Juros altos não afastam investimento de longo prazo no Brasil, diz especialista
Para economista-chefe do Inter, melhora da perspectiva econômica doméstica permitiu que o mercado brasileiro mantivesse fluxo de investimento estrangeiro
O cenário de juros elevados no exterior, em especial nos Estados Unidos, não tem sido suficiente para afastar os investimentos estrangeiros de longo prazo no Brasil, na avaliação da economista-chefe do Inter Rafaela Vitoria.
Em entrevista à CNN nesta quarta-feira (21), ela destacou que investimentos de curto prazo, ligados ao mercado financeiro com compra de títulos e ações, são prejudicados por altas de juros nos Estados Unidos, com tendência de migração dos mercados emergentes, tidos como mais arriscados, para a renda fixa norte-americana, que fica mais atrativa.
“A gente vê um fluxo de investidores saindo de ativos de riscos, de países emergentes, cujo risco teve pequena alta nas últimas semanas”, observa a economista.
Entretanto, os investimentos de longo prazo, atrelados a projetos, infraestrutura e outras expansões, se manteve, já que ele leva em conta perspectivas econômicas, e não apenas as taxas de juros.
Ela afirma que “temos visto um aumento no investimento estrangeiro no Brasil neste ano, deve ter entrada de cerca de US$ 60 bilhões, além de aumento de investimento doméstico privado. Temos um cenário de perspectiva econômica melhor, com mercado de trabalho melhorando, marcos regulatórios, então é um contraponto para essa alta de juros que vê nos Estados Unidos, que puxa esse investidor de curto prazo”.
Nesta quarta-feira, o Federal Reserve deverá elevar os juros novamente em 0,75 ponto percentual. Vitoria avalia que o processo inflacionário no país “ainda não está sob controle”.
“O último dado de inflação ao consumidor indicou que a inflação, principalmente a medida pelos núcleos, de serviços, ligada à moradia, continua muito alta, e existe sim uma preocupação com a persistência dela, e por isso o Fed precisa continuar subindo juros”.
Já no caso do Brasil, há um “momento de deflação” ligado à redução de impostos em julho e à queda nos preços de combustíveis e alimentos em agosto e setembro seguindo o recuo das cotações de commodities. A desaceleração, na visão da economista, tem sido maior que o esperado pelo mercado e pelo Banco Central.
“É uma notícia positiva, tende a reduzir a inércia inflacionária para 2023, mas está em um cenário ainda com incertezas para a questão fiscal no próximo ano. O Orçamento ainda não foi aprovado, existem pressões para ter mais gastos, inclusive para rever o teto, uma importante âncora fiscal”, diz a economista.
Com um momento de incerteza, ela espera que o Banco Central comunique ao mercado que manterá a taxa de juros alta por um “bom tempo”, para garantir que a inflação vai convergir para a meta.
“O trabalho do Banco Central ainda não está concluído, não precisa de uma nova alta de juros, mas precisa dosar no comunicado uma expectativa de mercado que os juros vão precisar ser restritivos por um bom tempo, e continua dependente do que vai vir de fiscal para 2023”, destaca.