Quer começar no mercado das criptomoedas? Veja como investir e cuidados a tomar
Existem pelo menos cinco maneiras de investir em criptomoedas: corretora convencional, fundo de investimento, bolsa de valores, p2p e exchanges descentralizadas
A queda dos mercados no auge da pandemia, em 2020, foi o gatilho para um forte movimento de valorização das criptomoedas, que acelerou em dezembro e ainda não parece ter terminado. Apesar de o bitcoin, a principal delas, ter recuado nos últimos dias, os ganhos acumulados em 12 meses seguem acima de 340%, e muitos especialistas acreditam que ainda é possível surfar o atual ciclo de alta.
No mundo, investidores ficaram otimistas quando empresas listadas na bolsa começaram a comprar bitcoin como parte da estratégia de tesouraria. No Brasil, o cenário é complementado pela queda da Selic, que reduz a atratividade dos investimentos de renda fixa e estimula apostas mais agressivas em busca de maiores retornos.
Segundo o Mercado Bitcoin, maior bolsa nacional de criptomoedas, seu volume financeiro aumentou quase nove vezes no primeiro trimestre de 2021. Já a Binance, corretora estrangeira que hoje lidera o mercado brasileiro em volume transacionado, negociou 8.794,9 bitcoins, o equivalente a R$ 2 bilhões, apenas no mês de abril.
Mas, investidores não devem se render à tentação de lucro fácil. Alexandre Vasarhelyi, gestor de portfólio da BLP Asset, não recomenda alocar mais de 5% da carteira em criptoativos. Ele conta que, há quatro anos, indicava reservar entre 1% e 3% da carteira para criptomoedas, mas que a recomendação mudou com o tempo e, hoje, fica entre 2% e 5%. “Mas tem clientes que começaram com 2% e agora estão com 10%”, afirma.
Para entrar, o gestor recomenda separar um dinheiro que não fará falta, comprar em cinco etapas de 20% para diluir a posição, e voltar somente três anos depois para ver como está. “As chances de ter dado certo são bem maiores”, aposta.
A gestora Hashdex, que comandou a estreia do primeiro ETF de criptomoedas na B3, também recomenda alocação de um dígito em criptomoedas. Para os mais cautelosos, o gestor de portfólio João Marco Cunha indica calcular a alocação com base na volatilidade da carteira. “Sugerimos uma alocação equivalente ao quadrado da volatilidade dividido por 40. Ou seja, se um investidor tem uma carteira com volatilidade de 10% ao ano, a sugestão seria de uma alocação de 2,5%”, explica.
Riscos
Os especialistas não negam que existam riscos, mas afirmam que há formas de amenizá-los. De um lado, a volatilidade pode ser amortecida pelo tamanho do lote: quanto mais variada a carteira, menores seriam as chances de tombo. De outro, o investidor precisa pesquisar a reputação das empresas antes de negociar, para fugir de possíveis golpes de pirâmide, e aprender como guardar suas próprias moedas para escapar de hackers.
Já ao negociar com um vendedor independente, na modalidade conhecida como p2p (peer-to-peer), onde prevalece o boca-a-boca, o cuidado deve ser redobrado. Jéssica Lima, que atua nesse mercado desde 2017, diz ter clientes de todos os perfis, de traders experientes que buscam lucrar com arbitragem a novatos que preferem a agilidade de mandar o dinheiro e receber a criptomoeda na hora.
“Busque referências, pessoas de renome, e tome cuidado com fakes”, alerta Jéssica, que diz ter sido alvo de diversos golpistas em 2017, durante a última grande alta do bitcoin. Ela pede atenção especialmente com possíveis perfis falsos em redes sociais.
Independentemente da modalidade de investimento, quem entende do assunto também recomenda estudar antes de começar. Para Ricardo Da Ros, diretor da Binance no Brasil, o investidor que sabe exatamente onde colocar seu dinheiro tem maior capacidade de driblar movimentos de manada, como o FUD, quando o medo, incerteza e dúvida puxam o preço para baixo; ou o FOMO, quando o medo de ficar de fora do hype acaba gerando uma corrida de preços que pode criar armadilhas.
“A volatilidade também gera oportunidades, mas até para se aproveitar dela é preciso ter conhecimento”, diz o executivo.
Corretora, bolsa, fundo, P2P e DEX: todas as maneiras de investir em criptomoedas
Existem pelo menos cinco maneiras de investir em criptomoedas: corretora convencional, fundo de investimento, bolsa de valores, p2p e exchanges descentralizadas.
Exchange
Na corretora, o investidor pode ter acesso a um portfólio amplo de ativos, e tem a opção de definir manualmente o tamanho do aporte. Em geral, o interessado só precisa de um celular e a identidade na mão para baixar o aplicativo, completar a verificação e começar a adquirir seus primeiros bitcoins. Hoje, quase todas as exchanges também permitem fazer depósitos via Pix, que funciona 24 horas por dia, assim como o mercado de criptomoedas.
Os ativos adquiridos ficam custodiados, em princípio, na própria exchange, mas é possível transferi-los para qualquer lugar mediante o pagamento de uma taxa, que costuma variar segundo a criptomoeda e a corretora –então, é importante pesquisar caso a caso.
No Brasil, as exchanges Binance, Mercado Bitcoin, Foxbit, NovaDAX, BitcoinToYou e BitcoinTrade, além do marketplace BitPreço, são algumas que oferecem negociação em reais.
– Prós: variedade de criptomoedas à disposição, possibilidade de custódia própria, disponível 24 horas por dia, sem limite mínimo de investimento
– Contras: investidor precisa saber o que comprar e como guardar se optar por sacar
Fundo de investimentos
Os fundos de criptomoedas permitem variar o aporte sem precisar conhecer a fundo os ativos que comporão o portfólio. Ao comprar uma cota, o investidor delega a decisão para um índice pré-estabelecido ou a um gestor, no caso dos fundos ativos. Em contrapartida, o cliente precisa pagar taxa de administração e/ou de desempenho, e não pode se apoderar dos criptoativos.
Pela norma da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), investidores comuns (varejo) só podem acessar os fundos que alocam até 20% em criptoativos, o que reduz as possibilidades de ganhos, mas também diminui significativamente o nível de risco. Nesta modalidade, o aporte mínimo costuma ser baixo, de a partir de R$ 1.
Já investidores qualificados podem acessar os fundos que alocam 100% em criptoativos, que exigem aporte mínimo alto, em geral de pelo menos R$ 5.000, mas são os que dão o maior retorno. No primeiro trimestre de 2021, fundos do tipo entregaram ganhos de até 122,29%, caso do Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index FIM IE.
As gestoras BLP Asset, Hashdex, KPTL, QR Asset, Vitreo e o banco BTG Pactual oferecem fundos de criptomoedas registrados junto à CVM e à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), comercializados nos principais serviços de corretagem.
– Prós: carteira variada via índice ou gestão ativa, segurança na custódia
– Contras: taxas de administração e/ou de performance, sem acesso aos criptoativos subjacentes, aporte mínimo pode ser impeditivo
Bolsa de Valores: fundo de índice (ETF)
A bolsa brasileira listou, em abril, o HASH11, primeiro ETF de criptomoedas da América Latina. Gerido pela Hashdex, ele já tem cerca de 60 mil cotistas e é um dos maiores de renda variável da B3. Segundo a empresa, o produto compartilha algumas das mesmas vantagens dos fundos de investimento, como a diversificação via índice e a segurança na custódia.
O acesso, porém, ainda não é abrangente como acontece com ETFs de cripto mundo afora. O Itaú Unibanco, por exemplo, um dos bancos que coordenou o lançamento, só oferece o produto para clientes do segmento Personnalité. É possível adquirir cotas também via agentes autônomos, algo que quem já lida com ações pode se familiarizar.
No caso do único ETF disponível por ora, a compra acarreta exposição a seis criptomoedas, entre elas o bitcoin e o ethereum, com diferentes pesos calibrados pelo índice Nasdaq Crypto Index.
– Prós: facilidade para quem já investe em ações, diversificação via índice, segurança na custódia; cotas de preço acessível, de cerca de R$ 50
– Contras: taxa de administração, sem acesso aos criptoativos subjacentes
Peer-to-peer (p2p)
A modalidade p2p é uma negociação direta entre duas pessoas e, por isso, requer cautela a mais. Entre as vantagens está, por exemplo, a agilidade para receber as criptomoedas adquiridas após o envio do dinheiro, já que não é preciso criar uma ordem de compra, como nas exchanges.
Por outro lado, diversificar o investimento requer múltiplas operações, e é preciso saber como fazer a custódia. Entram em cena, portanto, complicadores, como conhecimento sobre diferentes tipos de carteiras, das digitais, no celular, às físicas, como as fabricadas pela Ledger. Além disso, é preciso ter em conta que, apesar da negociação individual, as leis brasileiras continuam exigindo que o comprador realize um cadastro.
Existem negociantes p2p independentes e aqueles que atuam em plataformas ligadas a corretoras. A LocalBitcoins e a Paxful são especializadas neste segmento. A Binance e outras estrangeiras, como a OKEx, também oferecem seção dedicada ao p2p.
– Prós: compra e venda com agilidade, negociação de preço, aporte mínimo flexível
– Contras: maior cautela na pesquisa de negociantes, custódia própria
Exchanges descentralizadas
No centro do sucesso do que se entende por finanças descentralizadas (DeFi), as exchanges descentralizadas (DEX) são sistemas autônomos que usam contratos inteligentes para intermediar negociações entre indivíduos. Os benefícios envolvem privacidade total e acesso a uma ampla oferta de criptoativos para escolher, incluindo aqueles mais novos e com maiores chances de passarem por explosão de valorização.
No entanto, essa modalidade requer cuidado triplicado: projetos podem ser hackeados ou o criador pode simplesmente aplicar um golpe nos usuários e, ainda por cima, o investidor pode perder o próprio dinheiro ao fazer uma operação sem o cuidado devido. Além disso, as taxas costumam ser maiores do que em exchanges convencionais. Esses são, no entanto, preços pelos quais os entusiastas da descentralização podem estar dispostos a pagar.
– Prós: ampla oferta de criptomoedas, total privacidade, sem exigência mínima de investimento
– Contras: ambiente não regulado no Brasil, exige conhecimento mais profundo e oferece alto risco de ataques hackers e golpes