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    Jogos online passam a usar criptomoedas e blockchain; saiba como isso funciona

    Jogo CyrptoKitties utiliza o ativo digital ether, que valorizou 434%, em 2021, enquanto o Decentraland usa a cripto Mana, que cresceu em 49 mil vezes, neste ano

    Artur Nicocelida CNN , São Paulo

    O mercado de video-games tem chamado a atenção dos investidores, muito por conta dos jogos ‘play-to-earn’, em que os jogadores ganham remunerações – como criptomoedas – para jogar. E grande parte desses ativos digitais tem se valorizado centenas, e até milhares, de vezes nos últimos meses.

    O Axie Inifiny, por exemplo, utiliza a cripto AXS que cresceu cerca de 2.500%, desde julho até a última sexta-feira (19). Nesta segunda-feira, às 12h07, horário de brasília, a altcoin estava cotada a US$ 131,74, com alta de 0,06%.

    Na plataforma, o jogador compra axies (personagens do jogo) com o ativo digital para montar um time e colocá-los para batalhar com outros usuários ou criar criaturas novas. Cada figura é única, pois são NFTs, ou seja, possuem tokens únicos, e consequentemente aparências individuais.

    Thiago Seiji Takaki, de 24 anos, começou a jogar Axie Infinity na última semana de junho. Para criar o seu time de três axies, foi necessário o investimento de R$ 7,2 mil. Ele joga cerca de 2 horas por dia, pois, o jogo não remunera os jogadores que passarem desse tempo.

    “O meu investimento se pagou em aproximadamente 60 dias, mas o meu ganho depende da flutuação do real frente o dólar e o meu ranking de classificação no jogo”, diz Seiji.

    Time de axies de Thiago Seiji
    Time de axies de Thiago Seiji / Arquivo pessoal

    Seiji está entre o 1600º e o 1700º colocado no jogo. E planeja juntar mais dinheiro para comprar outros personagens e formar uma ‘escolinha’, modelo que oferece alugueis de contas para quem não possui capital para o investimento inicial necessário.

    “A escolha por remunerar [os jogadores] trata-se de uma forma de atrair mais usuários, e permitir que [o jogo] seja autossustentável”, explica Allan Augusto, analista do Centro de Liberdade Econômica da Universidade Mackenzie. “No curto prazo, é uma situação interessante para quem joga, e no longo prazo, pode assegurar a continuidade e desenvolvimento do jogo”.

    O Axie Infinity ultrapassou 1,8 milhão de jogadores em outubro.

    Modelo de negócios

    Apesar de os jogos parecerem uma mera diversão, os investidores estão encontrando no mercado uma forma de investimento. Felippe Percigo, CMO da Liqi, plataforma de tokenização de ativos, explica que os desenvolvedores não criam o jogo com intuito de pagar quem joga, mas atrair quem quer jogar – essa estratégia é conhecida como “mecanismo de incentivo”.

    “Conforme os usuários passam mais tempo na plataforma, eles recebem criptomoedas, chamadas de ‘tokens de utilidade’, que podem ser usadas para comprar bonecos, cruzar personagens e gerar armaduras, mas que, no final, no mundo real, valem dinheiro”, afirma Percigo.

    O jogo CyrptoKitties, em que o usuário pode criar modelos de gatos virtuais, por exemplo, utiliza o ativo digital ether, que valorizou 434% em 2021, enquanto o Decentraland, parecido com o jogo The Sims, representando a vida real, usa a cripto Mana, que cresceu em 49 mil vezes, neste ano.

    Na segunda-feira (22), às 12h22, horário de Brasília, o primeiro custava US$ 4.232, e o segundo custava US$ 3,87.

    Balada do Decentraland
    Balada do Decentraland / Facebook

    Um levantamento da QR Asset Management apontou que a Mana foi a segunda criptomoeda com melhor desempenho em outubro, com valorização de 334,81% no mês, atrás apenas da critpo-meme Shiba Inu.

    Porém, enquanto Augusto acredita que haja espaço dentro desse universo para investidores que queiram apenas comprar as criptomoedas e não jogar, Tatiana Revoredo, professora do Insper, recomenda que os ativos digitais só sejam adquiridos por pessoas que joguem, “já que vão entender completamente onde estão colocando seu dinheiro”.

    Metaverso, blockchain e jogabilidade

    Outra estratégia que tem chamado a atenção dos jogadores é o metaverso, termo usado para definir um tipo de realidade virtual compartilhada. A professora do Insper explica que a tecnologia possibilita a “interoperabilidade” entre os jogos, ou seja, um artefato de um jogo “A” pode ser usado em “B”. Os programadores só precisam adaptar seus jogos para receber um determinado NFT.

    Essa migração de avatares é possível por conta do SDKs (Software Development Kit), um conjunto de ferramentas dos blockchains que cria aplicativos e jogos que interagem entre si.

    “Por ser feito nesse universo descentralizado, não existe um intermediário para aprovar as transações”, explica Tatiana. “Existem apenas mineradores ou outros mecanismos de consensos que validam as operações, mas não tem uma entidade centralizada para aceitar todas as negociações”.

    O bilionário Mark Zuckerberg – cuja fortuna é estimada pela Forbes em US$ 124,8 bilhões – e CEO do Facebook divulgou ainda mais o conceito de metaverso, após trocar o nome da sua holding para Meta. 

    “O aumento do escopo da empresa [de Zuckerberg], que passou a ter seu próprio criptoativo e a fazer testes com realidade virtual pode casar perfeitamente com o novo nome, mas ainda será preciso esperar para ver se a realidade faz jus ao nome ousado”, acredita o analista do Mackenzie.

    Riscos

    Para os especialistas, existem dois grandes riscos: o mecanismo de incentivo não ser bem estruturado e a segurança de que os jogos são desenvolvidos por empresas que realmente utilizam blockchains.

    Criar um jogo nesse universo é simples, basta utilizar o SDK. Contudo, Tatiana argumenta que os jogos precisam se otimizar constantemente para que novos usuários entrem na plataforma e comprem suas criptomoedas. “Pois, caso contrário, o rendimento de um determinado ativo digital pode até crescer, mas cairá logo, e todo recurso colocado pelo usuário poderá ser desvalorizado” – essa adaptação nos jogos é chamada de “Token Economy”.

    E, apesar do blockchain ser conhecido como uma tecnologia difícil de ser hackeada, os jogadores colocam suas criptomoedas em carteiras digitais, ou cold wallets, uma plataforma onde os investidores costumam armazenar criptomoedas e NFTs, “e é nesse momento que hackers podem invadir o sistema e roubar os tokens dos jogadores”, diz Tatiana.

    Dessa forma, como saída, os especialistas recomendam que seja usado um computador para tarefas pessoais e outros para jogos.

    Em junho de 2020, por exemplo, com o objetivo de garantir mais segurança aos jogadores, o Decentraland e a Samsung fecharam uma parceria para que os usuários consigam armazenar a Mana no blockchain da varejista.

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