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    É bolha? Por que bolsas sobem enquanto mundo passa por pior crise da história

    Parte da resposta passa pela vacina, claro, mas esse movimento de alta é anterior à descoberta do imunizador

    Ligia Tuon, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A economia mundial passa pela pior crise de sua história recente, gerada pela pandemia de Covid-19, que começou em meados do começo do ano passado e cujo fim ainda não está claro. Ao contrário. Muito embora algumas vacinas contra o vírus já tenham sido desenvolvidas e dezenas de países já estejam imunizando suas populações, economias voltam a restringir a circulação de pessoas em meio a novos recordes de contaminação.

    O cenário pede cautela, e, ainda assim, as principais bolsas de valores do mundo atingiram recordes de valorização no acumulado de 2020 e seguem em alta neste ano.

     

    A Nasdaq, por exemplo, bolsa americana que reúne as maiores empresas de tecnologia, terminou o ano passado com uma alta acumulada de mais de 40%. Já o S&P, com as 500 maiores companhias, valorizou perto de 16%. No Brasil não foi diferente. O Ibovespa, principal índice da bolsa, terminou 2020 com alta de 3%, sendo que, de novembro para cá, teve um impulso de 25%.

    Vale lembrar que, quando a atual crise começou, o país já passava por uma situação fiscal crítica e ainda não deixou claro aos investidores como irá solucionar essa questão. Por que isso acontece? Estamos diante de uma bolha se formando no mercado financeiro?

     

    Não necessariamente. Apesar de alguns analistas estarem temerosos com a valorização gigantesca de alguns ativos, há diversas explicações para esse movimento.

    Parte da resposta para essa valorização passa pela vacina, claro, já que o mercado financeiro faz suas negociações olhando para o futuro, mas esse movimento de alta é anterior à descoberta do imunizador. O que também ajuda a explicar essa atmosfera positiva no mercado de ações é o excesso de dinheiro no mercado, o custo de oportunidade e o desempenho de empresas que se beneficiaram durante a pandemia. 

     

    Chuva de dinheiro

    Mas não é só o fato de a vacina já ser uma realidade que ajuda esse otimismo. Nos últimos meses, foram despejados trilhões de dólares em incentivos de governos e bancos centrais de todo o mundo. Boa parte dessa dinheirama foi exatamente para as bolsas de valores. Afinal, com taxas de juros tão baixas (inclusive no Brasil), quem quer rentabilidade precisa ir para o mercado financeiro. 

    “Até que haja uma volta à normalidade, existem muitos estímulos econômicos já formatados, que já têm cara, o que não existia há um ano, quando o mercado foi pego de surpresa com o vírus. Agora, já sabemos que a economia vai ter ajuda para se recuperar”, Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos da Geo Capital.

    Para estimular a população a ficar em casa, em meio a políticas de distanciamento social, os países distribuíram dinheiro à população para ajudar suas economias. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente eleito, Joe Biden, acabou de anunciar mais um pacote trilionário para ajudar as famílias e tudo indica que sua política fiscal vai continuar bastante estimulativa.

    Soma-se a isso o fato de o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, deixar claro que vai continuar tolerante com a inflação e manter a taxa de juros praticamente nulas. 

    Custo de oportunidade

    As taxas de juros não ficam perto de zero apenas nos EUA. Bancos centrais do mundo todo baixaram ao máximo seus juros, inclusive o do Brasil, onde a Selic chegou à mínima histórica de 2% ao ano. 

    “Quando investimentos em CDI rendiam um juro de dois dígitos, era muito mais difícil justificar investimento em bolsa. Mas, agora, com juros a 2%, o custo de oportunidade fala mais alto”, explica Siqueira. Nesse sentido, explica ele, os juros americanos são um pilar fundamental na taxa de desconto usada para precificar as ações.

    “O mercado acaba carecendo de ativos de menor risco que tragam rentabilidade plausível. Isso corrobora com o fluxo de capital para as bolsas”, diz Rafael Pononko, analista da Toro Investimentos. 

    Empresas de tecnologia

    Dos principais índices acionários, o que reúne as maiores empresas de tecnologia do mundo foi de longe o grande ganhador do último ano. 

    “Nos EUA, essas empresas se beneficiaram do movimento de digitalização que foi forte durante o isolamento na pandemia, por exemplo”, explica Siqueira. Além de terem tido um bom desempenho, as ações das grandes empresas de tecnologia têm um peso enorme na bolsa americana, vale ressaltar.

    Para se ter uma ideia, juntas, Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet, a dona do Google, Facebook e Tesla valem mais de US$ 8,1 trilhões, correspondendo a quase 25% do valor de mercado total das empresas do S&P. Se esse grupo vai bem, a impressão é de que todos vão.

    Essa alta vai continuar?

    “A gente consegue ver alguns motivos para o nível de pressão que as bolsas estão, mas não necessariamente quer dizer que elas deveriam estar nesse preço”, diz Siqueira.

    Uma hora, diz o analista, os juros vão ter de se ajustar e a política fiscal vai ter de dar um passo para trás, por conta do aumento de forças inflacionárias. 

    “Esses focos deverão ser combatidos com política monetária ou fiscal. Qual é a ordem que isso vai vir, é muito difícil responder, já que a economia continua em dificuldades”, diz. 

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