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    Concorrente da Nasdaq, Nyse quer atrair empresas de tech –inclusive brasileiras

    Em entrevista à CNN, Alex Ibrahim, da Bolsa de Nova York, falou da busca pelas companhias de tecnologia e da alta na procura por companhias do Brasil

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Com as primeiras negociações que levaram à sua origem tendo sido feitas ainda em 1790, na mesma Wall Street onde está hoje, a Bolsa de Nova York, ou Nyse, na sigla em inglês, tem um tanto mais de história para contar do que a sua grande concorrente, a Nasdaq, a outra grande bolsa de valores dos Estados Unidos, fundada também em Nova York quase 200 anos mais tarde, em 1971. 

    É a Nasdaq, porém, que tem ganhado os holofotes nos últimos anos. Ela é conhecida por concentrar ações de tecnologia e ser a casa de algumas das empresas mais valiosas de hoje, como Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Facebook, Microsoft e Tesla. 

    Inserida em um mercado onde, diferente do brasileiro, existe concorrência nas bolsas de valores, a Nyse está atenta ao movimento. A bolsa bicentenária, que é a casa das ações do Twitter e do LinkedIn, tem feito esforços no sentido de também se mostrar para o mercado como uma bolsa de tecnologia e, claro, abocanhar o máximo que puder na disputa pela avalanche de IPOs que está acontecendo neste e em outros setores. 

    “Eu acredito que a narrativa está mudando, e vamos começar a ver uma movimentação de empresas de tecnologia indo para a Bolsa de Nova York”, disse Alex Ibrahim, chefe de mercados internacionais da Nyse, em entrevista ao CNN Brasil Business. Uma das principais tarefas de Ibrahim é rodar os cinco continentes (hoje virtualmente) prospectando empresas de fora dos Estados Unidos interessadas em engrossar a lista de mais de 2.000 empresas negociadas da Bolsa de Nova York. 

    Isso pode ser por meio de IPOs, que é a sigla inglês para “oferta inicial de ação”, quando a companhia abre seu capital pela primeira vez em um bolsa de valores, ou também por meio de ADRs (sigla em inglês para Recibos Depositários Americanos), títulos que representam ações de outros países nas bolsas norte-americanas. Petrobras, Vale, Itaú Unibanco e Ambev são algumas que têm ADRs na Nyse e estão entre os papéis mais movimentados do pregão novaiorquino diariamente. 

    Na conversa, Ibrahim falou sobre a relevância do setor de tecnologia dentro da Nyse, dos volumes recordes de IPOs em meio a um mundo de pandemia e de juros baixíssimos e também sobre a movimentada procura de companhias brasileiras –incluindo, claro, muitas de tecnologia– interessadas em lançar seus papéis em Wall Street em breve. Confira a entrevista abaixo.

    Qual é o seu balanço sobre os mercados acionários neste conturbado primeiro ano de crise e pandemia? 

    O ano de 2020, como todos sabemos, foi ruim para o mundo inteiro. Mas o mercado se mostrou resiliente e, pouco a pouco, começamos a ver os IPOs voltando. Setembro e outubro foram os dois meses mais movimentados de que se tem notícia no mercado de capitais americano, e 2021 começou com a mesma força. E, quando olhamos o tipo de empresas que estão chegando ao mercado, são empresas de tecnologia. Há algumas semanas, listamos o maior IPO deste ano, da Cuopang, uma empresa de tecnologia sul-coreana que levantou quase US$ 5 bilhões na Nyse. Há poucos dias abrimos a Zhihu, da China, também de tecnologia, que captou perto de US$ 600 milhões. Estamos em conversa com algumas empresas brasileiras do setor de tecnologia também. 

    A presença das empresas de tecnologia tem sido muito forte no mercado de capitais, e é inevitável o destaque que a Nasdaq ganhou com isso nos últimos anos. O que a Nyse tem feito para buscar seu posicionamento neste setor?

    Fechamos 2020 como a bolsa número um do mundo, de longe, em captação de IPOs e follow ons [ofertas subsequentes de ação, feita por empresas que já têm capital aberto]. Nos últimos cinco anos, 72% dos IPOs feitos no mercado norte-americano foram feitos na Nyse. Das sete maiores empresas de tecnologia que fizeram IPO nos Estados Unidos nos últimos 12 meses, cinco foram na Nyse. Isso está cementando a nossa posição de líder no setor de tecnologia. É um entendimento que já é bem claro no mercado americano, e eu espero que essa visão seja desmitificada no Brasil também.

    Muitas empresas brasileiras abriram capital nos Estados Unidos em 2018 e 2019, principalmente. Boa parte delas foi para a Nasdaq, caso da XP, da Stone e dos grupos de educação Afya, Arco Educação e Vasta. Em 2020, o número de IPOs voltou a crescer com força na bolsa brasileira, enquanto menos empresas optaram por abrir capital no exterior. Com está a procura das empresas brasileiras pela Nyse hoje?

    A Nyse sempre teve uma penetração muito boa no setor de tecnologia brasileiro. Atento, Netshoes, Decolar e PagSeguro são algumas que listaram com a gente. Nos últimos anos, como nosso mercado é um duopólio, nosso competidor conseguiu pegar algumas companhias de tecnologia, por várias razões. Mas eu acredito que as empresas estão reconhecendo o valor de estar na Nyse, e o nosso engajamento com o setor de tecnologia brasileiro tem crescido muito. Os pares globais das companhias de tecnologia estão na Bolsa de Nova York. Uma das maiores empresas de entrega de comida, a DoorDash, está na Nyse. A Amazon da Coreia do Sul [a Coupang] está na Nyse. As maiores fintechs listadas nos Estados Unidos estão na Nyse. Eu acredito que a narrativa está mudando, e vamos começar a ver uma movimentação de empresas de tecnologia para a Bolsa de Nova York. 

    Como está a procura das empresas brasileiras por novos IPOs, follow ons e listagem de ADRs na Nyse hoje? O que podemos esperar para os próximos meses?

    O interesse das companhias brasileiras de tecnologia tem crescido bastantes. As conversas nos últimos seis meses têm aumentado muito sobre potenciais IPOs aqui. Também estamos conversando com empresas grandes listadas na B3, que têm perfil mais global e que podem criar um mecanismo de ADR na Bolsa de Nova York.

    Os benefícios para as empresas estrangeiras de estar nas bolsas dos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, são muitos. Qual é, por outro lado, o interesse do investidor estrangeiro pelas empresas brasileiras, e por que mais delas estejam listadas no mercado americano?

    As ações brasileiras aqui têm alta liquidez e níveis de negociação enormes; são vistas como um mercado muito vibrante. O Brasil tem hoje 31 empresas na Nyse e é o quarto país com maior representação na nossa bolsa, atrás do Canadá, China e Reino Unido. Mas, em termos de volume diário negociado, é o número um, depois dos Estados Unidos. Vale, Petrobras, Bradesco, PagSeguro são algumas das empresas que estão conosco e que são altamente líquidas. Elas estão entre as 25 mais negociadas diariamente na Bolsa de Nova York. O mercado americano é muito atraído pelo Brasil, e mais ainda no setor de tecnologia. É um país que tem uma população jovem, usando celular para tudo, com muito empreendedorismo. Os investidores querem poder fazer parte dessa nova onda de empresas que estão saindo do Brasil. 

    O Brasil tem atualmente alguns dos piores números da pandemia de coronavírus no mundo, além de passar por desequilíbrios fiscais e políticos. Como essa situação influencia a visão do investidor estrangeiro sobre o Brasil hoje? 

    Vai ser interessante observar como será o desempenho do próximo IPO que acontecer no Brasil, para ver que tipo de demanda ele terá com essa crise por trás. Será um grande indicador de como o mercado está vendo o país agora. Mas a liquidez continua forte, com volumes ainda muito altos de negociação tanto na B3 quanto aqui em Nova York. 

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