“Pornográfico”, “não dá mais”: críticas a juros altos vão de Lula a empresários
Veja políticos, donos de negócios e economistas que já criticaram nível persistentemente alto da taxa Selic, atualmente em 13,75%
Desde que assumiu seu terceiro mandato, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu uma disparada de críticas duras e abertas contra o Banco Central (BC), o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, e a sua política de juros altos.
Aos poucos, o coro de críticos foi engrossando. A lista de personalidades que já pediram ao Banco Central que alivie a sua taxa abarca desde outros nomes do governo e políticos até economistas, ex-diretores do BC e empresários.
“Não dá mais para ter paciência, não”, disse Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, a Campos Neto em evento com empresários do varejo na semana passada.
A Selic, taxa de juros de referência da economia brasileira, está atualmente em 13,75% e mantém o Brasil no topo do ranking dos juros mais altos do mundo.
Veja a seguir alguns dos principais comentários que já foram feitos a respeito dos juros altos no Brasil:
Lula
Em uma escalada aberta desde o início de seu mandato, em janeiro, o presidente Lula fez repetidas críticas ao BC e ao seu atual presidente, Roberto Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) para o posto e no cargo desde 2019.
Lula já chamou de “bobagem” a lei da autonomia, de “vergonha” o alto nível dos juros e já conclamou o Senado a ficar “vigilante” com Campos Neto.
De acordo com os argumentos do presidente da República, os juros altos inibem os investimentos públicos e privados, além de atrapalhar o andamento da economia.
Fernando Haddad
Seguindo o presidente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido outro defensor de que os juros poderiam estar mais baixos.
“Já deveria ter cortado em março”, disse Haddad em uma de suas declarações mais recentes, nesta semana.
Haddad vem tentando mostrar um relacionamento amistoso com o colega Campos Neto, no BC, e também tem se esforçando para destacar ao mercado financeiro as políticas do governo em controlar as contas públicas.
O ministro que comanda a economia do país defende que esforços que já avançaram, como a aprovação do novo marco fiscal na Câmara, melhoram a avaliação de risco do Brasil e abrem espaço para juros mais baixos.
Rodrigo Pacheco
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu diretamente a Campos Neto, durante um evento em Londres com empresários, em abril, que reduza os juros para que o Brasil volte a crescer.
“Há divergências naturais entre o Executivo, o Legislativo, a sociedade e o meio empresarial. Mas, se há algo que nos une nesse momento, é a impressão, o desejo, a obstinação de reduzir a taxa de juros no Brasil”, disse o senador ao presidente do BC sob aplausos da plateia de executivos.
“Por isso, eu quero pedir isso muito. É uma súplica do Senado Federal, meu caro presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto”, acrescentou.
Luiza Trajano
A atual presidente do Conselho da varejista Magazine Luiza pediu também diretamente ao presidente do BC que baixasse os juros.
“Nós já tivemos muito remédio amargo. Ninguém aguenta isso”, disse Luiza ao público e diretamente a Campos Netos durante evento do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), em 12 de junho.
“Eu queria te pedir: por favor, dê um sinal de baixar os juros (…). Mas não é 0,25 [ponto] não. Dá um pouquinho mais”, suplicou a empresária.
Compartilhado nas redes sociais, o vídeo viralizou. Luiza contou que já “ligou mais de 20 vezes” para Campos Neto para pedir que reduza os juros.
A EMPRESÁRIA Luiza Trajano desenhou para Campos Neto que apenas NÃO DÁ MAIS pra manter essa taxa de juros absurda! pic.twitter.com/82eJWDz57x
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) June 13, 2023
Anfavea
Parte do coro do setor produtivo, Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), também já criticou em declarações públicas o impacto dos juros altos sobre a indústria.
“Com esse juro elevado, o mercado continuará em um processo de retração, o mercado não cresce”, disse ele em coletiva no mês passado em que a associação divulgou uma queda de 20% na produção de veículos no país em abril.
“Tivemos paradas das fábricas, adequação de demanda. Continuaremos anunciando paradas de fábricas ou as notícias serão ainda piores se essa taxa de juros permanecer elevada? A taxa de juros hoje é incompatível com a expectativa de crescimento da indústria”, completou.
Fiesp
Em março, foi o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, quem chamou de “pornográfica” e “inconcebível” as taxas de juros no Brasil.
Ele falou durante um evento no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil. Muitos querem associá-la a um problema fiscal. A tese é que há um abismo fiscal. Abismo fiscal em um país que tem 73% do PIB de dívida bruta. Tirando as reservas [cambiais] são mais ou menos 54% de dívida. Tirando o caixa do Tesouro Nacional, são menos de 45% do PIB de dívida líquida, em um país com a riqueza do Brasil”, argumentou.
“Então esta não é uma boa explicação para as pornográficas taxas de juros que praticamos no Brasil”, disse.
Tony Volpon
O ex-diretor do Banco Central é um dos economistas que, já há algum tempo, advogam pela tese de que os juros a 13,75% estão mais altos, e há mais tempo, do que o necessário.
“Acho que já há elementos para iniciar uma redução”, disse ele em entrevista à CNN em maio, criticando as sucessivas reuniões deste ano até aqui em que o Banco Central decidiu por não cortar os juros e manteve o tom duro contra as pressões inflacionárias em seus comunicados.
“Não significa passar para uma postura expansionista, o nível dos juros ainda tem que ser contracionista. Mas já poderia ter sido feito algum corte”, acrescentou Volpon.
*Publicado por Juliana Elias