Mercado reage positivamente ao vídeo ministerial: ‘pouco bombástico’
Ainda de acordo com parte dos especialistas, o conteúdo deve reduzir as expectativas de que o vídeo seja ser usado como pretexto para um pedido de impeachment
O mercado reagiu positivamente à divulgação do vídeo da reunião ministerial. Segundo boa parte dos economistas e analistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, as falas no vídeo não comprometeram o presidente Jair Bolsonaro e nem os principais ministros, com foco especial em Paulo Guedes, chefe da Economia.
Ainda de acordo com parte dos especialistas, o conteúdo deve reduzir ou até mesmo eliminar as expectativas de que o vídeo pudesse ser utilizado como pretexto para um eventual impeachment.
“Considero que o discurso do presidente foi mantido, ou seja, não tem uma afirmação que comprometa ou aponte para uma intervenção direta na Polícia Federal”, diz Eduardo Velho, estrategista da boutique de investimentos INVX Global Brasil. Velho acredita, inclusive, que o efeito será de revalorização gradual e moderada do real contra o dólar e que o Ibovespa continuará acima dos 80 mil pontos na segunda-feira.
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Homero Guizzo, analista de macroeconomia da corretora Guide Investimentos, também avalia que o vídeo é “menos bombástico” do que o esperado. Para ele, a situação do presidente continua sendo “administrável”.
“O que ele falou sobre a segurança dele ainda dá margem para interpretação e não me parece suficiente para afirmar de forma peremptória que confirma as acusações feitas sobre ele”, diz Guizzo.
Bolsonaro tem alegado que, quando fala em fazer mudanças “na segurança”, ele estaria se referindo à sua guarda pessoal, e não à Polícia Federal.
A opinião de Guizzo é parecida com a de José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Para Gonçalves, é possível que a própria base do presidente saia fortalecida após o episódio. “Tem coisa pesada, mas o eleitor dele tende a se identificar. [O vídeo] pode não ter maiores implicações políticas por isso e o mercado deve assimilar”, diz.
De fato, os sinais são de que o vídeo terá impacto positivo no mercado financeiro. Às 19h05, nas negociações após o fechamento, o ETF do Brasil negociado na bolsa de Nova York subia 2,8% – o papel havia encerrado o pregão em queda de 0,5%. Já na B3, o dólar futuro, que subia perto das 17h, passou a cair às mínimas da sessão após a divulgação.
“Os mercados reagiram bem ao vídeo e tudo melhorou: dólar, bolsa, papéis lá e fora e juros. A fala do Paulo Guedes foi épica chamando os ministros para virem com ele na defesa do Brasil como um lugar para investimentos”, diz Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da casa de análises Eleven Financial.
Carlos Kawall, diretor do Asa Bank, também acredita que a divulgação vai repercutir bem no mercado na segunda-feira. Para ele, também contribui para o tom positivo o fato de a semana ter terminado em clima de paz entre o presidente, governadores e parlamentares, especialmente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Mas Kawall faz uma ressalva: “Bolsonaro segue totalmente imprevisível, muito ambíguo, e não tem como se prever se ele vai mudar de ideia.”
Na visão de André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, o vídeo da reunião ministerial não deve afetar o mercado, mas a temperatura política continuará elevada.
“O que vemos como potencialmente perigoso no vídeo são dois pontos. O primeiro, foram comentários a respeito da China que, apesar de censurados, fica evidente do que se trata, e podem azedar mais ainda as relações com o gigante asiático”, diz Perfeito. “O outro ponto foram os xingamentos desferidos contra os governadores de São Paulo, do Rio de Janeiro e contra o prefeito de Manaus.”
Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, compartilha do pensamento de que a reunião será vista como positiva pela base bolsonarista fiel, que deve fechar ainda mais com o presidente. “O vídeo é ouro para eles”, diz Vale. “A notícia mais relevante do dia, no fim das contas, foi a nota do general Heleno, essa sim mais tensa do que o resultado do vídeo.”