Investimentos sustentáveis: veja se vale a pena e quais cuidados é preciso ter
Investidores podem optam por ativos de empresas que oferecem soluções sustentáveis e que possam ter impactos sociais
Os investidores que, além do lucro, buscam empresas preocupadas com a sustentabilidade podem encontrar fundos, ações e ETFs ligados a investimentos sustentáveis para alocar seus recursos.
Esses investimentos normalmente passam pelo filtro ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês) usado para designar um conjunto de princípios e processos que se baseia em três eixos: meio ambiente, social e governança. Assim, investidores optam por ativos de empresas que oferecem soluções sustentáveis e que possam ter impactos sociais, não apenas o lucro pelo lucro.
“Empresas sustentáveis tendem a ter menores riscos, pois alinham governança corporativa, melhores práticas ambientais vigentes e responsabilidade social. Contudo, também apresentam os riscos inerentes à renda variável. As oportunidades estão nas organizações que alinham sustentabilidade, performance operacional, projeção de crescimento e retorno aos acionistas”, diz Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Há diversas empresas que, apesar de não trabalharem apenas com a sustentabilidade, incorporam aspectos ESG em suas operações. O índice ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) B3, por exemplo, que reúne empresas que passam pelo filtro ESG na bolsa brasileira, conta com companhias que vão desde varejistas até instituições financeiras.
Há também outras que trabalham exclusivamente com negócios “limpos”. Considerado vilão durante muitos anos, o urânio, por exemplo, passou a ser notado, já que a geração de energia feita usando essa commodity como base não emite CO², gerando uma energia limpa.
Para Fernanda Guardian, analista da casa de análises Levante, por mais que muitas pessoas tenham uma visão sobre urânio ser perigoso ou prejudicial ao meio ambiente, a verdade é que a energia nuclear é considerada uma das energias mais limpas do mundo. “Isso porque o processo de obtenção de energia a partir do urânio não implica uma queima, mas apenas a fissão nuclear que não emite gases do efeito estufa”, afirma.
“O mercado hoje possui um descasamento interessante e atraente em relação à oferta e demanda, pois a demanda está aumentando visto que a China tem construído reatores nucleares. Do lado da oferta, a produção de urânio não é tão simples e envolve uma cadeia de logística, de engenharia e de segurança. Portanto, a tese de urânio baseia-se no fato de existir uma demanda crescente e uma oferta que não será compensada rapidamente, levando ao possível aumento de preço da commodity”, disse.
Vale a pena?
Os especialistas consultados são unânimes ao apontar que a agenda ESG pode ser positiva para o investidor, dado que empresas que passam por esse filtro podem ter menos crises por deslizes ou algum desastre ambiental.
Mas, os investidores precisam ficar atentos aos níveis de risco e a composição da carteira de investimentos, que deve estar balanceada.
“É preciso levar em conta o perfil de risco de cada investidor. Alguns apresentam tolerância maior à volatilidade, outros preferem abrir mão de parte da expectativa de retorno e adotam uma carteira menos volátil. Depois é definir a porcentagem de alocação do capital em cada classe de ativo”, diz Gonçalvez.
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, além da composição básica de uma carteira, também é preciso estar atento para se o racional por trás desse tipo de investimento fará sentido no longo prazo.
“Por mais que as questões ESG sejam cada vez mais relevantes, ainda não temos como deixar de usar o petróleo, e a redução dos investimentos no setor podem fazer com que haja problemas estruturais, levando a aumento de custos. Nós veremos os impactos no médio e longo prazo, então, temos tempo para focar no desenvolvimento de alternativas”, afirmou.