Crise bancária pode estimular volta dos IPOs, aponta especialista
Com condições rígidas de acesso a crédito, outro modo de empresas adquirirem capital é pela venda de ações
Os alertas de recessão são generalizados, a inflação continua elevada e os juros também. A Rússia continua a travar uma guerra na Ucrânia e os mercados estão girando enquanto os investidores tentam entender tudo isso. Resumindo: o quadro macroeconômico global é sombrio.
Apesar de tudo, os negócios em Wall Street parecem estar voltando. Houve 39 ofertas públicas iniciais (IPOs) dos EUA precificadas até agora este ano, de acordo com dados da empresa de pesquisa de IPO Renaissance Capital, um aumento de 77% em relação ao mesmo período de 2022.
Então, por que isso está acontecendo? A crise bancária causada pelo recente colapso do Silicon Valley Bank e do Signature Bank pode ser a causa.
A turbulência bancária regional levou a condições de crédito mais rígidas, o que pode levar algumas empresas a abrir o capital, disse Barrett Daniels, colíder de IPO dos EUA na Deloitte.
Sem acesso a empréstimos de bancos e private equity, as empresas precisam conseguir dinheiro em outro lugar. Vender ações para investidores é uma maneira de fazer isso.
“Está tudo sobre a mesa agora”, disse Daniels. “Ninguém quer ver um monte de empresas falindo.”
O recente aumento na atividade é incomum. A negociação normalmente cresce quando os mercados estão estáveis e as empresas se sentem bem.
Quando a economia está em crise, as companhias gostam de controlar as ofertas públicas e as atividades de aquisição.
O mercado de IPO passou de boom a colapso em 2022 – a atividade global de IPO foi cortada quase pela metade e as coisas foram ainda piores nos Estados Unidos, onde somente 149 IPOs foram lançados em comparação com 908 em 2021. No mesmo período, o S&P 500 caiu mais de 18%.
Agora, uma onda de otimismo está tomando conta do mercado. “Apesar do cenário econômico e geopolítico implacável, há luz no horizonte com o pico da inflação, o abrandamento dos preços da energia e a recuperação da economia da China continental”, escreveram analistas da EY em nota.
Muitas empresas fizeram uma pausa nos planos de abrir o capital no ano passado, esperando fazer sua estreia no mercado em tempos mais otimistas, destaca Daniels.
Ele disse anteriormente que existem mais de 1.000 empresas no valor de mais de US$ 1 bilhão que estão preparadas para abrir o capital, mas esperam a melhora da economia primeiro. Isso pode acontecer mais cedo ou mais tarde, complementa.
“Parece que há um consenso de que o quarto trimestre [de 2023] é um ponto de partida para uma recuperação do mercado de IPO”, aponta Daniels. “Quando abrir, vai ser gangbusters.”
Para o colíder de IPO dos EUA na Deloitte, algumas ofertas bem-sucedidas podem ser o suficiente para transformar o riacho de uma garoa em um dilúvio completo.
É por isso que os investidores estão acompanhando de perto a cisão da Johnson & Johnson de seu negócio de consumo, Kenvue.
A Kenvue abrigará um portfólio de marcas domésticas como Tylenol, Band-Aid, Aveeno, Neutrogena, Listerine e Johnson’s.
Em um comunicado na segunda-feira, a empresa disse que planeja precificar as ações entre US$ 20 e US$ 23 em um IPO ainda este ano.
A cisão seria avaliada em cerca de US$ 40 bilhões, tornando-se a maior oferta até agora neste ano.
Não são apenas IPOs. As fusões e aquisições no setor de saúde totalizaram mais de US$ 119,6 bilhões até agora este ano, um aumento de 62% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Refinitiv.
Globalmente, as ofertas subsequentes (quando uma empresa emite mais ações para levantar capital extra) aumentaram cerca de 22% em relação ao ano passado.
IPOs e atividades de fusões e aquisições significam muito dinheiro para empresas financeiras que ganham taxas significativas para facilitar essas transações. O aumento da atividade significa bônus maiores e um setor financeiro mais forte.