BlackRock vê descarbonização como maior oportunidade de investimento da história
Em carta para CEOs, Larry Fink falou sobre o potencial dos investimentos sustentáveis
Larry Fink, o presidente da empresa de investimentos BlackRock, escreve anualmente uma carta para os presidentes de companhias norte-americanas, e na deste ano, divulgada nesta terça-feira (18), ele afirmou que a descarbonização da economia representa a “maior oportunidade de investimento de todos os tempos”.
Essa não é a primeira vez que Fink cita o impacto dos riscos climáticos e seus efeitos sobre o mundo dos investimentos. Há dois anos, em outra carta, o presidente da maior gestora de ativos do mundo – com US$ 10 trilhões em ativos – já havia falado sobre a temática ESG (Meio ambiente, social e governança, em inglês) e seus possíveis efeitos.
“E, nesse curto período, vimos um deslocamento gigantesco de capital. Os investimentos sustentáveis atingiram US$ 4 trilhões”, afirmou.
Para ele, esse “gigantesco deslocamento para os investimentos sustentáveis” ainda está acelerando, e tem focado nas áreas de inovação energética e de transferência de capital de ativos tradicionais para portfólios e produtos mais personalizados.
O responsável pela companhia de investimentos afirma que “todas as empresas e todos os setores serão transformados pela transição para um mundo de emissão zero. A pergunta é: você conduzirá ou será conduzido?”.
A expectativa de Fink é que, nos próximos anos, a indústria automobilística seja reimaginada, com um foco nos veículos elétricos e um protagonismo na descarbonização da economia. Esse processo também deve atingir outras áreas de transporte, assim como agricultura, energia, construção e siderurgia.
Apesar de criar oportunidades, ele diz que a descarbonização “também deixará para trás as empresas que não se adaptarem, não importando o setor em que se encontrem. E, como algumas empresas correm o risco de ficar para trás, o mesmo também poderá ocorrer com cidades e países que não planejarem o futuro”.
Fink também citou um desafio nesse processo: reduzir o chamado “prêmio verde”, um custo extra de produtos ecológicos, que ainda são mais caros hoje em dia. Para ele, apenas com a redução dessa diferença será possível ter uma transição “ordenada e justa”.
“A transição para emissão zero já é irregular, com diferentes partes da economia global se movendo em velocidades diferentes. Ela não acontecerá da noite para o dia. Precisamos passar por tons de marrom até chegar aos tons de verde”, avalia.
O presidente da BlackRock acredita, ainda, que o ritmo da descarbonização deve ser diferente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nesse sentido, ele defendeu uma parceria entre os setores público e privado para acelerar esse processo.
“Foi a parceria entre o governo e o setor privado que levou ao desenvolvimento de vacinas contra Covid-19 em tempo recorde. Quando usamos o poder dos setores público e privado, podemos realizar coisas realmente incríveis. Isso é o que devemos fazer para chegar à emissão zero”.
Polarização traz riscos
Na carta deste ano, Fink também faz um alerta para os riscos ainda latentes relacionados à polarização exacerbada pela pandemia de Covid-19. O empresário coloca esse cenário como um desafio para os CEOs à medida que a pandemia aprofundou a degradação da confiança em instituições tradicionais e exacerbou a polarização em muitas sociedades ocidentais.
“Essa polarização apresenta uma série de novos desafios para CEOs. Ativistas políticos, ou a mídia, podem politizar o que sua empresa faz. Eles podem sequestrar sua marca para avançar suas próprias agendas. Nesse ambiente, os fatos em si são frequentemente contestados, mas as empresas têm a oportunidade de liderar”, diz.
Esse contexto, segundo ele, reforça a necessidade de as empresas terem uma “voz consistente, um propósito claro, uma estratégia coerente e uma visão de longo prazo”.
“O objetivo da sua empresa é definir seu rumo neste ambiente turbulento. Os stakeholders dos quais sua empresa depende para gerar lucros para os acionistas precisam ouvir diretamente de você – estar engajados e ser inspirados por você. Eles não querem nos ouvir, como CEOs, opinar sobre cada questão do dia, mas precisam saber nossa posição em relação às questões sociais intrínsecas ao sucesso de longo prazo de nossas empresas”.