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    Após 4 horas de sabatina, comissão do Senado aprova indicação de Galípolo ao BC

    Decisão ainda será analisada pelo plenário do Senado; Galípolo precisa do apoio de ao menos 41 senadores para assumir presidência do Banco Central

    Emilly BehnkeIsabel MegaRebeca Borgesda CNN

    A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça-feira (8) a indicação do economista Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central (BC). O economista recebeu 26 votos favoráveis e nenhum contrário. Agora, o nome deve ser analisado pelo plenário.

    A sabatina no colegiado durou cerca de 4 horas. Galípolo foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o comando do BC no lugar de Roberto Campos Neto, que terá o mandato encerrado em 31 de dezembro deste ano.

    Para ser aprovado no plenário, o economista precisa do apoio de ao menos 41 dos 81 senadores. A votação é secreta. O relator da indicação na CAE foi o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.

    Relação com Lula

    Indicado de Lula, Galípolo afirmou que, nas conversas que teve com o chefe do Executivo, teve a garantia de “liberdade na tomada de decisões” e a orientação de ter como compromisso os interesses da população brasileira.

    Ele negou ter sofrido “qualquer tipo de pressão” no cargo por parte de Lula. “A verdade é que eu nunca sofri nenhuma pressão. A verdade é essa. Eu jamais sofri, seria muito leviano da minha parte dizer que o presidente Lula fez qualquer tipo de pressão em cima de mim sobre qualquer tipo de decisão”, disse.

    O economista também afirmou ter a “melhor relação possível” com o presidente e com Roberto Campos Neto. Ele negou ruídos e qualquer “polarização” com o atual chefe do BC. “Sempre fui muito bem tratado pelos dois. Eu não consigo fazer qualquer queixa a nenhum deles”, declarou.

    Desde o ano passado, Campos Neto foi alvo de críticas públicas de Lula e aliados do governo, em especial por causa do patamar da Selic, a taxa básica de juros definida pelo BC. O Executivo defende e pressiona pela redução da taxa.

    Na sabatina, integrantes da oposição fizeram elogios a Campos Neto, mas se manifestaram entusiastas da aprovação do nome de Gabriel Galípolo e já o chamavam de presidente.
    Ainda assim, defenderam que, assim como ocorreu com Campos Neto, Galípolo também poderia virar alvo do governo.

    A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que Galípolo deveria se “preparar” para quando acabar a “lua de mel” com Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Eu fico aqui olhando a sua simpatia e lamentando que o senhor vai ser presidente do Banco Central num governo de esquerda”, disse a senadora.

    Sabatina

    Durante a sabatina, os senadores perguntaram ao economista principalmente sobre as perspectivas de aumento da inflação no país.

    Ele afirmou que o BC trabalha “analisando um horizonte relevante” e mira os efeitos da inflação no longo prazo, o que tem levado a recomendar “maior prudência do ponto de vista da política monetária”.

    Contribuem para essa orientação, de acordo com ele, as condições do mercado de trabalho, a desvalorização do câmbio e o crescimento da economia. Segundo ele, a expectativa de “desancoragem” tem incomodado o BC.

    “Eu sou daqueles que defende que o Banco Central não deveria nem votar na meta de inflação dentro do CMN. Pensando numa corporação, numa empresa, é muito estranho que quem vai ter que perseguir a meta seja responsável por estabelecer a meta que vai ter que perseguir”, declarou.

    Também foi tema da discussão o crescimento das empresas de apostas no Brasil. Um relatório do BC indicou que, em agosto deste ano, beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões a empresas de bets por meio de Pix.

    Galípolo disse que o BC “não tem qualquer tipo de atribuição sobre a regulação de bets”, mas atua para entender o impacto no consumo e endividamento das famílias para explicar a relação entre a atividade econômica, despesas e o impacto na inflação.

    Autonomia do BC

    Sobre uma possível mudança no regime jurídico do Banco Central, o economista disse que a ideia não é uma forma de ir contra as metas do Executivo. Ele defendeu um “arcabouço institucional” que permita ao BC desempenhar suas funções e solucionar a questão da redução de pessoal. O tema é analisado no Senado por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição.

    “De maneira nenhuma, a ideia de autonomia deve passar uma ideia de que o Banco Central vai se insular e virar as costas ao poder democraticamente eleito. Não se trata disso. Ocorrem legislações novas diariamente, que podem alterar a atuação do Banco Central, e ao Banco Central não cabe legislar”, disse.

    Essa foi a segunda vez que a comissão sabatinou o economista. Antes, em julho de 2023, a CAE sabatinou e aprovou o nome de Galípolo para ocupar a Diretoria de Política Monetária do BC, atual cargo ocupado por ele.