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    Vamos ter que discutir com os bancos como baratear o crédito, diz Lula sobre regulamentação de apps; veja principais pontos

    Projeto de lei foi assinado nesta segunda-feira (4) e será encaminhado para o Congresso Nacional

    Amanda SampaioManoela Carluccida CNN

    em São Paulo

    Após assinar o projeto de lei (PL) que regulamenta o trabalho dos motoristas de aplicativos nesta segunda-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo federal passará a ter a responsabilidade de encaminhar algumas pautas da categoria, inclusive a de baratear a linha de financiamento de automóveis.

    “Eu acho que daqui a pouco a gente vai ter que pensar como que a gente vai fazer, discutir com os bancos como a gente vai fazer para baratear a linha de financiamento pra vocês poderem trocar o carro de vocês e não ficarem andando com carro velho, porque o passageiro também não gosta de ficar andando de carro velho”, afirmou durante cerimônia.

    O presidente pontuou que a regulamentação cria “uma nova organização de trabalho”.

    “O que estamos fazendo aqui é uma lição… Por isso que disse que hoje é muito importante. É que eu não sei se vocês perceberam, mas vocês acabaram de criar uma nova modalidade no mundo do trabalho. Acabaram de criar. Uma nova criança foi parida”, acrescentou.

    Lula disse ainda que o governo federal irá fazer “o máximo possível” para que a pauta seja aprovada no Congresso Nacional e destacou que será necessário que a categoria dialogue com as bancadas.

    “Espero que vocês saibam que vão ter que trabalhar com os deputados e começam a trabalhar assim: cada bancada tem um líder. Então é preciso começar a procurar esse líder para conversar… da parte do governo a gente vai tentar fazer o máximo possível para ser aprovado o mais rápido possível, mas é importante saber que vai aparecer gente contra”.

    Ao fim do discurso, Lula enfatizou que também tentará negociar uma regulamentação para os motoristas de aplicativos de entrega, com o iFood.

    “Sei que o dono do iFood é da Bahia e não quer negociar, pois nós vamos encher tanto o saco que eles vão ter que negociar para fazer aquilo que vocês fizeram junto ao transporte”, concluiu.

    Regulamentação

    Em um resumo do PL de aplicativos obtido pela CNN, o governo impõe às empresas o dever de adotar “medidas para prevenir abusos aos direitos dos trabalhadores”. De acordo com o documento, os aplicativos devem seguir seis princípios:

    • Transparência;
    • Redução dos riscos inerentes ao trabalho;
    • Eliminação de todas as formas de discriminação, violência e assédio no trabalho;
    • Direito à organização sindical, à sindicalização e à negociação coletiva;
    • Abolição do trabalho infantil;
    • Eliminação do trabalho análogo ao escravo.

    O PL vai reconhecer como “trabalhador autônomo por plataforma” os motoristas que prestam serviço de transporte remunerado por intermediação de um aplicativo e usando veículos de quatro rodas.

    Os motoristas não poderão ficar conectados à mesma plataforma por mais de 12h no dia e terão uma remuneração mínima estabelecida.

    Remuneração

    O projeto vai assegurar que o pagamento mínimo que o motorista está sujeito seja proporcional ao salário-mínimo, – atualmente em R$ 1.412 – além de a empresa ter de ressarcir os custos incorridos pelo trabalhador na prestação do serviço.

    O trabalhador terá uma remuneração de R$ 32,10 a hora. Contudo, entra na conta somente o período entre a aceitação da viagem pelo motorista e a chegada ao destino.

    Do total, R$ 24,07 são para cobrir os custos do motorista, e R$ 8,03 pelo serviço.

    O PL vai impedir que as empresas limitem as viagens do trabalhador que atingir a remuneração mínima.

    Os valores serão reajustados mediante valorização do salário-mínimo.

    Caso o valor recebido pelas horas trabalhadas seja menor ao salário-hora estabelecido, as empresas devem avaliar e realizar o repasse, complementando a diferença.

    Para garantir a transparência entre empresa e empregado, o PL define que o motorista terá acesso a um relatório mensal.

    Nele serão dispostas informações sobre os critérios que compõem o valor de sua remuneração, como:

    • Soma do tempo trabalhado;
    • Remuneração total;
    • Remuneração específica dos serviços realizados em horários de alta demanda;
    • Valor médio da hora trabalhada;
    • Sua comparação com a remuneração mínima.

    Também serão disponibilizados dados sobre o critérios de oferta de viagens, pontuação, bloqueio, suspensão e exclusão da plataforma.

    INSS

    O documento obtido pela CNN aponta que serão estabelecidas regras para a contribuição do motorista de aplicativo.

    O trabalhador será considerado contribuinte individual do INSS e a contribuição terá uma alíquota de 7,5% sobre o salário-de-contribuição. O desconto da contribuição será pela empresa operadora de aplicativo.

    O PL define a receita da Seguridade Social da empresa a uma contribuição com alíquota de 20%.

    Sindicalização

    Os motoristas poderão ser representados por sindicatos da categoria “motorista de aplicativo de veículo de quatro rodas”. Dentre suas atribuições estão:

    • Negociação coletiva;
    • Celebração de acordo ou convenção coletiva;
    • Representação coletiva dos trabalhadores ou das empresas nas demandas judiciais e extrajudiciais de interesse da categoria.

    Já os aplicativos poderão ser representados por entidade sindical da categoria econômica específica.

    Empresas

    Por fim, o PL também vai determinar diretrizes para as empresas. Elas terão direito de:

    • Adotar normas e medidas para garantir a segurança da plataforma, dos trabalhadores e dos usuários, para coibir fraudes, abusos ou mau uso da plataforma, observadas as regras previamente estipuladas;
    • Adotar normas e medidas para manter a qualidade dos serviços prestados, inclusive suspensões, bloqueios e exclusões, observadas as regras previamente estipuladas;
    • Utilizar de sistemas de acompanhamento em tempo real da execução dos serviços e dos trajetos realizados; de sistemas de avaliação de trabalhadores e de usuários;
    • Ofertar cursos ou treinamentos, benefícios e incentivos aos trabalhadores, de natureza monetária ou não, ainda que de caráter continuado.

    As exclusões de motoristas só poderão ser realizadas pelo aplicativo em casos de fraudes, abusos ou mau uso da plataforma, garantido o direito de defesa, conforme regras estabelecidas.​

    A CNN entrou em contato com a Uber, a 99 e a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), mas ainda não obteve respostas.