Em ata, Copom cita aumento de incerteza sobre cumprimento de meta fiscal
Documento foi divulgado nesta terça-feira (7) e traz detalhes sobre a reunião na semana passada
Os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) avaliam que cresceu a incerteza sobre a capacidade do governo em cumprir as metas fiscais estabelecidas e defende que os objetivos para as contas públicas sejam buscados com firmeza, conforme ata divulgada nesta terça-feira (7).
“O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco”, segundo o documento.
A ata também reafirmou a importância da firme persecução das metas fiscais, tendo em conta a importância da execução das metas já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária.
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a líderes partidários que, se for preciso, pode ajustar a meta fiscal de déficit zero em 2024.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não respondeu se a meta de déficit zero para 2024 será mantida. Interlocutores do ministro dizem estar com esperança de manter a meta de déficit zero e, para isso, acreditam ter a frente uma semana decisiva.
Ritmo de cortes
Os membros do Copom mantiveram o posicionamento dos últimos meses e concordaram unanimemente com o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões.
Segundo o comitê avaliou, “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
O documento pontuou que esse ritmo conjuga: “de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.
O comitê explicou no texto que analisou diferentes cenários, caracterizados por diferentes trajetórias nos ambientes doméstico e internacional, a partir dos quais se debateu a estratégia e a extensão de ciclo apropriados em cada um desses cenários.
“Optou-se por manter a comunicação recente, que já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”, escreveram os membros.
Cenário econômico
Conforme o comitê colocou na ata, o ambiente econômico externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas.
Enquanto isso, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho.
“O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes”, aponta a ata.
Na cena doméstica, o conjunto de indicadores recentes de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração esperado pelo Comitê.
Os membros destacam uma desaceleração nos dados de atividade referentes a agosto, em particular em serviços. Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem.
Em relação a inflação, o índice de preços ao consumidor segue a trajetória esperada de desinflação, com uma composição benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação, pontua o texto do Copom.
Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta.
As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
Corte de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu na última quarta-feira (1º) pelo corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que passa agora a 12,25% ao ano.
O corte veio em linha com a expectativa do mercado, que já apostava que a decisão de hoje fosse a mesma das duas reuniões anteriores, um corte de 0,5 ponto percentual, e em linha com o comunicado da última reunião finalizada em 20 de setembro.
No comunicado, o BC indicou que as próximas reuniões devem ter corte de igual magnitude. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.