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    Crises de Credit Suisse e SVB não devem afetar solidez de bancos no Brasil, dizem especialistas

    Nesta quarta-feira, ações do Credit Suisse renovaram a mínima histórica e, no último fim de semana, ocorreu o colapso do norte-americano Silicon Valley Bank

    Pedro Zanattada CNNReuters

    em São Paulo

    Economistas avaliam que a crise do Credit Suisse  e o colapso do Silicon Valley Bank até podem afetar o Brasil no curto prazo, com impactos no câmbio e na bolsa, mas não devem atingir a solidez de bancos aqui no país.

    Os episódios também podem fazer com que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, antecipe uma queda na taxa de juros do país, o que poderia influenciar um movimento semelhante por parte do Banco Central do Brasil.

    “Por conta dos fatos recentes nos bancos, isso faz com que o Fed possa iniciar uma redução da taxa de juros para poder abaixar o risco em relação à economia dos grandes bancos americanos. Isso se estende para outras economias como o Brasil. Seguimos uma política fiscal dos EUA, claro, com suas características individuais. Porém, contamina de certa forma a redução de taxa de juros no Brasil e o BC pode antecipar essa queda”, analisa Virgílio Lage especialista da Valor Investimentos.

    As ações do banco suíço chegaram a recuar 30% ao londo desta quarta-feira (15), após o próprio banco revelar que identificou “debilidades significativas” em seus balanços e controles dos últimos dois anos.

    O cenário ficou ainda mais negativo após seu maior acionista, o Saudi National Bank, descartar destinar mais capital ao Credit Suisse, alegando questões regulatórias.

     

    O caso contaminou outros mercados da região. As ações europeias tiveram seu pior dia em mais de um ano.

    O índice pan-europeu STOXX 600 fechou esta quarta em queda de 2,92%, a 436,45 pontos, um dia depois de registrar seu melhor dia do ano. O índice do setor bancário recuou 7,1% e teve a maior perda diária em mais de um ano.

    Já a bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em queda de 0,25%, aos 102.675,45 pontos. Enquanto o dólar encerrou com alta de 0,70%, cotado a R$ 5,294 na venda, impactado por forte aversão ao risco nos mercados globais.

    Antonio Sanches, especialista da Rico Investimentos diz que o Fed se encontra agora em uma encruzilhada, uma vez que, se a instituição subir os juros em sua reunião na próxima quarta-feira (22), o problema no setor bancário pode ser agravado.

    “Se subir os juros na próxima semana, pode agravar o problema no setor bancário. Se não subir, as expectativas de inflação podem aumentar, tornando a dinâmica da inflação mais rígida adiante. A expectativa é que até a reunião do comitê de política monetária na quarta-feira que vem (22) a situação do sistema bancário americano fique mais clara, ajudando o Fed a tomar uma decisão mais acertada”, disse.

    O banco saudita adquiriu uma fatia de 9,9% no ano passado depois de participar do aumento de capital do Credit Suisse e se comprometeu a investir até 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,5 bilhão) na instituição.

    O tombo das ações do banco pressiona os mercados de ações, já que aumenta ainda mais o receio entre investidores sobre o sistema bancário global, considerando o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) no último final de semana, nos EUA.

    O SVB possuía US$ 209 bilhões em ativos e US$ 175,4 bilhões em depósitos, se tornando o maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008.

    Com o temor gerado, o Goldman Sachs reduziu sua previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA do quarto trimestre de 2023, citando riscos para o ambiente de empréstimos, à medida que bancos menores recuam em empréstimos para preservar liquidez diante de cenário incerto.

    “Não consigo enxergar qualquer tipo de impacto mais relevante no Brasil”, afirmou Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, referindo-se principalmente ao episódio do SVB, fechado na semana passada. “Não é o mesmo tipo de risco que vimos em 2008.”

    Para Kawall, os problemas envolvendo o Credit Suisse causam mais preocupação, pelo porte da instituição. “O impacto é mais forte nos mercados”, afirmou. Mas ele ponderou que ainda é preciso ver como tudo se desenrola.

    O SVB foi fechado por reguladores na semana passada, desencadeando uma rápida ação de autoridades, entre elas o Federal Reserve, para conter potencial contágio no sistema bancário. Os mercados ainda se recuperavam do abalo quando nesta quarta-feira o Credit Suisse trouxe de volta o nervosismo.

    “Não vejo uma contaminação direta, apenas uma maior aversão a risco, aos menores bancos e fintechs”, reforçou Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, acrescentando que o funding no Brasil é baseado principalmente em depósitos locais e que não há alternativas para o investidor exceto títulos públicos.

    “Há uma certa contaminação nas cotações das ações, mas nada sobre a solidez dos bancos grandes locais”, acrescentou.

    A reação relativamente comedida das ações dos maiores bancos brasileiros corrobora a premissa. Desde o começo da semana, Itaú Unibanco PN e Bradesco PN perdem cerca de 3% cada um, Banco do Brasil ON cai 2% e Santander Brasil Unit cede 1,7%.

    Para Roger, o único banco que poderia sofrer no país é a própria unidade do Credit Suisse.

    Presente no Brasil desde 1959, o Credit Suisse atua principalmente nas áreas de private banking & wealth management e gestão de recursos, realizando ainda operações de crédito, emissão de ações e títulos, abertura de capital (IPO), fusões e aquisições de empresas (M&A), corretagem e tesouraria.

    A sua carteira inclui clientes de alta renda, vários oriundos do Banco Garantia (comprado em 1998) e da renomada Hedging-Griffo (comprada em 2007, concluída em 2012).

    Analistas do Itaú BBA liderados por Pedro Leduc também afirmaram que bancos brasileiros não estão diretamente expostos às consequências do SVB. “Os valores das perdas não realizadas nos ‘books’ locais não são relevantes e os índices de capital e liquidez são confortáveis”, afirmaram em relatório nesta semana.

    Mas eles abordaram discussões secundárias relevantes decorrentes do episódio, incluindo a chance de o financiamento para fintechs ficar mais difícil, assim como um possível efeito indireto na atividade nos mercados de crédito e capitais, que pesaria nas expectativas dos grandes bancos.

    O economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros, entende que o caso pode ampliar a dificuldade para acesso ao crédito no país, uma vez que o temor das instituições aumenta.

    “O reflexo mais imediato no mercado brasileiro é ampliar a contração monetária pelo canal de crédito, o que é desejável do ponto de vista de política monetária, já que amplia sua potência e contribui para a desinflação da economia, tudo mais constante”, avalia.

    Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, avalia que o BC não deve observar o caso do Credit Suisse como relevante para diminuir os juros no Brasil. Para ele, a queda será antecipada a partir do quadro doméstico.

    “A política monetária aqui vai continuar olhando a política fiscal, o novo arcabouço e a inflação. O BC deve sinalizar em maio que os juros podem começar a cair”.

    Na próxima quarta-feira (22), ocorre a chamada “Super Quarta”, quando as agendas dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos convergem e ambas as autoridades divulgam a decisão sobre a taxa de juros.