Conta conjunta: veja os riscos e as vantagens de ‘juntar os trapos’ nas finanças
Compartilhar a conta bancária pode facilitar a administração de gastos em comum, mas demanda muito diálogo e pode ter uma série de implicações não desejadas
O namoro começa a ficar sério, surgem projetos em comum e, com eles, a necessidade de organizar o orçamento e juntar dinheiro a dois. Uma das alternativas para estruturar as finanças do casal é ter uma conta conjunta no banco. Ela pode facilitar a divisão e o pagamento de despesas compartilhadas, especialmente para os que moram juntos, mas envolve uma série de riscos, alertam especialistas.
A conta conjunta é aquela que pertence a mais de uma pessoa. Ela pode ser corrente ou poupança e de dois tipos: solidária ou simples, também chamada de não solidária. No primeiro caso, todos os donos da conta têm liberdade para movimentá-la como preferir (fazer saques ou contratar produtos financeiros, por exemplo). No segundo, qualquer transação precisa ser aprovada por todos os titulares.
Escolher compartilhar ou não a conta bancária demanda bastante conversa prévia. Casais precisam falar sobre dinheiro, esse é um conselho unânime entre os planejadores financeiros. Saber o quanto o outro ganha, gasta e quais objetivos pretende alcançar – e como – é fundamental para que os parceiros cresçam e realizem planos juntos, afirmam.
E se a opção for pela conta conjunta, antes de tudo, é preciso decidir se todos os rendimentos do casal irão para uma única conta, ou se cada um terá a sua própria e uma terceira apenas para gerenciar os gastos que são divididos e investir nos planos em comum – o que é mais recomendado.
“É importante que cada um tenha a sua individualidade, mas que os dois se somem para construir coisas juntos”, diz a planejadora financeira Viviane Ferreira, certificada pela associação Planejar.
Em seguida, é preciso pensar ainda se os dois sempre vão “abastecer” a conta e dividir as despesas igualmente, ou se a contribuição será proporcional ao salário de cada um, caso um parceiro ganhe mais do que o outro.
“Isso vai depender muito da configuração de cada casal. O mais interessante é que não fique muito pesado para quem ganha menos, que não exista um rico e um pobre na mesma casa”, diz Ricardo Fiorelli, planejador da consultoria Finanças Para Dois.
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Vantagens
Ter uma conta conjunta proporciona algumas vantagens. Quando os dois têm acesso a um dinheiro que é do casal, fica mais prática a gestão de despesas que são repartidas, como as da casa, no caso dos que moram juntos.
Com os recursos de ambos em uma mesma conta, também é mais fácil juntar uma quantia mais alta para investir para realizar algum plano em comum – e muitos produtos financeiros exigem aportes mínimos.
Mas é preciso deixar claro que só é possível abrir contas em corretoras com um único CPF, ou seja, na hora de aplicar a quantia, um dos parceiros ficará responsável pelo dinheiro sozinho.
Pela mesma lógica, um cartão de crédito único possibilita o acúmulo de mais pontos para serem trocados por milhas aéreas.
Riscos
Mas dividir a conta bancária também traz diversos riscos. Primeiro, é preciso lembrar que qualquer empréstimo tomado por meio de uma conta conjunta é uma dívida dos dois.
Além disso, se algum dos integrantes do casal tiver algum débito em uma conta individual, for processado e sofrer uma execução, é possível que os recursos da conta conjunta sejam bloqueados por meio do mecanismo de penhora online.
“Existem instrumentos jurídicos para resolver isso, mas há um incômodo imediato, leva tempo e custa a contratação de um advogado”, alerta Francisco Kümmel, do escritório CMT Advogados, especialista em Direito Civil.
É chato pensar em separação ao começar uma vida a dois. Mas as chances existem e, caso o relacionamento termine, o montante que estiver na conta conjunta será dividido igualmente entre os titulares, independentemente do quanto cada um tenha contribuído para formar aquela reserva.
E mesmo que o casal seja apenas de namorados, sem formalização, caso algum dos dois venha a falecer, normalmente a regra aplicada pela Justiça é a mesma que vale para os casamentos em regime de comunhão parcial de bens. A metade do dinheiro que pertencia ao correntista falecido vai a inventário e o valor é repartido entre herdeiros.
“Para os namorados, eu não recomendo abrir uma conta conjunta. Porque existem mais riscos do que qualquer outra coisa”, diz Fiorelli, da Finanças Para Dois. “Conta conjunta é muito anos 1980, hoje existem outros mecanismos de colaboração. Ela pode ser uma solução, sim, mas não é mais necessária”, emenda Kümmel.
‘Finanças a dois’
Para Fiorelli, acima de tudo, é fundamental que os casais façam planos financeiros em conjunto. E que depois do diálogo inicial sobre o assunto, outros aconteçam periodicamente.
“É importante que se perguntem: você está satisfeito com a sua vida financeira? Se não está, por que? O que mais quer alcançar?”, afirma. “Um terço dos casamentos termina em divórcio no Brasil. Quando há conversa, essa taxa tende a diminuir, porque um sabe o que o outro quer”.
Discutir abertamente sobre finanças ainda é um tabu. E é natural que esse tipo de conversa não seja fácil.
“Acontece que quando a gente conversa sobre dinheiro, nunca é só sobre dinheiro. Tem sempre uma carga emocional inconsciente por trás, crenças trazidas de família. É muito importante o casal se abrir para entender como cada um cuida do assunto e ter consciência de que pode construir uma nova história juntos”, diz Kümmel.
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