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    Inflação faz juro ficar negativo e ter pior rendimento do milênio – e vai piorar

    Enquanto os preços subiram 4,3% em 12 meses até novembro, o CDI pagou 3%; é a primeira vez que o retorno real anual fica no vermelho

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Banco Central decidiu mais uma vez neste mês por manter o piso dos juros do país, a taxa Selic, em 2% ao ano. O problema é que a inflação continuou subindo – em novembro, a alta foi de 4,3% em 12 meses

    Os números deixam claro que o aumento dos preços já passou com folga os rendimentos de quem investiu em alguma aplicação que remunere o mesmo que a Selic ou menos. Isso significa que esse investimento até rendeu um pouco, mas o que perdeu de valor por conta do avanço de preços foi maior.

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    É o que aconteceu com aplicações como a poupança, o Tesouro Selic, fundos DI e CDBs, LCAs e LCIs que remuneram até 100% do CDI. O CDI é uma taxa usada pelos bancos que é praticamente igual à Selic, ou seja, está próxima dos 2% ao ano atualmente também.

    E o pior: a perspectiva é de que os juros básicos continuarão nesse nível ainda por algum tempo, o que significa que o rendimento de boa parte da renda fixa deve continuar perdendo para a inflação ao longo de 2021 inteiro, pelo menos.

    Essa variação já foi negativa em alguns outros momentos espalhados pelo passado, consideradas apenas as altas mensais dos juros e dos preços. Nos meses seguintes, porém, o jogo logo se invertia de novo e o saldo do ano sempre acabava positivo para os investidores.

    Esta é a primeira vez, porém, que os juros ficam negativos ao fim de um ano inteiro. E não foi pouco negativo. Até novembro, o rendimento do CDI em 12 meses foi de 3%, enquanto a inflação chegou nos 4,3%. A perda real, com isso, é de 1,3%. 

    É o pior desempenho desde pelo menos 2001, de acordo com cálculos feitos pelo coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, Michael Viriato. 

    Consideradas as variações mensais, o CDI já está perdendo para a inflação há seis meses seguidos, também o maior período sem ganhos reais mensais nessas duas décadas. Em novembro, o CDI rendeu 0,15%, enquanto a inflação foi 0,9%. 

    Ainda há luz na renda fixa

    Apesar do prognóstico desolador para os rendimentos, especialistas reforçam que existe muita vida na renda fixa para além da Selic e do CDI básicos. 

    “Aqui, estamos falando de apenas um tipo de investimento específico, que são os títulos de renda fixa de curto prazo, alta liquidez e baixo risco”, disse Viriato, do Insper, mencionando os clássicos como a poupança e o Tesouro Selic, único título do Tesouro Direto que remunera exatamente a Selic. 

    “Para ganhar mais, a pessoa vai ter que planejar um pouco melhor. Imagina se ela guarda o dinheiro da aposentadoria em títulos que pagam só a Selic ou o CDI? Quando chegar lá já não vai valer mais nada.”

    É possível encontrar títulos públicos, de bancos (CDBs, LCAs e LCIs) e também emitidos por empresas, caso das debêntures, pagando mais. 

    Um dos principais segredos passa por aplicar em títulos com prazos de investimentos mais longos, o que, por outro lado, exige melhor programação, já que o resgate antes da data final pode não ser possível ou implicar em perdas.

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    Ações para todos, mesmo que pouco

    Valter Police, planejador fiduciário da gestora de investimentos Fiduc, reforça a necessidade cada vez maior de diversificar a carteira para além da renda fixa. 

    Ele menciona alternativas como ações, fundos multimercados, fundos imobiliários e também investimentos no exterior. São opções que vão ocupar um espaço maior ou menor no portfólio ao lado da renda fixa de acordo com o perfil e objetivos de cada um. 

    “A gente não recomenda para nenhum cliente ter 100% em renda fixa, mesmo os mais conservadores. A única exceção é quando a pessoa só tem o dinheiro da reserva de emergência”, disse. 

    “É claro que para aqueles com perfil superconservador, estamos falando de um pedaço bem pequeno em renda variável, de 3% ou 4%.”

    Reserva de emergência negativa

    A única fronteira que fica sem muita opção de rendimentos melhores em um Brasil onde os juros básicos seguirão menores do que a inflação é o investimento que compõe a reserva de emergência. 

    Trata-se do dinheiro que tem sempre que estar fácil à mão para imprevistos e necessidades do dia a dia. Neste caso, é difícil fugir das opções mais básicas e menos rentáveis como o Tesouro Selic, a poupança, fundos DI e CDBs com resgate diário, que pelo menos dão a facilidade de sacar o dinheiro a qualquer momento sem perdas.

    “A reserva não tem jeito, ela não vai render muito e pode até tirar algo de você, por conta da inflação”, disse Police. 

    “E isso, na verdade, não tem importância. O papel dela não é fazer o patrimônio crescer, é estar em um lugar seguro e disponível para que você possa usar. Os investimentos relevantes serão aqueles feitos com o restante do dinheiro, visando o médio e longo prazo.”

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