Insuficiência Cardíaca gera perda anual de R$ 6 bi para economia do país, diz estudo
Dados demonstram que doença crônica atinge mais de dois milhões de brasileiros, sendo mais da metade em idade produtiva
Um levantamento inédito feito pela pelo Centro de Inovação SESI em Saúde Ocupacional estima que a economia brasileira perde, por ano, R$ 6 bilhões em decorrência da redução da produtividade da população em idade ativa provocada pela insuficiência cardíaca, uma doença crônica que atinge mais de 20% dos brasileiros.
O estudo será entregue nesta quinta-feira (4) ao ministro da saúde Marcelo Queiroga.
O cálculo levou em conta as despesas relacionadas ao benefício previdenciário concedido aos trabalhadores afastados, somado aos custos com a reposição salarial ou hora extra pagos a terceiros e a perda de produtividade, que tem como base o valor médio agregado por indivíduo (PIB per capita).
O estudo analisou 41,7 milhões de registros do banco de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e outros 35,9 milhões de entradas no sistema previdenciário (DataPrev).
A série histórica avaliada teve início em janeiro de 2018 e junho de 2021.
Nos últimos quatro anos, a enfermidade gerou um gasto de R$ 1,4 bilhão em hospitalizações para o Sistema Único de Saúde, nos últimos quatro anos, e levou à morte 77.290 pessoas, quase metade delas (47%) na região Sudeste, segundo a pesquisa.
De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são as principais causas de internação e de mortes no Brasil.
A pasta estima que mais de dois milhões de brasileiros sofram com a patologia.
Caracterizada por uma progressiva perda da capacidade de bombear sangue do coração, se descuidada, a doença pode levar à incapacidade a longo prazo, além de comorbidades, altas taxas de internações e uma redução global da expectativa de vida.
No contexto do sistema de seguridade social nacional, a insuficiência cardíaca (IC) é uma preocupação, pois os pacientes tendem a depender do benefício previdenciário cada vez mais, conforme a doença progride ao longo do tempo.
De acordo com o estudo, considerando a população total dos estados de São Paulo e Minas Gerais, se gasta aproximadamente R$ 1,47 e R$ 1,11 por pessoa, respectivamente, por mês, com pagamento de benefícios.
Tendo em vista que nem todos os habitantes que contribuem para o sistema de seguridade social em uma determinada população, é marcante o impacto da doença sobre os contribuintes, afirma o estudo.
Atualmente, 929 mil brasileiros recebem benefícios previdenciários por causa da IC.
A cada 100 benefícios, 84 são de duração indeterminada, isto é, aposentadorias e outros benefícios como pensões previdenciárias.
Os outros 16 beneficiários correspondem a benefícios temporários.
O que indica que a maior parte dos beneficiários do sistema de seguridade social estão deixando a força de trabalho permanentemente.
Minas Gerais é o estado com maior número de beneficiários, seguido de Bahia e DF.
Quanto aos óbitos provocados pela doença, o levantamento aponta que os estados com maior mortalidade por Insuficiência Cardíaca são o que tem maior presença de hospitais especializados e, portanto, sobrecarga de pacientes.
O coordenador da pesquisa Leon Nascimento explica que essa disparidade regional é fruto da distribuição desigual tanto dos centros especializados no tratamento de doenças do coração, quanto do número de cardiologistas.
Nesse aspecto, o estado do Rio de Janeiro, que possui uma rede com seis hospitais federais, entre eles o Instituto Nacional do Coração, se destaca com o maior número de óbitos por internação no país, com aproximadamente 8% dos registros.
“As regiões com maior número de unidades especializadas acabam absorvendo os casos mais graves e complexos de outros estados, como é o caso do Rio e de São Paulo.
Além disso, esses estados também funcionam como polos de formação de cardiologistas. Quando você vai para as regiões Norte e Nordeste percebe o quanto eles estão desamparados de profissionais especializados para tratar essa doença”.
Os estados do Norte e Nordeste concentram o menor número de médicos por Unidade da Federação (UF), segundo o levantamento, e por isso, se destacam com maior número de óbitos, principalmente os estados do Maranhão, Pará e Amapá.
O documento ressalta ainda o baixo investimento no setor de saúde, o atendimento inadequado nos serviços de atendimento na rede de atenção básica, a falta de acompanhamento durante o percurso da doença, os altos custos diretos de tratamento e custos indiretos para o sistema de saúde.
Procurado pela CNN, o Ministério da Saúde informou que, reconhecendo as doenças cardiovasculares como um significativo problema de saúde pública, tem investido recursos para garantir a detecção precoce, o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento de condições como a Insuficiência Cardíaca e seus fatores de risco no âmbito da Atenção Primária à Saúde.
“Com a implementação do Programa Médicos Pelo Brasil, mais médicos qualificados estão sendo direcionados às regiões mais vulneráveis e, com o Programa Previne Brasil, modelo de cofinanciamento federal da Atenção Primária, maior atenção tem sido dada ao acompanhamento e seguimento longitudinal das pessoas com condições crônicas. Por fim, o Ministério da Saúde ressalta que o financiamento e a gestão dos atendimentos do Sistema Único de Saúde perpassam pelos estados e municípios, ficando a cargo dos municípios a gestão direta das equipes e Unidades Básicas de Saúde.”
Para o médico Alexandre Carloni, coordenador de Produto Medicina da Firjan SESI, a enfermidade deve ser abordada de forma multidisciplinar, envolvendo não somente os pacientes, mas também a família, os cuidadores e gestores de saúde, para minimizar os impactos da síndrome.
“Os desafios para a promoção da saúde envolvem: acompanhar o paciente, adesão à terapia, acesso ao cardiologista, incentivar o autocuidado e conhecer melhor a doença” afirma o médico.
Segundo dados do Ministério, em 2021, foram registrados mais de 167 mil atendimentos de pessoas com Insuficiência Cardíaca (IC) na rede de atenção primária à saúde. Em 2022, até o mês de abril, foram registrados mais de 59 mil atendimentos.
Sinais e sintomas
A insuficiência cardíaca é um problema de saúde crônico que ocorre quando o coração se torna incapaz de bombear o sangue de forma adequada para os outros órgãos do corpo.
Essa condição pode impactar na função pulmonar, renal e hepática.
É uma síndrome complexa, que muitas vezes se desenvolve a partir de outras condições crônicas.Entre os principais sinais e sintomas, estão:
- Fadiga;
- Edema de membros inferiores (inchaço nas pernas);
- Dispnéia (dificuldade para respirar);
- Ortopnéia (dificuldade para respirar deitado);
- Intolerância ao exercício físico.
Outros sintomas também podem ser evidenciados, como tosse durante a noite, perda de apetite, inchaço e dor abdominal, ganho de peso ou perda de peso acentuada ao longo dos meses.
Diagnóstico e tratamento
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência para a pessoa com insuficiência cardíaca, incluindo ações de prevenção e controle, diagnóstico, oferta de medicamentos específicos, orientações e acompanhamento para uma vida mais adequada e saudável.
O tratamento envolve cuidados diários, controle dos fatores de risco e a utilização correta das medicações, conforme orientação da equipe de saúde.