MEI, a sigla do combate à diversidade e inclusão da nova era Trump
Não existe outra saída para um mundo que vê a cada dia seus recursos naturais e valores como solidariedade, justiça, respeito ao próximo se exaurirem
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A luta incansável contra o racismo, por igualdade de oportunidades e reparação histórica diante das profundas desigualdades que os quase 400 anos de escravidão provocaram, não só no Brasil mas em toda a diáspora africana, e profundas instabilidades também em muitos países africanos, que não se recuperaram até os dias de hoje, ganha um novo inimigo – criado e forjado no negacionismo de toda essa tragédia surge agora com a nova era Trump o “MEI”.
A criação da sigla MEI (mérito, excelência e inteligência) por Alexandr Wang, CEO da Scale AI, reflete uma visão simplista sobre diversidade e inclusão. Essa abordagem ignora as estruturas de poder e privilégios que perpetuam desigualdades por séculos e acentuado no período do tráfico negreiro a pessoas negras.
O MEI é apresentado como uma alternativa às iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), mas na verdade reforça a ideia de que o sucesso é apenas resultado de esforço individual. Isso negligencia o impacto de fatores como racismo, sexismo e outras formas de discriminação. Ele é um contraponto não só ao negar o racismo, mas nega também o machismo no qual foi formada a sociedade que vivemos hoje.
A meritocracia defendida por Wang pressupõe que todos têm igualdade de oportunidades. No entanto, estudos mostram que mulheres e minorias enfrentam barreiras significativas no acesso a educação, treinamentos e recursos. Ignorar essas desigualdades é perpetuar injustiças. Isso já foi comprovado cientificamente e levamos séculos da evolução humana para que começássemos a rever e a criar políticas e ações compensatórias para tornar a sociedade mais justa e igualitária. Mas os defensores do MEI ignoram tudo isso.
A Scale AI, com seu modelo de negócios baseado em inteligência artificial, não reconhece a importância da diversidade, reconhece sim seus valores baseados em algoritmos visando lucro e sucesso, independentemente da falta de representatividade e das consequências que podem levar a resultados discriminatórios.
Wang afirma que o MEI promove objetividade, não atentando que isso é ilusório. A subjetividade está presente em todos os processos de seleção. Ignorar isso é negar a realidade. O MEI representa um retrocesso na luta pela igualdade.
A busca por uma abordagem mais inclusiva e equitativa, que reconheça e combata as desigualdades estruturais considerando o que empresas e instituições públicas e do terceiro setor têm desenvolvido nas últimas décadas no combate às desigualdades históricas é o caminho para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária
Não existe outra saída para um mundo que vê a cada dia seus recursos naturais e valores como solidariedade, justiça, respeito ao próximo se exaurirem, e uma das poucas coisas que resgatam esse sentido mais humano nos dias de hoje é o conceito e incentivo à diversidade e inclusão em todos os níveis sociais, sem os quais perderemos mais uma batalha no nosso processo civilizatório tão ameaçado nos dias atuais.