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    Entenda motivos da queda das ações da Tesla

    Atuação de Elon Musk como CEO do Twitter não foi único fator; empresa enfrenta alguns desafios

    Chris Isidoreda CNN

    Um equívoco popular surgiu sobre Elon Musk e Tesla: de que o caso de amor do megabilionário com o Twitter seria a principal razão pela qual as ações da fabricante de veículos perderam tanto valor este ano.

    Mas a forte venda de ações da Tesla esta semana provou que os problemas na montadora de Musk vão muito além do Twitter.

    Mesmo com o empresário sinalizando que pode desistir do cargo de CEO no Twitter, os investidores ficaram preocupados com o fato de que as perspectivas para as vendas e lucros da Tesla estão piorando.

    Um sinal do enfraquecimento da demanda foi o anúncio de uma promoção pela empresa de automóveis. A companhia ofereceu dois descontos para compradores que escolherem receber um veículo antes do final do ano.

    No início deste mês, foi oferecido um desconto de $ 3.750 (R$ 19.373). O valor descontado então dobrou para US$ 7.500 (R$ 38.746) na quinta-feira (22).

    “A Tesla está claramente começando a ver queda na demanda na China e nos EUA em um momento em que a concorrência está aumentando em todos os setores”, disse Dan Ives, analista de tecnologia da Wedbush Securities.

    Outra razão pela qual as ações da Tesla estão afundando: a economia dos EUA pode entrar em recessão no próximo ano, prejudicando as vendas de carros.

    Musk disse em uma ligação do Twitter Spaces na quinta-feira que prevê que a economia estará em uma “séria recessão” em 2023.

    “Acho que haverá algum drama “macro” que seja maior do que as pessoas pensam atualmente”, avaliou, segundo a Reuters, acrescentando que casas e carros serão “desproporcionalmente impactados” pelas condições econômicas.

    Avaliação questionável do valor da Tesla

    Parte do problema com o preço das ações da empresa é que os críticos questionam se alguma vez valeu a avaliação de trilhões de dólares que ela possuía no início do ano.

    Em seu auge, a Tesla valia mais do que as 12 maiores montadoras do planeta juntas, apesar de ter uma fração das vendas de qualquer uma delas. Hoje vale US$ 399 bilhões. (R$ 2,061 trilhões).

    “Ela se superou no curto prazo”, pontuou Gene Munster, da Loup Ventures, outro fã da Tesla. “Ainda acredito que esta pode ser uma empresa muito maior. Acho que ele verá esses tipos de números novamente. Mas pode levar muito, muito tempo para chegar lá.”

    As perspectivas de crescimento – com meta de crescimento de vendas em 50% ao ano – ajudaram a impulsionar essa avaliação. A companhia admitiu em outubro que não atingirá a meta de vendas para este ano.

    A ascensão das ações vertiginosamente – subindo 743% apenas em 2020 – foi impulsionada pela reputação de Musk como um gênio que iria revolucionar a enorme indústria automobilística global.

    “A Tesla era vista como uma empresa de tecnologia disruptiva, não como uma montadora, e grande parte desse prêmio está relacionado a Musk”, destacou Ives.

    Prometer demais, entregar de menos

    Críticos da Tesla disseram que grande parte de sua avaliação altíssima foi baseada em promessas que Musk fez sobre produtos futuros, muitos dos quais vieram anos depois do prazo originalmente programado.

    Um excelente exemplo é o Cybertruck, a picape da Tesla, lançada pela primeira vez há três anos com promessas de que a produção começaria em 2021.

    Agora, a produção está programada para ter início no próximo ano, com aumento em 2024, colocando-o anos atrás de outras ofertas de picapes elétricas da Ford e da Rivian, ambas com veículos do tipo disponíveis para compra hoje.

    Também é possível acompanhar as ofertas planejadas de picapes elétricas da General Motors (GM).

    “Elon Musk tem um problema patológico com a verdade”, avaliou Gordon Johnson, um dos maiores críticos da Tesla entre os analistas. “Quando as pessoas dizem que ele é um gênio e inovador, é com base em todas as suas promessas que ele nunca cumpre”, adicionou.

    Johnson afirmou que as ações da empresa terão uma queda muito mais acentuada à frente, uma vez que comecem a ser precificadas como outras montadoras, em vez de suas promessas.

    Ele destacou que, para a Tesla atingir suas metas de crescimento, ela precisa construir novas fábricas quase todos os anos, mas que as novas plantas na Alemanha e no Texas que abriram na primavera ainda não estão operando com capacidade total.

    Além disso, ainda de acordo com o especialista, a fábrica na China teve que reduzir a produção devido às fracas vendas no mercado diante das restrições pela Covid-19.

    “A demanda nos EUA entrou em colapso. Há dois meses, o tempo de espera era de dois ou três meses. Agora, você pode obter um [carro] imediatamente. Eles vão construir mais carros do que vender pelo terceiro trimestre consecutivo. É a definição de excesso de capacidade”, explicou.

    A Tesla ainda é de longe a maior fabricante de veículos elétricos do mundo, embora esse título esteja sendo contestado em alguns mercados importantes pela Volkswagen, na Europa, e pela BYD, na China.

    E mais concorrência está vindo de montadoras já estabelecidas, como Ford e GM.

    Fator Twitter

    Isso não quer dizer que o Twitter não tenha sido relevante para a queda do preço das ações da Tesla este ano: elas perderam 66% de seu valor desde que o interesse de Musk na rede foi divulgado pela primeira vez, em abril, com uma queda de 45% desde que ele fechou o negócio, no final de outubro.

    Os investidores ficaram desapontados com o fato de o empresário parecer estar pagando grande parte de sua compra do Twitter por US$ 44 bilhões com a venda de ações da Tesla.

    Musk, o maior acionista da Tesla, vendeu US$ 23 bilhões em ações da fabricante de automóveis desde que seu interesse no Twitter se tornou público.

    Na chamada do Twitter Spaces de quinta-feira, ele prometeu que não venderia ações da Tesla até pelo menos 2024, se não além.

    Mas ele não cumpriu uma promessa anterior, feita em abril, de que havia parado de vender ações da companhia, vendendo US$ 14,4 bilhões dos ativos desde então.

    “Tem sido uma situação de Pinóquio para Musk ao dizer que ele parou de vender ações. Os investidores querem vê-lo agir e não apenas falar por falar”, advertiu Ives.

    Além disso, o empresário se nomeou CEO do Twitter, a terceira maior empresa que ele lidera, junto com a Tesla e a SpaceX. Portanto, muitas pessoas presumiram que a perda de foco de Musk na Tesla assustou seus antigos fãs em Wall Street.

    Mas esta semana começou com Elon Musk fazendo uma enquete – no Twitter, é claro – perguntando se ele deveria desistir do título de CEO de sua rede social. Ele prometeu que acataria o resultado, e 57,5% dos que votaram foram a que ele fosse embora.

    Mesmo se isso se concretizar, essa saída pode demorar um pouco, pois o empresário fez uma publicação falando que renunciará “assim que encontrar alguém tolo o suficiente para aceitar o cargo!”.

    No mesmo tweet, ele alertou que, mesmo que desista do título de CEO no Twitter, ele não vai sair totalmente, dizendo que planeja “apenas comandar as equipes de software e servidores”.

    Os resultados da pesquisa foram suficientes para elevar as ações da Tesla no início do pregão de segunda-feira (19), mas as ações terminaram o dia ligeiramente em queda e perderam significativamente mais terreno todos os dias desde então.

    As ações da Tesla caíram 9% na quinta-feira e terminaram a semana em queda de 18%, após outra queda de 2% na sexta-feira.

    E há a questão de quanto dano o desastre no Twitter causou à marca Tesla.

    Musk demitiu milhares de funcionários, baniu jornalistas enquanto permitia que Donald Trump e outras contas banidas anteriormente voltassem a ficar online, pediu a acusação do Dr. Anthony Fauci, abraçou teorias da conspiração e fez declarações anti-trans em seu, talvez, curto mandato como CEO.

    Pode ter agradado a alguns, mas irritou outros compradores em potencial, incluindo liberais que podem estar dispostos a pagar um prêmio por um veículo mais ecológico.

    “Acho que foi um dano mensurável”, ponderou Munster, que acredita que a publicidade durante seu tempo no Twitter custou à Tesla 5% de suas vendas.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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