Após dia de caos, bolsa sobe e dólar tem maior queda em 6 meses
Ibovespa teve a maior alta desde 2009 e moeda norte-americana voltou ao patamar de R$ 4,64 após atingir R$ 4,80
O Ibovespa teve nesta terça-feira (10) a maior alta diária desde 2009, recuperando parte das perdas da véspera, quando tombou mais de 12% e teve o pior dia em mais de duas décadas. A melhora neste pregão foi apoiada em correções técnicas e expectativas de ações coordenadas de autoridades no mundo todo para proteger as economias dos efeitos do surto de coronavírus.
No mercado de câmbio, o dólar sofreu nesta terça a maior queda diária em seis meses, voltando à casa de R$ 4,64 diante de uma combinação de alívio externo e também de atuação do Banco Central. Na véspera a cotação flertou com a marca de R$ 4,80 e atingiu novo recorde histórico.
As ações da Petrobras também mostraram melhora, após tombo de quase 30% na véspera, mas foram os papéis da Vale que se destacaram, com salto de mais de 18%.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 7,14%, a 92.214,47 pontos, na máxima da sessão, maior alta percentual diária para fechamento desde 2 de janeiro de 2009. O giro financeiro somou R$ 39,6 bilhões.
Na véspera, o Ibovespa fechou com queda de 12,17%, no pior dia na bolsa em mais de duas décadas, marcado por circuit breaker, conforme decisões da Arábia Saudita derrubaram os preços do petróleo e adicionaram preocupações a um mercado já fragilizado pelo surto do coronavírus.
Na segunda à noite, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que tomará importantes medidas para proteger a economia do país contra impactos da disseminação do coronavírus. O governo do Japão afirmou que planeja gastar mais de US$ 4 bilhões em um segundo pacote de ações para lidar com o vírus.
Agentes financeiros também estão na expectativa da reunião de política monetária do Federal Reserve, na próxima semana, com grande parte apostando que o banco central voltará a cortar o custo do dinheiro nos EUA, em um esforço para apoiar a economia contra crescentes incertezas globais.
“A perspectiva de maiores gastos do governo está ajudando investidores a ignorar a ampliação nas medidas de contenção que reduzirão a atividade econômica”, destacou o analista Jasper Lawler, chefe de pesquisa no London Capital Group, destacando entre as medidas as restrições de deslocamento na Itália.
Em Wall Street, o S&P 500 fechou em alta de 4,9%.
Os preços do petróleo avançaram nesta terça-feira, com o Brent fechando em alta de 8,3%, a US$ 37,22 o barril, após registrar a maior queda em quase 30 anos na véspera, diante da possibilidade de estímulos econômicos e sinais da Rússia de que conversas com a Opep seguem possíveis.
Mas profissionais do mercado alertam que o cenário ainda é bastante incerto e a volatilidade tende a seguir elevada.
“Investidores continuam avaliando os riscos que surgiram, incluindo o surto do coronavírus, a forte queda nos preços do petróleo, as pressões no mercado de crédito e uma reação morna à surpresa positiva da política monetária da semana passada”, afirmou o Goldman Sachs em nota a clientes.
Destaques da bolsa
Vale saltou 18,45%, na esteira da alta dos preços do minério de ferro na China e melhora dos mercados no exterior, em meio a expectativas de estímulos econômicos no mundo, mais do que recuperando o valor de mercado perdido na véspera, com ganho de R$ 36,9 bilhões.
O papel preferencial da Petrobras subiu 9,41% e o ordinário avançou 8,51%, um dia após queda histórica, com perda de R$ 91 bilhões em valor de mercado. A recuperação foi apoiada na trégua do nervosismo no cenário externo, além de alta dos preços do petróleo, após declínios expressivos na véspera.
Via Varejo fechou com elevação de 21,29%, também recuperando-se de recuos significativos nos últimos pregões, seguida pela rival Magazine Luiza, em alta de 16,43%. B2W subiu 11,51%.
As preferenciais da Gol e da Azul valorizavam-se 12,71% e 5,41%, respectivamente, após o dólar sofrer a maior queda diária em seis meses, voltando à casa de R$ 4,64. CVC subiu 11,59%.
A Ambev caiu 1,7%, entre as poucas baixas da sessão, após anúncio de investimentos noticiado na véspera, quando também a rival Heineken divulgou plano de expansão de capacidade no país, com investimento de R$ 865 milhões a ser feito no Paraná. O Itaú BBA chamou a atenção para o fato de que papéis considerados muito defensivos, como Ambev, podem ser afetados se o surto de coronavírus prejudicar a demanda base.
Dólar recua
O dólar à vista encerrou esta terça em baixa de 1,69%, a R$ 4,6457 na venda, maior baixa diária desde 4 de setembro de 2019 (-1,79%).
A queda da cotação reflete ajuste depois do caos da véspera, quando a moeda chegou a alcançar a cotação de R$ 4,80, e também alívio nos mercados mundiais diante das negociações entre autoridades de governos de vários países sobre pacotes de ajuda econômica.
As moedas emergentes, contudo, mostravam desempenho misto, e o real encabeçou a lista de melhor desempenho entre 33 rivais do dólar na sessão.
A venda de mais US$ 2 bilhões em moeda à vista pelo Banco Central, combinada com a percepção de que o BC pode estar menos confortável para cortar juros na reunião da próxima semana, ajudaram a divisa brasileira a se destacar positivamente nesta terça.
A discussão sobre mais reduções da Selic segue no radar do mercado, já que novo afrouxamento monetário poderia reduzir mais o diferencial de retornos entre a renda fixa brasileira e a de outros países emergentes, o que jogaria contra um fluxo cambial que já está negativo no ano depois de saída líquida recorde em 2019.
Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset, lembra que o real tem se comportado pior que seus pares emergentes desde o último corte de juros pelo Copom (5 de fevereiro), enquanto a curva longa de juros tem caído menos que a parte intermediária.
“Um corte, ainda mais de 75 pontos-base, provavelmente faria a curva empinar ainda mais e manteria o real insistentemente fraco”, disse.
O Copom volta a se reunir em 17 e 18 de março.
Na véspera, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que o câmbio passou a ser o “canal mais relevante de transmissão de política monetária”, reflexo da queda dos diferenciais de juros.
Dado que o real está entre as moedas que mais se depreciam neste ano, a declaração de Serra foi entendida como uma indicação de que o BC está cauteloso com os efeitos da desvalorização cambial sobre a inflação.