Após “dólar Coldplay” e “dólar Catar”, Argentina cria “dólar Malbec” mirando vinhos
Versão da moeda norte-americana vem para elevar a competitividade do vinho argentino e entrará em vigor a partir de 1º de abril.
![Produção de vinhos na Argentina foi afetada nos últimos anos por condições climáticas extremas, que trouxeram quedas na receita do setor Produção de vinhos na Argentina foi afetada nos últimos anos por condições climáticas extremas, que trouxeram quedas na receita do setor](https://preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2023/02/vinho_tinto_unsplash-e1675861242601.jpg?w=1220&h=674&crop=1)
A Argentina anunciou a criação de mais uma taxa de câmbio, na tentativa de conter a crise econômica — dessa vez, focada no mercado nacional de vinhos.
Batizada de “dólar Malbec”, em referência à variedade de uva mais utilizada na bebida argentina, a versão da moeda norte-americana vem para elevar a competitividade do vinho argentino e entrará em vigor a partir de 1º de abril.
“A partir de 1º de abril vamos apoiar um mecanismo para as economias regionais, começando pela viticultura para recuperar a exportação, competitividade, mercados, mas também para que tenham a oportunidade de enfrentar a perda que o granizo e a geada representaram”, disse o ministro das Finanças Sergio Massa, em discurso no último sábado (4).
“Assim como demos início ao complexo agroindustrial, vamos acompanhar a vitivinicultura”, declarou, em referência ao chamado “dólar soja”.
A produção de vinhos na Argentina foi afetada nos últimos anos por condições climáticas extremas, que trouxeram quedas na receita do setor.
“O clima nos castiga com cada vez mais frequência e tem nos tirado áreas produtivas. Há quase 10.000 vinhas a menos em todo o país”, disse Massa.
“Este ano esperamos um volume inferior a 21% em relação à safra passada, que já era escassa. Também estamos 34% abaixo dos patamares dos últimos 10 anos.” Os dados citados pelo ministro são do Instituto Nacional de Viticultura (INV) argentino.
O valor do dólar Malbec, segundo a autoridade argentina, será definido nos próximos 20 dias.
16 tipos de dólar
A criação do dólar Malbec segue a esteira de outras quinze variações da taxa cambial — algumas com nomes inusitados, como dólar Coldplay, dólar Catar e dólar Netflix.
Desde 2018, a Argentina mantém em curso uma política que restringe a compra de dólares para mantê-los no país, carente de moeda estrangeira. A medida permite que apenas alguns poucos setores da economia, geralmente ligados a bens de capital e insumos industriais, tenham acesso ao dólar oficial, a 200 pesos na cotação atual.
Pessoas físicas, que queiram destinar o dinheiro para poupança ou viagens, também podem comprar a esse valor, mas são limitadas a apenas US$ 200 por mês.
O dólar “blue”, por outro lado, circula amplamente no país. Apesar de não ser oficial, a moeda clandestina regula o mercado de preços na Argentina e é vendida em casas de câmbio especializadas, à força da vista grossa de autoridades argentinas.
Confira abaixo mais informações sobre as outras cotações.
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Em vez de ter uma única cotação para o dólar norte-americano, a Argentina tem criado variações da moeda para diferentes finalidades, com o objetivo de evitar a saída de divisas e fortalecer as reservas internacionais. São 16 cotações diferentes; veja quais são:
Crédito: Tomas Cuesta/Getty Images - 2 de 17
Dólar do atacado, ou "mayorista"
Voltado para bancos e importadores, é a cotação pela qual o Banco Central argentino libera dólares para operações no exterior. Também chamado de “dólar interbancário”, é a moeda negociada no Mercado Único de Câmbio Livre (MULC).
Crédito: 27/03/2010REUTERS/Jessica Rinaldi - 3 de 17
Dólar de varejo, ou “minorista”
É a taxa pela qual bancos vendem dólares ao público geral, limitada a U$ 200 por mês. Os clientes precisam apresentar um comprovante que justifique a necessidade de obtenção da moeda norte-americana, como viagens ao exterior.
Crédito: 23/07/2015REUTERS/Thomas Mukoya - 4 de 17
Dólar Catar
Assim nomeado por causa da Copa do Mundo e da expectativa de maiores gastos de viajantes argentinos no exterior, é a cotação que incide sobre compras com cartão de crédito e débito que ultrapassem US$ 300 por mês, a uma taxa de câmbio de 300 pesos por dólar.
Crédito: Hamad I Mohammed/Reuters - 5 de 17
Dólar Coldplay
Batizado em homenagem à banda britânica que fez 10 shows em território argentino, representa um acordo com o setor cultural -- em especial empresários do entretenimento internacional -- que podem ter acesso à moeda estrangeira a um preço menor. Cotado ao redor de 200 pesos, o “dólar Coldplay” tem um valor mais acessível que o “blue”, a versão clandestina.
Crédito: Buda Mendes/Getty Images - 6 de 17
Dólar Blue
É a moeda que corre no mercado paralelo argentino, que, por ser mais acessível, costuma reger os preços do câmbio. Embora seja ilegal, circula amplamente no país e é vendido em lojas especializadas, à força da vista grossa de autoridades argentinas. Costuma rondar 300 pesos, quase o dobro da cotação oficial, do atacado e varejo
Crédito: 17/07/2022REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração - 7 de 17
Dólar Luxo
Usado para compra de artigos de luxo importados, como jetskis, aviões particulares e relógios, tem a mesma cotação do dólar Catar.
Crédito: Divulgação - 8 de 17
Dólar Bolsa
Aplicado em transações no mercado acionário, é obtido na compra de títulos públicos em pesos e, depois, na venda deles em dólares.
Crédito: 06/07/2023REUTERS/Amanda Perobelli - 9 de 17
Dólar "contado com liquidação" (CCL)
É parecido com o dólar Bolsa, mas quando os dólares resultantes das transações são depositados no exterior.
Crédito: 28/10/2021REUTERS/Amanda Perobelli - 10 de 17
Dólar Senebi
Acrônimo para Segmento de Negociação Bilateral, foi criado em meados de 2021 para incidir sobre as negociações de bônus decorrentes da compra e venda de títulos públicos. Atua de forma parecida com o dólar Bolsa.
Crédito: REUTERS/Dado Ruvic - 11 de 17
Dólar ADR
Utilizado apenas por empresas que operam no exterior, incide sobre ações cotadas em pesos e dólares, simultaneamente. Também atua de forma parecida com o dólar Bolsa.
Crédito: 17/10/2022REUTERS/Agustin Marcarian - 12 de 17
Dólar Cedear
Acrônimo para Certificado de Depósito Argentino, é usado por empresas em operações de títulos comprados em pesos, mas que podem ser convertidos em moeda estrangeira.
Crédito: 03/11/2009REUTERS/Rick Wilking - 13 de 17
Dólar Netflix
É aplicado sobre serviços de streaming pagos com cartão de crédito, como Netflix, Spotify, entre outros. Aqui, o dólar varejo incide com mais uma taxa de 45% para o Imposto de Renda antecipado, além de outra de 8%, chamada “imposto país”, e mais uma de 21% de EVA. Assim, a sobretaxa total é de 74% em relação ao dólar de varejo.
Crédito: Foto: Mollie Sivaram/Unsplash - 14 de 17
Dólar Tecno
Embora tenha esse nome, não é uma taxa de câmbio, mas um incentivo a empresas que exportam serviços ou atuam na indústria da economia do conhecimento. Para aquelas que fazem mais de US$ 3 milhões em investimentos, o governo argentino anunciou isenção do pagamento de 20% sobre a moeda estrangeira no mercado oficial. Além disso, as empresas que aumentarem suas exportações neste ano terão disponibilidade de 30% de moeda estrangeira para utilizar na remuneração.
Crédito: Pexels - 15 de 17
Dólar Cripto
Incide sobre transações de criptomoedas cujos valores estão atrelados ao dólar.
Crédito: 14/02/2018REUTERS/Dado Ruvic - 16 de 17
Dólar Soja ou de Exportação
Em vigor apenas durante temporada de soja, faz parte do Programa de Incentivo às Exportações, onde os exportadores da commodity recebem o resultado de suas vendas ao preço de 230 pesos por dólar exportado.
Crédito: 17/02/2020REUTERS/Jorge Adorno - 17 de 17
Dólar Malbec
É uma nova taxa de câmbio paralela para estimular a indústria do vinho e recuperar a competitividade do setor, que vem perdendo espaço no mercado por condições climáticas extremas. Deve ficar em vigor pelo menos até o fim deste ano.
Crédito: Getty Images/EyeEm