Em quanto tempo a bolsa se recuperará? Na crise de 2008, demorou 2.307 dias
Bolsa despencou 40% desde o início da crise do coronavírus e dos preços do petróleo. Desde 1994, a média de recuperação dos grandes tombos foi de 444 dias
O tombo do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, continua assustando os investidores. Especialmente aqueles que estrearam nos últimos anos, atraídos pelas altas que pareciam eternas. E é claro que não são. Do dia 23 de janeiro até o último dia 18 de março, a bolsa despencou 44% graças ao avanço da pandemia de coronavírus e a continuação da guerra de preços do barril de petróleo. Os sobes e desces mostram que ainda está difícil visualizar um ambiente tranquilo no futuro. Outras crises, porém, evidenciam que a bolsa pode demorar, mas se recupera com o tempo.
A pedido do CNN Brasil Business, a consultoria Economática fez um levantamento das maiores quedas do Ibovespa ano a ano desde 1994. A metodologia utilizada foi pegar o primeiro dia do início de uma queda acentuada em cada ano. A média de recuperação dessas baixas foi de 444 dias. As maiores pancadas, no entanto, demoraram muito mais.
Como é o caso de 2008, época em que houve a bolha imobiliária nos Estados Unidos. Naquele ano, foi descoberto a crise do subprime, em que os bancos americanos faziam empréstimos hipotecários podres – davam dinheiro para quem não quem conseguiria pagar. Para se livrarem do risco da inadimplência, faziam transferências por meio de derivativos como CDS e CDO para terceiros prometendo retornos substanciais. Pura fraude.
Quando a bolha estourou os mercados também despencaram. No Brasil, também não foi diferente. Segundo levantamento da Economática, o Ibovespa perdeu 60% do seu valor entre maio e outubro daquele ano. Para se ter ideia do tamanho do tombo, a bolsa só conseguiu retomar ao mesmo nível nominal em setembro de 2017 – 2.307 dias depois para ser exato.
A dúvida que fica, agora, é quanto tempo demorará para recuperarmos os 119.000 pontos alcançados em janeiro deste ano. Essa é uma dúvida que nem especialistas e investidores da bolsa se arriscam em responder. Pior: nem mesmo cravam que o fundo do poço chegou.
“Essa crise está bem diferente de 2008, pois é a mais rápida desvalorização da história”, diz Thomaz Fortes, gestor de fundos da corretora Warren. “Olhando para o gráfico, a recuperação não vai ser em “V” e vai ser mais lenta. O pessoal precisará ter sangue frio”
A expressão “crescimento em V” utilizada por Fortes significa que a bolsa teve uma queda acentuada e acelerada, mas a recuperação também aconteceu em uma velocidade rápida. Agora, nem mesmo a intervenção de bancos centrais em todo o mundo está tranquilizando os investidores.
Um exemplo é o que acontece nos Estados Unidos. O índice Dow Jones teve duas das dez maiores quedas diárias da história em 2020. A queda do último dia 16 de março, que foi de 12,93%, foi a terceira maior de todos os tempos, atrás apenas da “segunda-feira negra” de 1987 e do pior dia do “crash” da bolsa de Nova York em 1929, ano de uma das piores crises da história.
Para o economista Pablo Spyer, diretor operacional da corretora coreana Mirae no país, o ponto de inflexão para se pensar no retorno de uma alta mais consistente (e não nos solavancos atuais) é uma vacina. “Estamos navegando em mares nunca navegados. Não me lembro de uma situação como essa.”
Desde 2016, o Ibovespa fechava o ano no azul. Na visão de Spyer, um ajuste seria bem-vindo, até para educar parte do mercado – a bolsa ganhou 1,2 milhão de investidores novatos desde 2018. “Uma queda de 10% até seria saudável, mas 40% é muita coisa. Entramos em uma era dos especuladores e isso não é positivo.”