Renda fixa nunca foi tão variável, avalia economista
Diferente do que se esperava, a persistência dos juros baixos no curto prazo fez com que a remuneração dos investimentos com mais variações fosse melhor em 2020
Que 2020 foi um ano imprevisível, isso é evidente. Mas ninguém contava que isso também impactaria os títulos de renda fixa, que, como o próprio nome sugere, têm suas taxas de rendimentos fixadas na data de aplicação.
Nesse contexto, decidir por investir em pós-fixados ou prefixados foi uma escolha difícil, tendo em vista o ambiente econômico em que viveram os investidores brasileiros.
Apesar disso, as variações apresentadas pelos pós-fixados foram altas e positivas para os investidores, enquanto as prefixadas cumpriram com a promessa da segurança.
Tomando como exemplo os títulos pós-fixado indexados ao IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado), eles acumularam rentabilidade superior a 20% nos últimos 12 meses.
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Para se ter ideia, o IPCA, principal indicador da inflação, acumulou alta de 5% no mesmo período.
Já os títulos do Tesouro Direto com rendimento prefixado, tiveram uma rentabilidade bem menor. Um exemplo disso é uma cota com vencimento em 2025, que acumulou 8,6% no mesmo período, um terço do rendimento do exemplo anterior.
Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, muitos investidores foram mais conservadores em suas aplicações, dada a situação fiscal e econômica que se encontrou o Brasil durante todo o ano. Por isso, optaram por aplicações com taxas prefixadas, que dão mais segurança.
No entanto, os resultados anuais mostram que, diferente do que se esperava, a persistência dos juros baixos no curto prazo fez com que a remuneração dos investimentos com mais variações fosse melhor em 2020. Para ele, o resultado positivo dos títulos do IGP-M veio graças a um choque de câmbio que provocou aumento nos índices gerais.
“Investidores que foram mais cautelosos e optaram pela segurança dos títulos pós-fixados em SELIC ganharam pouco, como era de se esperar, afinal a estratégia era trocar rentabilidade por segurança. Mas mesmo esses títulos tomaram um ‘susto’ no segundo semestre e viram seus PUs (o peço dos títulos) despencar vertiginosamente, algo muito raro para títulos com essas características”, diz.
Para 2021, o especialista prevê que a taxa Selic pode chegar a 4%, o que vai provocar um empate com a taxa de IPCA esperada para o ano. Já o IGP-M deve continuar em alta motivado pela força que o dólar deve ganhar por causa dos impasses políticos e fiscais no país. Nesse sentido, André Pefeito afirma que: “renda fixa nunca foi tão variável”.