Mais renda fixa e ações no exterior: saiba onde investir em 2022
Veja as carteiras recomendadas para os diferentes perfis - conservador, moderado e arrojado -, de acordo com corretoras e bancos consultados pelo CNN Brasil Business
Há poucas certezas para o universo dos investimentos no Brasil em 2022 além de uma: os juros serão altos. A taxa Selic, que serve de referência para toda a renda fixa do país, deve ficar perto dos 12% ao longo de todo este ano.
Para além disso, o que se tem é um horizonte nublado por um crescimento econômico que deve ser fraco, eleições que prometem ser polarizadas e uma pandemia que teima em não deixar claro quando pode acabar.
Isso tudo resulta em uma bolsa de valores e uma taxa de câmbio que certamente terão meses de muita volatilidade.
A conclusão é que não há resposta fácil ao investidor sobre para onde correr com suas aplicações neste ano.
Para dar alguma luz ao longo deste túnel, o CNN Brasil Business conversou com bancos e corretoras para chegar a uma carteira balanceada para começar 2022, já ajustada ao nível de tolerância de risco dos principais perfis – conservador, moderado e arrojado.
Os resultados consideram a média das recomendações para cada categoria. Foram consultadas as corretoras Rico e Toro e o banco Santander. A carteira completa de cada uma das instituições pode ser vistas mais abaixo, bem como os comentários para cada tipo de investimento.
Os analistas reforçam que a economia e as carteiras são dinâmicas e que essas distribuições podem e devem ser ajustadas ao longo do ano conforme a conjuntura. Nesse caso, o investidor deve seguir atento às notícias e às recomendações de profissionais.
Ano da diversificação
Embora 2022 comece com os juros em alta e a bolsa em baixa, e com as corretoras, de fato, reduzindo as fatias recomendadas para as ações brasileiras, a resposta não é tão simples quanto “sair da renda variável e ir para a fixa”. A palavra para o ano é diversificação.
O Ibovespa, por exemplo, apesar da fraqueza e da volatilidade, acabou deixando muita ação barata demais para ser ignorada.
Títulos de renda fixa de prazos muito longos estão sendo vistos com cautela, por conta das incertezas com os juros e a inflação no futuro, enquanto uma boa fatia que os analistas estão recomendando tirar da bolsa brasileira está indo para ações no exterior.
“A sugestão é uma carteira equilibrada, com produtos que permitam capturar as oportunidades, combinados a estratégias defensivas, que minimizam as oscilações”, disse o especialista de investimentos do Santander Arley da Silva Junior.
Veja a seguir as carteiras detalhadas de cada casa e os comentários dos especialistas sobre cuidados e oportunidades a considerar em cada tipo de ativo:
Renda fixa pós-fixada
São os títulos públicos ou privados atrelados à Selic ou ao CDI (taxa bancária que anda colada à Selic): quando essas taxas sobem, a remuneração deles sobe junto.
Eles sempre têm uma posição garantida em qualquer carteira, já que são a melhor opção para aquele dinheiro que a pessoa precisa ter sempre à mão para resgatar a qualquer momento, e sem perdas.
O Tesouro Selic e os CDBs com liquidez diária são as opções que continuam sendo recomendadas para essa função.
Mas o aumento de juros volta a deixar essa categoria especialmente atraente dentro da renda fixa, e os analistas têm recomendado aumentar o pedaço delas.
“Para a parcela em que o investidor pode abrir mão da liquidez [comprando títulos com vencimentos mais longos], a sugestão são as LCIs ou LCAs, que são isentas de imposto de renda para pessoa física e tornam a rentabilidade mais interessante”, disse Silva, do Santander.
Renda fixa atrelada à inflação
São títulos que remuneram a inflação acrescida de uma parcela de juros fixos, o que garante que seu rendimento nunca ficará menor do que a variação de preços (a não ser que o investidor resgate antes do vencimento, o que pode implicar em perdas). Por essa razão, também costumam ter um pedaço cativo nas recomendações.
O Tesouro IPCA+, do Tesouro Direto, é a mais conhecida e a mais utilizada das opções, e deve estar na carteira. Os especialistas reforçam, porém, que há boas opções de títulos privados também.
O Santander recomenda uma busca pelas LCAs e LCIs que tenham esse tipo de remuneração, já que elas são livres da cobrança de IR. A Toro Investimentos aponta que há opções de CDBs pagando juros de até 6% sobre o IPCA, com vencimentos até 2025.
É aqui que estão também as principais recomendações para crédito privado, que são títulos de dívidas emitidos por empresas.
“Para as pessoas que possuem estômago um pouco mais forte, os títulos privados isentos de imposto de renda são uma excelente opção, como CRIs [Certificados de Recebíveis Imobiliários], CRAs [Certificados de Recebíveis do Agronegócio] e debêntures incentivadas [de empresas de infraestrutura]”, diz a equipe de analistas da Rico Investimentos.
Por serem emissões ligadas a empresas e empreendimentos, os títulos de crédito privado têm risco de crédito maior do que a renda fixa tradicional dos bancos ou do Tesouro Direto.
A Toro recomenda acessá-los por meio de fundos especializados. “Por negociarem um volume alto, os fundos de crédito privado geralmente têm acesso a títulos que não estão disponíveis para outros investidores em geral”, diz a corretora.
Renda fixa prefixada
O aumento da Selic também ajudou a deixar os juros prefixados bem atraentes – no Tesouro Direto, essa categoria está pagando hoje mais de 11% ao ano. CDBs, LCAs e LCIs são outras opções tradicionais dessa modalidade.
Ainda assim, os prefixados estão sendo recomendados com cautela e em porções pequenas pelos analistas. Na Toro, por exemplo, os prefixados não estão indicados para nenhum perfil, com os outros tipos de renda fixa concentrado as opções da categoria.
“Para os ‘prés’, são mais recomendados os de prazos mais curtinhos, com vencimento de até três anos, porque o cenário para prazos mais longos é incerto e esses títulos não te protegem dessas incertezas”, dizem os analistas da Rico.
“As letras prefixadas [LCAs e LCIs] estão com taxas interessantes e contam com a isenção de IR; além do Tesouro Prefixado [que paga IR]”, aponta Silva, do Santander. “Em ambos os casos, a sugestão são os títulos com vencimentos curtos ou intermediários”, acrescenta.
Ações
As expectativas para a bolsa de valores brasileira em 2022 estão cheias de cautela, mas divididas com a atratividade das várias “pechinchas” que a queda forte de 2021 deixou entre as empresas listadas.
“A curto e médio prazo, o cenário doméstico parece não dar sinais significativos de melhoria, o que nos faz manter a cautela com a bolsa local”, disse a Toro, que preferiu deixar pedaços menores para a renda variável do Brasil e apostar mais nas ações no exterior e na renda fixa pós-fixada.
O Santander e a Rico, que também veem com cautela a bolsa brasileira, destacam, por outro lado, as oportunidades de preços e os potenciais de longo prazo.
“Em janelas bem longas de tempo, de mais de dez anos, as ações são uma excelente forma de proteção contra inflação, porque a capacidade de repasse da inflação nos preços das empresas ajuda os acionistas a se protegerem”, diz a Rico.
Fundos multimercados
Os fundos multimercados são bem úteis em momentos de volatilidade, já que podem investir em todo tipo de ativo – renda fixa, ações, moedas – e usar estratégias que permitem ganhar tanto nas altas quanto nas baixas.
Têm, ao mesmo tempo, um papel de proteger a carteira dos investidores mais arrojados e de levar um pouco de risco para aqueles mais moderados, como uma espécie de passo anterior à bolsa de valores.
Com isso, eles mantêm uma participação importante nas carteiras deste ano, chegando perto dos 30% em algumas delas.
“É importante ter uma parcela desses produtos no portfólio e a sugestão é que o investidor tenha diferentes fundos, com baixa correlação entre si, que operam com estratégias diferentes”, disse Silva, do Santander.
Como se trata de uma categoria bem aberta, pode haver fundos multimercados mais focados em moedas, outros em ações e outros em renda fixa, por exemplo, tanto no Brasil quanto fora.
Investimentos no exterior
Com o Ibovespa fraco enquanto as bolsas americanas batiam recordes, e também com o dólar alto e imprevisível, os investimentos no exterior estão ganhando importância nas carteiras.
Hoje já são várias as formas pelas quais os investidores podem acessar ativos internacionais sem precisar levar o dinheiro para fora: BDRs (réplicas de ações estrangeiras vendidas na B3), ETFs (um tipo de fundo também listado na B3) e fundos de investimentos são as principais delas.
“É uma forma de proteger os investimentos de toda essa volatilidade na nossa moeda e do fato de que seguiremos com o real desvalorizado”, de acordo com a equipe da Rico.
“É uma classe que permite explorar oportunidades no exterior, diversificando setores e acessando grandes empresas, além de reduzir o risco de uma carteira concentrada em ativos locais”, explica o analista do Santander.
Em suas recomendações, a Toro aposta nos ETFs listados na B3 que replicam fundos das bolsas norte-americanas, caso do IVVB11, que acompanha o S&P 500.
“Ele possibilita o investidor a ganhar com a valorização do maior mercado acionário do mundo e, por acompanhar a variação cambial, é um bom ativo defensivo no caso de deterioração do cenário interno”, diz a corretora.
O USTK11, que acompanha empresas de tecnologia da bolsa de Nova York, e o SHOT11, focado em startups também listadas lá, são outras recomendações da Toro. Os códigos são os nomes pelos quais os ETFs podem ser comprados na B3.