Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Paulo Gala
    Coluna

    Paulo Gala

    Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e professor da EESP-FGV

    Dólar recua com Trump moderado, melhora fiscal e compromisso do BC

    O dólar caiu para a casa dos R$5,70 refletindo uma melhora na percepção de risco sobre o Brasil após um período de forte estresse no final de 2024. Nos primeiros dois meses de 2025, o real se valorizou expressivamente, saindo do pico de R$6,30 por dólar para o nível atual. Esse movimento é impulsionado pelo alívio de três grandes incertezas que pesavam sobre o mercado: i)Trump e a política comercial dos EUA; ii)Banco Central brasileiro e política monetária; iii)situação fiscal, vejamos. A principal preocupação no final do ano passado era o nível de agressividade da nova administração Trump em relação a tarifas de importação. Até o momento, o governo tem adotado uma abordagem negociada, sem a imposição ainda de novas tarifas. Esse ambiente mais previsível favoreceu a desvalorização do dólar globalmente, com o DXY (índice que mede o desempenho da moeda americana frente a outras) caindo de 110 para 107. Trump sabe que se colocar em prática tudo que gostaria em termos de deportação de imigrantes ilegais e tarifas em produtos do Mexico, Canada, China e Europa a inflação americana subirá rapidamente. Os últimos dados já mostram preços ao consumidor aumentando no ritmo de 3% ao ano. O BC americano disse que por ora não cortará mais juros que ainda estão bem altos na casa de 4,5% ao ano.

    A chegada de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central gerou incertezas iniciais sobre a condução da política monetária. No entanto, o BC reafirmou seu compromisso com o controle da inflação ao promover um choque de juros, elevando a Selic em 2 pontos percentuais desde dezembro com a promessa de mais uma alta de 1 ponto percentual em março. Além disso a autoridade monetária tem atuado de maneira correta e eficaz no mercado de câmbio para fornecer maior liquidez e evitar disfuncionalidades nos momentos de picos de demanda de dólares. No atual ciclo de alta a taxa SELIC pode chegar a 15% ao ano, que representaria o maior nível desde 2006. O diferencial de juros existente hoje entre títulos brasileiros e dos Eua pode contribuir para uma valorização ainda maior do moeda brasileira em 2025. Esse movimento ajudaria a reduzir os preços em R$ dos bens importados e exportados e seria um importante aliado para ajudar o BC a trazer a inflação para baixo dos 5,5% projetados para esse ano pelo mercado.

    Os dados fiscais fechados de 2024 também surpreenderam positivamente. O déficit primário do governo central ficou na casa dos R$ 50 bilhões, um número melhor do que o previsto pelo mercado e bem inferior ao déficit do ano anterior. O Ministério da Fazenda mantém o compromisso com medidas de contenção de gastos, embora essa postura gere divisões dentro do governo. Em 2024, o déficit nominal foi próximo de R$ 1 trilhão, sendo aproximadamente R$ 950 bilhões de pagamentos em juros e R$ 50 bilhões em déficit primário. Há aqui um risco de pressão inflacionária provocada por grandes transferências de renda a população mais pobre num contexto de pleno emprego, taxa de câmbio ainda desvalorizada, choques climáticos e altas de preços de alimentos. Apesar da valorização do real nesse início de ano, os desafios inflacionários persistem. O IGP-M afetado pelo câmbio desvalorizado nos últimos meses, acelerou para 0,92% na segunda leitura de fevereiro, ante 0,17% na mesma leitura de janeiro. Os principais componentes do índice mostram pressão de preços: IPA (Atacado)+1,03%, IPC (Consumidor): +0,67%, INCC (Construção Civil): +0,57%. Os preços de alimentos também apresentam forte alta. Historicamente, janeiro, fevereiro e março são meses de inflação elevada para alimentos no Brasil. A inflação medida pelo IPCA de janeiro foi surpreendentemente baixa graças ao bônus de queda de preços de energia de Itaipu, mas esse movimento não deve se repetir. A expectativa é de que a inflação de fevereiro supere 1%, com março também registrando alta significativa. Se o real continuar se fortalecendo a inflação poderá ceder ao longo do segundo e terceiro trimestres. Os sinais de desaceleração econômica depois das altas da SELIC também contribuem nessa direção. No final do dia a trajetória da moeda brasileira dependerá da evolução do cenário global e da capacidade do governo de manter o controle fiscal. Disso dependerá também a taxa de inflação desse ano e no próximo.

    Tópicos