‘Dogecoin Millionaire’: brasileiro fica milionário comprando dogecoin
Glauber Contessoto, 33, juntou suas economias e pediu dinheiro emprestado para familiares para investir no memecripto
De Maringá, no Paraná, para Los Angeles, nos Estados Unidos — com os bolsos cheios de dogecoin. Glauber Contessoto, 33, é mais um jovem que fez fortuna apostando em criptoativos. Ou, mais do que isso, é a personificação da insatisfação do pequeno investidor de varejo com o mercado financeiro. Mas vamos por partes.
Glauber e a família se mudaram para os Estados Unidos em 1994, quando ele tinha 6 anos. À época, seu pai, que é cantor de ópera, recebeu uma bolsa para estudar música no estado de Massachusetts, transferindo posteriormente os estudos para Maryland, em cidade próxima à capital Washington D.C.
“Na minha família, só meu pai fez faculdade. Quando chegamos em Maryland, fomos para a igreja e minha mãe começou a buscar trabalho com a comunidade brasileira, limpando casas. A gente morava num apartamento pequeno e eu dividia quarto com a minha irmã”, lembra Contessoto, mesclando palavras em português e inglês.
Ele conta que, quando tinha 15 anos, seus pais se divorciaram e ele se mudou novamente, para o estado da Virgínia, mas logo voltou para Maryland. Sem grande interesse pelos estudos, deixou a escola e tentou se virar trabalhando em redes de fast food como Pizza Hut e Taco Bell.
Neste período, estimulado pelo crescimento da internet e pela massificação do hip-hop, seu gênero musical preferido, começou a enveredar pela área de produção audiovisual. Aprendeu a captar e editar vídeos, seguindo tutoriais no YouTube, e buscou parcerias com jovens artistas para produzir conteúdo.
Conheceu, então, um rapper da sua área chamado Lambo Anlo. Os dois logo ficaram amigos e passaram a trabalhar juntos, com Glauber cuidando da carreira do músico. “Fizemos muitas coisas legais em 2, 3 anos, mas ele não estourou. Decidi, então, que precisávamos ir para Nova York ou Los Angeles”, diz.
O jovem escolheu a Califórnia e atravessou o país atrás do seu sonho — criar um selo de rap. À procura de trabalho, precisou dormir por mais de um ano em sofás de amigos, até que conseguiu um contrato para Anlo com a gravadora Rostrum Records e um emprego “normal” como videomaker em uma produtora.
“Em 2018 tive meu primeiro trabalho de verdade, fazendo vídeos sobre a cultura hip-hop. Comecei ganhando US$ 36 mil por ano. Em 2019 esse valor foi para US$ 45 mil e, em 2020, para US$ 60 mil. Estava conseguindo juntar um dinheiro e não queria que ficasse parado no banco”, afirma.
Quando ele fez sua primeira transferência de US$ 5 mil para a corretora Robinhood, em 2019, as ações da Tesla despencavam com o mercado preocupado com a capacidade da empresa de crescer. Esse foi o primeiro “all-in” de Contessoto. “Não tinha dúvidas que o futuro desse mercado seriam os carros elétricos”, diz. Os papéis dispararam.
Após o crash da pandemia, decidiu diversificar. Comprou, por exemplo, ações da empresa de cruzeiros Carnival Cruise Line, que haviam despencado por conta do fechamento da economia americana. Nessa altura, conheceu também os subfóruns de investimento do Reddit e fez parte do fenômeno GameStop.
“Quando soube do short squeeze de GameStop, não gostei da tese inicialmente porque eram lojas físicas de jogos, algo ultrapassado. Depois entendi que era um movimento dos pequenos investidores se juntando contra os bilionários de Wall Street e decidi investir. Mas, como comprei na alta, perdi dinheiro com o ativo”, conta.
“Ainda no Reddit, descobri o mundo dos criptoativos e criei minha tese de investimento à volta do dogecoin. Pensei assim: se o bitcoin é o ouro digital, porque é finito, o que será o dólar digital? Dogecoin! A minha geração se formou com memes e Elon Musk está apoiando essa cripto.”
Depois dessa revelação, Glauber vendeu todas as posições que tinha em outros ativos, ligou para familiares para pedir dinheiro, utilizou o limite de compra a descoberto da Robinhood e, no dia 5 de fevereiro, comprou cerca de US$ 200 mil em dogecoin, o que lhe rendeu 5 milhões de moedas (a US$ 0,04 cada).
Paralelamente, os criptoativos viveram um boom de valorização no primeiro trimestre de 2021 e o dogecoin chegou a avançar 12.000% no ano, para US$ 0,72 na máxima em 7 de maio. Ou seja, em menos de três meses, o investidor se tornou milionário apostando em uma memecripto.
(O Robinhood, que tinha emprestado limite para Contessoto dar all-in em DOGE, vendeu automaticamente 1 milhão de moedas para cobrir a dívida, o que deixou o total em 4 milhões de moedas.)
“No começo, eu ficava toda hora conferindo o saldo, mas já havia pedido registro de marcas como Slumdoge Millionaire e Dogecoin Millionaire, porque sabia que o ativo ia se valorizar e queria fazer disso uma marca. Deslanchou finalmente no início de abril e, no dia 15, 69 dias após meu aporte inicial, fiquei milionário. Liguei para a minha mãe chorando, dizendo que ela não precisava mais trabalhar”, diz.
Desde então, e com a “ajuda” do mesmo Elon Musk que defendia os criptoativos com tuítes e memes, o mercado vem se desvalorizando. No dia 27 de maio, cada DOGE valia US$ 0,33, o que dá a Glauber um patrimônio de US$ 1,3 milhão. Mas ele não parece muito preocupado com a correção nos preços.
“Continuo comprando, porque acho que estes movimentos são parte da dinâmica do mercado. Eu acredito que dogecoin pode valer US$ 1, US$ 2, US$ 3 e que o Musk apontou os problemas na mineração do bitcoin para que as pessoas procurem outras soluções, como DOGE.”
O videomaker também pondera que existe uma questão tributária importante. Se ele quisesse realizar seu lucro agora, pagaria 40% em impostos. Quando a transação completar um ano, este valor diminui para 15%. “O que é mais um ano de trabalho? Eu não era ninguém e virei alguém da noite para o dia.”
Além de ajudar a família, Glauber quer investir em três vertentes profissionais: um selo de rap, para abrigar Lambo e outros rappers de talento; um canal de YouTube para falar de cultura hip-hop; e uma companhia, a Dogecoin Millionaire, para produzir conteúdo sobre criptoativos.
Questionado sobre qual será sua próxima aposta, ele diz que segue firme com DOGE. “Muitas pessoas têm falado comigo sobre criptomoedas novas, mas eu digo para terem cuidado. Elas surgem todos os dias e podem ser esquemas. Dogecoin foi lançada em 2013, tem histórico”, defende.
Ao mesmo tempo, em relação ao risco de se investir em ativos sem grande tese por trás, ele vislumbra grandes mudanças no mercado financeiro. “Tudo que a gente conhece sobre investimentos vai mudar. A minha geração não quer ficar rica aos 50, e sim agora. Não temos tempo para esperar.”