Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    BC é evasivo sobre corte de juros e divide mercado entre “duro” e “neutro”, dizem economistas

    Avaliação de especialistas é que mensagem dada pelo Banco Central nesta quarta-feira deixou sinais mistos e pouco diretos a respeito da possibilidade de começar a cortar a Selic

    Juliana Eliasda CNN Em São Paulo

    Na primeira hora que se seguiu após o Banco Central (BC) divulgar, às 18h36 desta quarta-feira (21), a sua decisão de manter, mais uma vez, a Selic em 13,75%, os economistas estavam mais desconcertados que o normal.

    É nesse momento que eles costumam compartilhar com colegas e clientes seus primeiros comentários e análises a respeito das mensagens deixadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a decisão tomada para a taxa de juros.

    O Copom faz isso por meio do comunicado que divulga junto com a Selic.

    Depois de uma sucessão de meses em que o comitê seguiu divulgando comunicados bastante duros e sem sinal nenhum de corte de juros em um futuro próximo, o documento desta quarta-feira trouxe as primeiras grandes mudanças em relação ao padrão do que vinha sido dito.

    O texto deixou, por exemplo, de mencionar que ainda poderia voltar a subir juros caso o cenário de preços não melhorasse.

    Na visão geral de economistas consultados pela CNN, essas alterações já mostram um BC um pouco menos inflexível do que o dos meses anteriores.

    Uma parte dos especialistas, porém, avalia que, mesmo assim, o tom continua duro e sem sinais claros de cortes.

    Para outra parte, o texto foi “neutro”, ou seja, não deixa claro nem se os juros serão cortados, nem se serão mantidos nas próximas reuniões.

    Ninguém, porém, avalia a nova mensagem do Banco Central sobre o futuro da Selic como otimista, suave ou “dovish”, conforme o termo em inglês usado pelo mercado financeiro.

    A manutenção da taxa nos 13,75% já era amplamente esperada e veio sem surpresas. Muitos economistas, porém, já acreditavam que havia fatores o suficiente para que o BC incluísse sinais mais claros de corte de juros em seu horizonte — o que, definitivamente, não aconteceu.

    Mais agressivo do que podia

    “A linguagem mais suave não se efetivou explicitamente, a não ser pela retirada do temido alerta ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste’, que vinha encerrando os comunicados anteriores”, escreveu o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espirito Santo.

    Como ampla ala do mercado, ele vinha apostando que os cortes nos juros podiam começar já na próxima reunião do BC, em agosto.

    Espirito Santo ainda segue vendo sinais suficientes, da economia e do BC, para que a Selic caia até o fim do ano.

    “Mas, agora, em vez de fazer um corte de 0,25 em agosto e outro de 0,25 em setembro, é possível que o Copom pule agosto e já faça direto um corte de 0,5 em setembro”, disse o economista à CNN.

    “Achamos um comunicado um pouco ‘hawk’ [agressivo]; não foi um comunicado que sinaliza corte já para agosto”, disse a economista da Kinea, Daniela Lima.

    “A barra ainda está um pouco elevada para já cortar os juros em agosto, precisaria de dados um pouco melhores do que o esperado, uma inflação mais baixa e uma melhora maior nas expectativas. Mas a discussão não é mais ‘se’, mas ‘quando’ o BC vai cortar os juros”.

    Lima já não achava que a Selic começaria a cair em agosto e mantém a sua projeção de que isso deve começar a acontecer a partir do encontro de setembro do Copom.

    “O tom foi ainda conservador, apesar da evolução positiva no cenário de inflação e expectativa de corte em agosto pelo mercado”, avaliou o Inter em relatório.

    “Apesar do comunicado não deixar claro a indicação de redução na taxa de juros na reunião em agosto, a evolução dos dados até lá deve permitir o início do afrouxamento monetário”, acrescenta o banco, mencionando fatores ainda pendentes como a aprovação final do novo marco fiscal no Congresso e o futuro das metas da inflação, a ser discutido na próxima semana pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    Nem sim, nem não

    Já com expectativas menos otimistas do que a média do mercado, o economista-chefe da Genial Investimento, José Marcio Camargo, se impressionou menos e classificou o novo tom do Copom como “neutro”.

    “O Banco Central fez, pela primeira vez em muito tempo, um comunicado que eu chamo de neutro: tem aspectos positivos e aspectos negativos”, disse ele em live da corretora promovida logo depois da divulgação da Selic.

    “Desde que a inflação começou a subir, em 2020 e 2021, os comunicados eram basicamente duros — dizia que a inflação e as expectativas podiam sair do controle. (…) Neste, os sinais são de que, daqui para frente, os próximos passos serão ou de estabilidade [da taxa de juros] ou para baixo; não para cima. E isto já é menos duro”.

    “Neutro” também foi o termo usado pelo Goldman Sachs em sua análise para classificar os sinais emitidos pelo BC nesta quarta — ou seja, “não tão agressivo”, de acordo com o comentário do banco.

    “Ao fim, o Copom não sinalizou de maneira explícita ou implícita um corte na taxa em agosto”, escreveu.

    “Mas, ao adotar um viés mais neutro, ao lado de algumas alterações ligeiramente mais suaves em seu comunicado, ele sinaliza indiretamente que a inflação corrente e futura, bem como o balanço de riscos, estão melhorando.”

    O Goldman Sachs avalia que, se a reunião de agosto não trouxer o primeiro corte na Selic, deve, “pelo menos, ter um sinal mais explícito para um provável corte em setembro”.

    Tópicos