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    Dólar desacelera, mas segue nas alturas e brasileiros trazem dinheiro de fora

    No geral, fluxo cambial é negativo no ano. Mas cresceu o volume resgatado de fora do país por brasileiros que aproveitam a cotação alta para acumular mais reais

    Luísa Melo, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O dólar nas alturas fez crescer a quantidade de dinheiro trazida do exterior por brasileiros. A escalada da moeda dos Estados Unidos nos últimos meses foi motivada pelo movimento oposto, de fuga de capitais. A incerteza gerada pela crise do coronavírus provocou uma onda de aversão ao risco em todo o mundo e fez investidores retirarem recursos aplicados em mercados emergentes, como o Brasil, para apostarem em ativos mais seguros. De janeiro a maio, o fluxo cambial, balanço da quantidade da moeda norte-americana que entra e sai do país, ficou negativo em US$ 9,6 bilhões. 

    Mas se os estrangeiros levam seus dólares embora, por outro lado, brasileiros estão aproveitando a cotação alta para trazer de volta quantias aplicadas lá fora e acumular mais reais. O dólar quase atingiu R$ 6 em maio, mas perdeu força e agora está em um patamar próximo dos R$ 5. Ainda assim, a valorização acumulada neste ano chega a 26,7% e especialistas esperam que a “repatriação” continue enquanto a moeda valer mais que R$ 4. 

    “O dólar acima de R$ 5 é irresistível para quem tem recursos lá fora realizar lucros aqui”, diz Fernando Bergallo, sócio da FB Capital. “O brasileiro está olhando para a taxa de câmbio de quando que ele mandou o dinheiro, o estrangeiro não faz essa conta”.

    Antes da crise, cerca de 90% das operações feitas na corretora eram de saída de recursos. Os volumes de entrada começaram a aumentar a partir de março e, em maio, superaram os envios pela primeira vez, chegando a 60% do total. “É algo que nunca se viu”, afirma Bergallo.

    Ele conta que clientes que compraram imóveis em Miami durante o “boom” de 2012 (quando o dólar valia próximo de R$ 2), por exemplo, estão agora vendendo esse patrimônio para lucrar com a taxa de câmbio. “Muitos nem tinham a intenção de se desfazer dos imóveis, mas aproveitaram a oportunidade.”

    O movimento também foi observado pela Frente Corretora. Empresários têm trazido recursos aplicados fora do país diante da maior necessidade de capital gerada pela crise e também das oportunidades de fazer aquisições, segundo Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente. “O caixa se valorizou lá fora e vai ser utilizado aqui.”

    De acordo com o Banco Central, nos quatro primeiros meses de 2020 (dados mais recentes), regressaram ao Brasil US$ 6,6 bilhões em investimentos diretos, categoria que abrange a compra e venda de imóveis e também aportes de empresas. O volume é 753% maior do que os US$ 779 milhões trazidos em igual período de 2019 e 49,6% superior ao trazido durante todo o ano passado, de US$ 4,4 bilhões. Só em abril, US$ 1,7 bilhão retornaram para o país, contra US$ 365 milhões um ano antes, alta de 373%.

    Já os investimentos feitos no exterior partindo do Brasil somaram US$ 3,8 bilhões no quadrimestre, queda de 2,8% contra os US$ 3,9 bilhões aportados entre janeiro e abril de 2019. Em abril, os valores somaram US$ 289 milhões, queda de 82% em relação aos US$ 1,6 bilhão aplicados um ano antes.

    Transferências diretas

    A crise e o câmbio alto também fizeram crescer o envio de quantias por pessoas físicas para o Brasil via transferências. “Vejo aumentar muito o fluxo de pequenas remessas para ajudar familiares”, diz Velloni, da Frente. A corretora tem participação em uma empresa especializada nesse tipo de operação, a Star, sediada na Flórida.

    A quantidade de dinheiro trazida para o Brasil pelo serviço online TransferWise atingiu em março o maior nível desde que a empresa começou a operar no país, há quatro anos. “Tivemos uma alta histórica, um volume 50% maior do que o pico anterior, atingido em agosto do ano passado. Isso aconteceu por conta da alta do dólar, ligada à Covid-19”, diz a gerente-geral Heloisa Sirotá.

    Para se ter uma ideia do efeito da valorização do câmbio, em dólares, o volume transferido para o país pela empresa em março e abril foi 12% maior do que a média transacionada em 2019. Mas, convertido em reais, o aumento sobe para 34%.

    Nos quatro primeiros meses do ano, US$ 1 bilhão foram trazidos para o Brasil via transferência direta entre pessoas físicas, contra US$ 920 milhões no mesmo período do ano passado, uma alta de 14,7%. Apenas em abril, foram US$ 235,6 milhões, 3,5% mais que um ano antes, conforme os dados do BC.

    Por outro lado, US$ 72 milhões foram enviados no primeiro quadrimestre, volume 59% menor do que o registrado um ano antes. Em 2020, o pico nos valores trazidos mensalmente para o Brasil foi de US$ 325,9 milhões, registrado em janeiro. Foi o segundo maior volume de toda a série histórica do BC, iniciada em 1995. Os valores só ficam atrás dos de maio de 1995 (US$ 386 milhões) e outubro de 2008 (US$ 345,1 milhões). 

    Outros investimentos

    Investidores também têm se desfeito de aplicações em renda variável que se desvalorizaram fora do país para ter algum ganho na conversão na hora de trazer o dinheiro de volta.

    “De janeiro a abril, o Dow Jones perdeu 14,7%. Na cotação média, o dólar teve valorização de 27% no mesmo período. Seria um ganho de mais 12% enquanto o mercado estava despencando”, exemplifica Velloni. 

    Bergallo, da FB Capital, afirma que a valorização do câmbio é tão intensa que a jogada continua significativamente interessante mesmo quando há perda lá fora e depois de descontados todos os impostos envolvidos. “Do primeiro pregão do ano até o dia em que o dólar atingiu R$ 5,90, a alta era e 47%. Nenhum ativo lá fora perdeu valor nessa magnitude”. Para ele, o movimento só deixará de valer a pena quando a taxa de câmbio estiver abaixo de R$ 4.

    O paulistano Thiago Von Ancken, que mora há um ano na Inglaterra, sente que perdeu uma janela de oportunidade com a desvalorização recente do câmbio. Como o real também subiu frente à libra nos últimos dias, ele calcula que deixou de ganhar R$ 7 mil ao enviar dinheiro para o Brasil neste mês, e não em maio.

    “Tive um atraso no recebimento do meu dinheiro aqui em Londres e isso me fez perder uma quantia considerável”, diz o advogado, que está organizando sua festa de casamento no país para o início de 2021.

    Os dados do BC mostram que o volume obtido com a venda de ações no exterior aumentou. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram US$ 913 milhões, contra US$ 396 milhões em igual período do ano anterior. Em abril, foram US$ 232 milhões, contra US$ 113 milhões um ano antes.

    Mas o volume comprado em ações fora do país também cresceu e é superior ao das vendas. Acumula US$ 1,6 bilhão no ano, contra US$ 422 milhões em igual período do ano passado. 

    Para Bergallo, o movimento de trazer de volta o dinheiro que está fora do país só não é maior porque a fraqueza da economia e incerteza quanto ao agravamento da dívida do governo ainda inibem aportes em renda variável no Brasil e a renda fixa não é atraente com os juros baixos.

    “Com a crise fiscal super aguda, a pessoa traz o dinheiro e faz o que com ele aqui?”, questiona.

    É preciso fazer conta

    Quem vai trazer dinheiro investido no exterior tem de fazer algumas contas. No caso de investimentos, é preciso lembrar que os rendimentos são sujeitos a impostos no país de origem. Depois de trazido o dinheiro, é preciso pagar imposto de renda sobre o ganho de capital obtido com a conversão do câmbio. Segundo Bergallo, na FB Capital a alíquota do IR nesses casos tem girado em torno de 15%. 

    Além disso, sobre qualquer transferência de dólares incide o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), cuja alíquota é 0,38% ou 1,1%, a depender de a transação ser feita entre contas de uma mesma pessoa, ou para terceiros.

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