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    Juros altos afastam investidores, pausam IPOs e diminuem rentabilidade no mercado de ações brasileiro, dizem especialistas

    Em 2021, com taxa mais baixa, 41 empresas abriram capital na B3, enquanto no ano passado não houve interessados

    Vinicius Pereiracolaboração para a CNN , Em São Paulo

    A manutenção dos juros elevados nos últimos meses prejudica o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. Com isso, desacelera o apetite das empresas por captar dinheiro na bolsa e afugenta investidores da renda variável.

    Na contramão, aportes em renda fixa — que rendem mais com a Selic em alta e apresentam menos riscos — tendem a se beneficiar com o aperto monetário.

    Desde agosto do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) segura os juros em 13,75% ao ano. A alta da taxa, porém, começou em março de 2021, quando passou de 2% para 2,75%.

    Segundo especialistas ouvidos pela CNN, o mercado de capitais sente a influência macroeconômica, dado que a manutenção dos juros em um patamar alto faz com que a economia do país, como um todo, seja afetada, influenciando negativamente o poder de compra da população.

    “Juros altos significam aperto econômico quando uma economia está com as taxas de inflação além da meta. O poder de compra fica comprimido, pois o governo quer desacelerar essa economia que pode estar com algum desequilíbrio. Esses juros no alto tendem a frear o consumo, então o PIB projetado tende a ser menor”, disse Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos.

    Segundo Calil Filippelli, gestor de fundos da Ouro Preto Investimentos, o movimento, portanto, é que a Selic alta faz com investidores migrem para investimentos com menor risco, enquanto as empresas ficam mais cautelosas.

    “A Selic alta, na verdade, fomenta a demanda por títulos de renda fixa e torna o mercado de renda variável menos atrativo para os investidores. Pela ótica dos emissores de títulos de renda fixa, a captação fica mais cara, o que exige certa cautela na escolha do vencimento, rentabilidade e quantidade emitida”, disse.

    Apesar da pressão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta colocar sobre o BC para uma possível redução, especialistas acreditam que a Selic vai permanecer no patamar atual, aos 13,75% ao ano. Nesta terça-feira (20), começa a reunião do colegiado do BC, com a decisão a ser publicada na quarta-feira (21).

    A expectativa é de que a trajetória de cortes dos juros só comece na reunião seguinte, marcada para os dias 1º e 2 de agosto.

    Número de investidores desacelera

    Um levantamento da TC Economática feito a pedido da CNN mostra que a valorização do Ibovespa, o principal índice acionário brasileiro, é prejudicado com a alta da Selic, afugentando investidores.

    No último ciclo de baixa da Selic, que vai de 27 de julho de 2015 até 5 de agosto de 2020, quando a Selic saiu de 14,75% e foi a 2% ao ano, o Ibovespa acumulou alta de 104%.

    Já na manutenção da taxa em 13,75% ao ano, que começou em 5 de agosto do ano passado, até a última sexta-feira (16), o Ibovespa subiu 15%.

    Com a rentabilidade do principal índice acionário comprometida, os investidores passaram a buscar outras formas de investimento, para além do mercado de capitais — como os títulos do Tesouro Direto ou produtos bancários, como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), por exemplo.

    “O fator determinante para este fenômeno é que a relação entre risco e retorno de ativos atrelados à Selic fica bem mais atrativa do que as ações negociadas em bolsa. Com isso, cria-se uma tendência para investidores com menor apetite de risco de migrarem para a renda fixa, deixando o mercado de ações mais vendedor”, afirmou Filippelli.

    O movimento também pode ser visto pelo número de investidores na B3. Enquanto o país teve um ciclo de baixa da Selic, o número de pessoas que investiam na bolsa por aqui passou de 700 mil, em 2018, para 5,3 milhões atualmente.

    Neste ano, porém, com a Selic no alto, o número de investidores pessoa física vem se mantendo basicamente estável, segundo dados da B3.

    O mesmo ocorre pelo lado das empresas, que utilizam a Bolsa para captar dinheiro mais barato do que em um empréstimo, por exemplo, e reinvestir na atividade econômica na qual atuam.

    Em 2021, com juros mais baixos, 41 empresas optaram por buscar abrir capital — IPO, na sigla em inglês — e conseguir arrecadar dinheiro para investir pela bolsa. Já no ano passado, não houve IPOs, no país.

    “É assim que a taxa de juros alta prejudica o mercado. As empresas precisam de mais recursos muitas vezes, mas o apetite ao risco adicional pelo mercado diminui”, afirma Cozzolino, da Levante.

    Lula critica, mas Copom deve manter Selic

    Em busca de uma queda dos juros, o presidente Lula voltou a criticar os juros altos do país e disse, na segunda-feira (19), que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deve explicações referentes às altas taxas.

    “Juros precisam baixar, porque não tem explicação. O presidente do BC tem que explicar ao povo brasileiro e ao Senado, que o elegeu, porque ele mantém essas taxas de juros de 13,75% em um país que está com inflação anual de 5%”, afirmou o presidente em sua live semanal.

    A despeito dos apelos de Lula, o Copom não deverá alterar a Selic na reunião desta semana, de acordo com Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

    “Apesar da recente queda da inflação, de modo mais acelerado que o esperado, o Copom deve seguir sua comunicação anterior e manter a Selic inalterada. No entanto, a análise de cenário e o balanço de riscos para a inflação teve mudanças importantes e esperamos que o Copom sinalize que o processo de afrouxamento da política monetária pode se iniciar a partir de agosto”, disse, em relatório.

    Segundo a economista-chefe do Inter, o início do corte da Selic deve ocorrer mesmo na reunião do Copom de agosto. Vitória projeta que a taxa básica de juros termine em 12% ao ano em 2022 e em 9,5% em 2024, com a possibilidade de reduções até mais agressivas.

    “Esse cenário, no entanto, depende do cumprimento das regras fiscais aprovadas com a desaceleração do crescimento dos gastos públicos e redução do déficit primário”, afirmou.

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