O que são BDRs e quem pode investir em ações no exterior?
Regras para investir em BDRs ficarão mais suaves a partir de setembro, depois de mudanças promovidas pela CVM
Muita gente pode pensar que investir no exterior é difícil – ou até mesmo ilegal. Mas existe um tipo de ativo que foi pensado para facilitar a vida de quem quer “comprar ações” de empresas listadas em bolsas estrangeiras.
Disponíveis na B3, a bolsa brasileira, os BDRs se tornam cada vez mais acessíveis e, consequentemente, procurados pelos investidores. Com eles, é possível investir em empresas como Google, Microsoft e Uber.
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“Existe uma tendência de internacionalização muito forte. As pessoas querem ter acesso a ativos ao redor do planeta e as possibilidades eram sempre fechadas no Brasil”, diz Roberto Lee, CEO da corretora Avenue Securities. O cenário, porém, está mudando.
Esse tipo de investimento foi muito comentado depois que a Comissão de Valores Imobiliários mudou algumas regras para sua popularização, o que também gerou muita curiosidade sobre o tema. Por isso, o CNN Brasil Business tira as suas principais dúvidas sobre o tema. Confira:
O que são BDRs?
Os Brazilian Depositary Receipts (BDR) funcionam como certificados que representam ações de empresas listadas em bolsas de outros países. Através deles, é possível investir em empresas como Apple, Netflix e Amazon, listadas na Nasdaq, por exemplo.
Na prática, funciona assim: uma empresa – chamada no processo de instituição depositária – compra as ações lá fora, as deposita em uma instituição financeira que atua como custodiante e emite os BDRs no Brasil. E esses certificados são disponibilizados na B3.
Há ainda a opção de a própria empresa que emite as ações ser a responsável pela emissão dos BDRs.
Em ambos os casos, quando você compra BDRs, não está comprando diretamente a ação da Netflix na Nasdaq, por exemplo, mas está comprando um título que equivale àquele papel.
Tipos
Existem dois tipos de BDRs: os patrocinados e os não patrocinados. E a diferença entre eles é grande.
Os BDRs patrocinados são aqueles em que a empresa que emite as ações é a responsável por distribuir os recibos no Brasil. Nesse caso, é interesse dessa companhia ter presença no mercado brasileiro. Além disso, ela se submete a regras do órgão regulador – no caso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – do país.
O BDR não patrocinado é lançado no Brasil por iniciativa de empresas que não são as emissoras das ações. Ou seja, as empresas que têm suas ações listadas em bolsas de fora do país não sabem, necessariamente, que esses títulos estão sendo emitidos.
Diversificação da carteira
Comprar BDRs é uma maneira de diversificar os investimentos, já que os certificados dão acesso a ações listadas em outros países. Não é preciso abrir conta em corretoras estrangeiras, esses títulos chegam ao investidor brasileiro pela B3 – e cotados em reais.
“Começamos a ver agora uma aceleração da demanda por investimentos no exterior. Quanto mais instrumentos, mais divulgação sobre o assunto, o que acelera a conexão dos mercados”, analisa Roberto Lee.
Ao mesmo tempo, os investidores precisam fazer seu dever de casa e estudar sobre as empresas em que apostam, já que os ativos sofrem mudanças de acordo com os resultados dessas companhias, como acontece no mercado tradicional.
Como essas empresas são de outros países, a língua pode ser um obstáculo para entender melhor os balanços e ter uma visão mais clara sobre o momento das instituições. Por isso, a legislação direciona esse tipo de investimento a pessoas com mais experiência em renda variável. Mas isto está perto de mudar.
Mudanças
Com empresas brasileiras abrindo capital no mercado internacional, a CVM decidiu alterar as regras para permitir que essas companhias emitam seus BDRs no mercado local.
Além disso, a partir de 1º de setembro, qualquer investidor poderá comprar BDRs. Antes, eles estavam disponíveis somente para investidores qualificados (que possuem mais de R$ 1 milhão em aplicações).
Para completar, investir em empresas brasileiras listadas no exterior, com a nova regra, será menos custoso e mais simples. Afinal, quem quisesse ter ações da corretora Stone ou da corretora de investimentos XP, por exemplo, precisava abrir conta lá fora – um processo não muito simples. Além de outras burocracias
Mas algo que os investidores precisam se atentar é com a oscilação do real frente às moedas estrangeiras. As ações listadas na Bolsa de Nova York, por exemplo, são em dólar. Logo, o investidor fica exposto tanto à variação do papel quanto à depreciação (ou valorização) do real em relação à moeda americana.
Brasileiras listadas lá fora
Na hora de abrir capital, algumas empresas brasileiras optaram por fazer isto lá fora. Elas procuram, em geral, um público mais especializado, que possa ajudar a companhia a crescer mais rápido. Além disso, querem fugir da burocracia da bolsa brasileira e alcançar maiores volumes em ofertas de ações.
A partir do mês que vem, empresas como Stone, XP, PagSeguro e Arco Educação poderão emitir BDRs para alcançar investidores brasileiros.
Recentemente, a Vasta, divisão de ensino básico da Cogna, maior grupo brasileiro na área de educação, captou US$ 352,9 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) com sua oferta na Nasdaq, em Nova York.
Entre 2018 e 2019, mais de um terço (38%) das empresas brasileiras que realizaram abertura de capital optaram pelas bolsas de valores de Nova York.
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