A cotação do dólar pode chegar a R$ 7? Saiba a opinião dos especialistas
Estudo do UBS prevê dólar acima de R$ 7 em 2021; rombo fiscal e turbulência política devem ser decisivos na precificação da moeda americana nos próximos anos
Diante das turbulências políticas da semana passada, o banco UBS publicou uma revisão de suas projeções para o mercado de câmbio no Brasil na última quinta-feira (23). No relatório, que traça três possíveis cenários para as cotações da moeda americana até o final do ano e também para 2021, a previsão mais pessimista chegou a apontar que o dólar termine 2020 cotado a R$ 5,75, e, em 2021, a R$ 7,30.
Já no cenário mais otimista, o dólar fecharia este ano a R$ 4,45 e o ano que vem, em R$ 4,30. “Acreditamos que o caminho final adotado pelo real dependerá crucialmente de o Brasil poder voltar e fortalecer seus esforços de reforma após o auge da atual pandemia”, disseram os economistas Tony Volpon e Fabio Ramos, responsáveis pelo estudo do UBS, em nota.
Considerando que o desempenho comercial do Brasil está caminhando para níveis vistos em 2002 e que o diferencial da taxa de juros segue em baixa, o banco suíço considerou que um “valor justo” para o dólar neste ano seria de R$ 4,60 e de R$ 4,50 para 2021. No cenário-base do estudo, os pesquisadores consideraram que o dólar vá fechar o ano em R$ 4,95.
Entre os principais fatores levados em consideração na análise, estão o tamanho da dívida pública, que já atinge 85% do valor do Produto Interno Bruto (PIB), as incertezas no cenário político, e a remuneração pouco atrativa apresentada a investidores com as mínimas históricas na taxa de juros.
Além disso, as medidas adotadas pelo governo para conter os efeitos da pandemia de coronavírus também podem ser decisivas no mercado de câmbio, de acordo com o relatório. O agravamento da situação fiscal do país também vai pesar na balança, de acordo com a pesquisa, que define como “crucial” a capacidade do governo de aprovar as reformas propostas pela equipe econômica nos resultados do câmbio.
Para Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos, não vai ser difícil a projeção mais pessimista se concretizar. “A gente pode ter o dólar acima de R$ 7, sim. Na sexta, a gente viu ele chegar perto dos R$ 5,80 e por pura especulação. Na minha opinião, o cenário que prevê o dólar em torno de R$ 4,80 é bem otimista, se considerarmos as informações que a gente tem hoje.”
De acordo com ele, a fuga de capital estrangeiro, que já prejudicava o país no ano passado e se intensificou com a crise do coronavírus, é um fator que deve pesar na balança do mercado de câmbio. Os dois principais desafios que o governo precisa encarar com urgência para conter o problema, conforme Beyruti, são a crise política e o rombo fiscal.
“O problema são os gastos acabem ficando no orçamento memso depois da crise. Isso, somado à baixa probabilidade de aprovar as reformas das contas públicas, administrativa e tributária. Num cenário positivo, o governo consegue estabilizar essa dinâmica a partir de 2021. Aí o dólar se contém, ficamos mais próximo dos nossos pares. A questão dos juros ainda deve fazer preço, mas depois que acabar a crise”, afirma o analista.
Instabilidade política e impacto no dólar
Prova de que o fator político é decisivo, para Beyruti, é que na manhã desta segunda-feira (27), o dólar apresentou alívio, também acompanhando o mercado externo, mas olhando para a relação do governo com sua equipe econômica. Após a aparição do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lado do Jair Bolsonaro no pronunciamento de sexta-feira (24), e a reafirmação do presidente sobre a carta branca da equipe econômica para gerir recursos, o mercado, como um todo, reagiu positivamente.
Quem acha difícil prever os rumos do dólar é o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin. “Não existe nenhuma base para falar que o dólar vai chegar em R$ 7,30. Acho curioso essa precisão. É um cenário tão incerto. Afirmar que vai chegar a isso é mero chute”, diz. De acordo com ele, uma projeção como essa é um mero exercício de futurologia, dada a volatilidade do ambiente.
Não é que Rochlin duvide que o dólar possa chegar a tanto. Segundo ele, é possível sim que a moeda bata um valor tão alto quanto ou até maior no próximo ano. O questionamento é sobre o modelo de cálculo, dado o caos político e econômico em meio a pandemia de coronavírus no país e no mundo.
De acordo com o economista, um “efeito manada” deve tomar conta do mercado de câmbio nos próximos meses e o real pode sim sofrer com as especulações, diante de dúvidas dos investidores sobre o equilíbrio fiscal no médio prazo. O desespero, segundo afirma, pode fazer com que os agentes econômicos busquem mais segurança. Mas no meio de tudo isso “tem muito chute”.
Nem sequer a ação do Banco Central (BC) é possível prever, dada a falta de referências históricas. “O que o a gente está vendo é completamente inédito”, diz o economista. Mas uma das atitudes que vêm sendo tomadas pela instituição, na opinião dele, não deve surtir efeito no curto prazo.
Apesar da postura acertada em vender tanto dólares à vista quanto contratos de swap, os cortes sucessivos na taxa básica de juros já não cumprem mais sua função. “Juros para baixo, nesse momento, não vai interferir em nada. Não é isso que vai aumentar o investimento, que vai fazer as famílias gastarem, porque não tem apetite.”
Mas um fator que pode atrair capital para o Brasil, de acordo com a análise de Rochlin, é o preço dos ativos brasileiros denominados em dólar estão muito baratos. “Por mais que exista insegurança, o investidor estrangeiro e até mesmo o brasileiro quem tem posição forte em moeda externa pode ver como oportunidade.”