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    Saiba o que é a Síndrome de Charmin e como ela afeta os seus investimentos

    Conceito criado por Peter Lynch em 1989 é trazido aos dias atuais em meio à entrada de novas pessoas na bolsa de valores e mais conhecimento disponível para os novos investidores

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business , em São Paulo

    Algumas pessoas começam a investir sem muito conhecimento sobre o ativo que está adquirindo ou onde está deixando o dinheiro render. Por outro lado, essas mesmas pessoas acabam pesquisando e comparando produtos antes de fazer uma compra básica, como uma geladeira ou um smartphone. Esta dicotomia é chamada “Síndrome de Charmin”, conceito por Peter Lynch, gestor do maior fundo de ações da história.

    A ideia foi exposta por Lynch em seu livro “One Up On Wall Street”, publicado pela primeira vez em 1989, mas pode ser relacionada aos dias atuais, em que cada vez mais pessoas físicas entram na bolsa de valores e buscam investimentos para alocar o capital.

    De acordo com dados da B3, houve a entrada de 1,25 milhão de novos investidores na bolsa brasileira entre julho de 2021 e junho de 2022, o que fez a quantidade de CPFs saltar 40%, de 3,15 milhões para 4,40 milhões de pessoas.

    Robertha Rodrigues, analista financeira de 29 anos, contou ao CNN Brasil Business que era um dos casos que pode ser considerado um exemplo dentro da Síndrome de Charmin, mas buscou conhecimento no começo deste ano para não correr mais riscos de ver seus negócios frustrados.

    “Eu comecei a investir na faculdade, em renda fixa. Até então não tinha mui conhecimento sobre investimentos e pouco dinheiro. Desde então eu sempre reservei e poupei meu dinheiro, mas com o pensamento de que investiria na Selic até parar um dia para pesquisar um ativo melhor de renda variável”, disse.

    “No início deste ano, eu fiz um curso para entender melhor todas as nossas opções, até para poder ajudar mais pessoas ao meu redor. Isso mudou muito a minha mentalidade. Geralmente temos na cabeça que para investir precisamos ter muito dinheiro, mas comecei a entender a realidade e as possibilidades de investir e fazer o dinheiro render sem que tenhamos valores exorbitantes”, acrescentou.

    A jovem afirmou que pretende continuar estudando para ampliar seu conhecimento sobre finanças, ressaltando ser mais fácil encontrar nos dias atuais conteúdos online e produtos que vão ajudar na compreensão do sistema financeiro.

    “É sempre importante estudar. Hoje, temos a tecnologia a nosso favor, então não precisamos necessariamente fazer um curso pago, existe muita coisa de graça que fornece conhecimento. Mas claro que se a pessoa puder desembolsar parte do dinheiro para os estudos, um curso pago tem muito a agregar”, declarou.

    Síndrome de Charmin

    Peter Lynch usa como exemplo para explicar o conceito criado um personagem fictício chamado “Sr. Houndsteeth”. Trata-se de um consumidor extremamente dedicado em fazer estudos e comparações com as compras básicas que se propõe a realizar.

    No entanto, ao escolher empresas onde irá investir seu dinheiro – que conseguiu guardar justamente diante de tanta atenção em tudo o que consumia – o Sr. Houndsteeth deixa todo o esforço de lado.

    Já a nomenclatura “Charmin”, exposta ao conceito, faz referência a uma marca de papel higiênico da Procter and Gamble (P&G). Pode melhor entendimento de sua criação, Lynch utiliza a marca de produtos higiênicos para destacar a dicotomia de seu personagem.

    No exemplo do autor, o Sr. Houndsteeth passa horas lendo artigos a respeito das características das melhores marcas de papéis higiênicos antes de decidir qual irá comprar, mas no momento de investir na P&G, empresa fabricante da Charmin, ele não demonstra o mesmo empenho nos estudos dos relatórios liberados pela companhia.

    Como afeta os investimentos

    Ao CNN Brasil Business, a Rico Investimentos destacou alguns pontos que devem ser considerados na hora das decisões financeiras. Um dos principais assuntos que devem ser estudados quando se inicia a caminhada pelo mundo dos investimentos é a volatilidade das aplicações.

    “Para deixar todo mundo na mesma página, a volatilidade nada mais é que a variação no preço de um ativos em relação a sua média em determinado período, podendo subir e descer ao longo desse tempo”, explicou a corretora.

    “Essas mudanças são mais fáceis de perceber quando se investe em ações ou fundos imobiliários, por exemplo, pois esses ativos vão mudando de preço diariamente conforme os movimentos de mercado refletidos na bolsa de valores”.

    A Rico destacou que muitos investidores não estão preparados para aguentar a volatilidade de suas aplicações, e, nas primeiras quedas, tendem a desistir e resgatar os valores, o que acaba lhes trazendo prejuízo.

    Também é indicado que sejam feitos investimentos na bolsa somente para pessoas com esse perfil, que aguentem o “tranco” da montanha-russa. Além disso, é preferível que esses investidores já tenham pronta uma reserva de emergência segura para casos de crises.

    Outro fator citado pela Rico é o começo em pequenos passos. Assim como no caso da Robertha, não tem problema iniciar os investimentos com pouco dinheiro. É preciso ter em mente que o progresso vai acontecer com constância e preparo, e não apenas com capital em excesso.

    Por fim, a corretora pontuou que o investidor não deve se esquecer de diversificar sua carteira. A famosa história de “não colocar todos os ovos em uma mesma cesta”. E isso parece estar sendo adotado pelos investidores, segundo a B3.

    Em 2016, 75% do total de CPFs registrados tinha um portfólio completamente focado em ações. Já no segundo trimestre de 2022, o número passou a 33%, o que mostra que as pessoas estão mais atentas a outros produtos disponíveis no mercado variável, como FIIs (Fundos Imobiliários), BDRs (empresas estrangeiras) e ETFs (fundos de investimento atrelados à índices, negociados na bolsa).

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