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    A vez do agro? Responsável por 21% do PIB, setor começa a buscar o mercado

    Desde o abrandamento da recessão, pelo menos sete empresas do campo decidiram protocolar pedidos de IPO junto à CVM

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Existe um desajuste histórico entre a participação do agronegócio na economia nacional e a penetração de empresas do setor no mercado de capitais. Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o segmento foi responsável por 21,4% do PIB brasileiro em 2019 e cresceu ainda mais em 2020. 

    A participação na B3, por outro lado, não chega a 5% do valor de mercado da bolsa nacional, sendo que as empresas de maior capital são as produtoras de proteína animal (JBS, Marfrig e BRF) e a Cosan, que tem expandido seus negócios para outras áreas, como energia e logística.

    Posto isso, as condições econômicas do país –juros baixos, mercado financeiro em ampla ascensão e um governo menos gastador– podem estar finalmente atraindo o agribusiness para o mercado. Desde o abrandamento da recessão, pelo menos sete empresas do campo decidiram protocolar pedidos de IPO junto à CVM.

    Jalles Machado, produtora de açúcar e etanol, precificou sua oferta em R$ 8,30 por papel. Abaixo da faixa estimada, é verdade, mas movimentando R$ 741,5 milhões, e com estreia agendada na B3 para esta segunda-feira (8). Oleoplan, Boa Safra, Centro de Tecnologia Canavieira, Vittia, Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (categoria B) e Agrogalaxy completam a lista.    

    Antes de celebrar esse novo momento, no entanto, é preciso dar um passo atrás para entender os motivos que levaram o segmento a ficar tanto tempo longe do mercado financeiro. Produtores e investidores passaram anos sem falar a mesma língua, o que atrasou bastante esse desenvolvimento.

    Falta de gestão

    CEO de uma das poucas representantes do setor na B3, a SLC Agrícola, Aurélio Pavinato afirma que um dos grandes impeditivos deste movimento é a dimensão da estratificação do setor. “Existem mais de 5 milhões de produtores no país, mas apenas 12% operam em áreas superiores a 3.800 hectares.”

    “Dentro deste grupo, ainda temos uma porcentagem considerável de plantações geridas por pessoas físicas. São produtores de primeira e segunda geração, que, em sua grande maioria, também não estão aptos para entrar no mercado.” Aqui estamos falando de aspectos como governança e recursos humanos.

    Isso segregou as empresas do setor: os segmentos sucroenergético, de proteína animal e produção de grãos, que ganharam ares de indústria de transformação, foram catapultados à bolsa no início dos anos 2000. Enquanto isso, as empresas voltadas para a produção primária não avançaram tão rapidamente.  

    “Do ponto de vista financeiro, os produtores também tinham muito acesso a crédito estatal, o que os afastava do mercado”, diz Jacyr Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp. Para ele, a coisa começou a mudar com a ampliação do investimento em tecnologia.

    Avanço em tecnologia

    “A produção agrícola brasileira avançou muito em tecnologia. Era um setor intensivo em mão de obra e passou a ser intensivo em capital. Isso fez com que as empresas também investissem em mão de obra mais qualificada do que no passado e, consequentemente, na gestão de pessoas”, afirma.

    Aqui entram melhorias como a utilização de drones e outros aparelhos de precisão para monitoramento das plantações. Mesmo assim, quem conhece do mercado de startups, pouco presente no setor, entende que ainda há muito para crescer, para dentro e para fora da porteira.

    “O agro tem uma produção super relevante no contexto nacional, mas ainda enxergamos como um setor em transformação. Para se ter uma ideia, apenas 6% do dinheiro de venture capital investido no Brasil vai para o agribusiness”, diz Pedro Terra, consultor sênior da Peers Consulting, consultoria especializada em IPOs e M&As.

    Ele afirma que há diversas empresas de logística, de tecnologia e, principalmente, de gestão financeira que poderiam ajudar a acelerar o profissionalismo e eficiência tão desejados pelo mercado financeiro.

    Mercado não ajudou

    Se o setor produtivo tem parte da culpa pelo distanciamento dos setores, o mercado financeiro também não ajudou durante muito tempo. “Os investidores consideravam o segmento muito complexo. Depende de clima, câmbio, ciclo de commodities”, diz Guilherme Grahl, responsável pela carteira de agronegócio da Valora Investimentos.

    Pavinato, da SLC, se recorda que o roadshow da companhia antes de abrir capital em 2007 não foi exatamente simples. Ele conta que boa parte das 123 reuniões, em diversos países, foram quase aulas. 

    Não conheciam como funcionava a produção agrícola, não dominavam como medir indicadores de eficiência.

    Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola

    Nessa seara, o desenvolvimento se deu primordialmente pelo aumento da demanda chinesa, que fez com que a oferta brasileira também avançasse. Isso colocou os holofotes de forma mais contundente sobre o setor e fez com que o mercado finalmente atentasse mais para as possibilidades de investimento.

    Novas formas de financiamento

    Com a melhora das condições, Grahl, da Valora, entende que o esperado encontro entre mercado e agribusiness vai se dar pela necessidade das empresas de administrar sua alavancagem, ou seja, crescer enquanto toma recursos emprestados. “O governo não tem esse dinheiro mais, mas o mercado agora mostra interesse.”

    E essa busca não se limita à bolsa, como mostra a própria carteira da Valora. Administrando R$ 4 bilhões, a gestora tem uma carteira, composta principalmente por FIDCs (fundos) e CRAs (recebíveis), ligada ao agribusiness. Os valores variam entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões.

    Pavinato afirma que o negócio também pode avançar cada vez mais no setor imobiliário, com a aquisição de terras ganhando protagonismo. Lá fora, isso pode ser feito, por exemplo, através de fundos imobiliários. 

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