximos dias.
Itaú Unibanco PN caiu 3,44%, Bradesco PN recuou 3,12%, Banco do Brasil ON cedeu 3,52% e Santander Unit perdeu 5,18%
“Devemos reconhecer que o risco regulatório aumentou para os bancos brasileiros”, afirmaram analistas do Credit Suisse, destacando principalmente propostas que limitam juros de cheque especial e cartão de crédito.
Lá fora
No exterior, os sinais de uma segunda onda de infecções por coronavírus prejudicavam o apetite por risco, diante dos temores de que isso levaria muitos países de volta às restrições de circulação e adiaria uma recuperação econômica. Entre os países que registraram novas curvas de crescimento da doença estão a China, a Coreia do Sul e a Alemanha.
Depois de o país registrar o maior aumento diário desde 28 de abril nesta semana, a China viu um de seus principais índices, o de Xangai, fechar em baixa nesta terça-feira (12). O resultado vem após uma forte queda nos preços ao produtor chinês, o que destaca o enfraquecimento da demanda industrial, com o impacto econômico da pandemia por lá. Já o índice que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen ficou estável.
Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 2%, conforme agentes financeiros continuam contrabalançando os riscos de uma nova onda de contágio do Covid-19 com a reabertura de atividade em várias regiões dos Estados Unidos, onde o vírus já matou 80 mil pessoas.
Anthony Fauci, especialista em doenças infecciosas renomado dos Estados Unidos e diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, alertou o Congresso nesta terça-feira que uma suspensão prematura dos isolamentos pode provocar surtos adicionais do coronavírus.
Na Europa, os índices acionário fecharam em leve alta, com o setor de telecomunicações subindo depois que a britânica Vodafone manteve seu dividendo, enquanto as ações defensivas foram amplamente favorecidas conforme os investidores avaliavam os riscos de muitos países que começaram a suspender as restrições.
O FTSE 100, do Reino Unido, superou o desempenho de seus pares da Europa continental, subindo 0,9% com a ajuda de uma libra mais fraca e de balanços corporativos favoráveis. O índice da zona do euro avançou apenas 0,1%.
*Com informações da Reuters