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    José Marcio de Camargo
    Coluna

    José Marcio de Camargo

    PhD em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e economista chefe da Genial Investimentos

    OPINIÃO

    Quem vai ceder

    Os dados de atividade da economia brasileira, queda da produção industrial, das vendas no varejo, do índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br, crescimento do setor de serviços e do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo do esperado, no quarto em relação ao terceiro trimestre de 2024 e estabilidade da produção industrial em janeiro de 2025 em relação a dezembro de 2024, indicam os primeiros sinais de desaceleração da atividade econômica do país.

    Por outro lado, os dados ainda sólidos do mercado de trabalho, geração de empregos formais bem acima das expectativas e estabilidade da taxa de desemprego, indicam que esta desaceleração, se efetivamente está ocorrendo, é ainda tênue e gradual, incapaz de reverter a trajetória de aceleração da taxa de inflação. 

    Para que a desaceleração da atividade consiga ter um efeito desinflacionário importante, será necessário um mercado de trabalho menos apertado, capaz de reduzir a pressão sobre os preços dos serviços, cuja inflação, na margem (média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada) tem caminhado acima de 6,0% ao ano. Além de reverter a trajetória de desvalorização cambial que persistiu ao longo de 2024 e, depois de breve trégua em janeiro, voltou a pressionar em fevereiro, o que afeta os preços dos alimentos, e exige uma política fiscal mais contracionista. 

    Neste contexto, manter a política monetária contracionista, capaz de reverter a desancoragem das expectativas para a inflação e ajudar na desaceleração da economia, vai demandar taxas de juros ainda mais elevadas do que as hoje vigentes. 

    Entretanto, sem a ajuda de uma política fiscal contracionista, que sinalize para os agentes econômicos um superavit primário que estabilize a relação dívida/PIB em um horizonte relativamente curto, a política monetária sozinha não conseguirá atingir este objetivo. 

    Entretanto, diante da perda de popularidade do Presidente Lula e a avaliação negativa do governo, os sinais já começam a apontar na direção oposta, ou seja, políticas fiscal e parafiscal expansionistas. Além do Vale gás e do Pé de meia, programas já anunciados anteriormente, pelo menos dois novos programas já foram confirmados e terão efeito expansionista sobre a atividade: a Medida Provisória que facilita a concessão de crédito consignado para os trabalhadores do setor privado com garantia do FGTS e a liberalização dos recursos do FGTS para os trabalhadores que foram demitidos desde 2020 e que não conseguiram sacar o saldo total do FGTS quando da demissão por terem optado pelo saque-aniversário, o que significa uma transferência de renda de aproximadamente R$ 12 bilhões para estes trabalhadores. 

    Este cenário pode ser caracterizado como uma “disputa” pela liderança da política econômica entre o Banco Central e o Executivo. De um lado, um Banco Central contracionista, aumentando a taxa de juros para desacelerar a atividade e cumprir seu mandato, que é atingir a meta para a inflação e, de outro, um Executivo implementando políticas fiscal e parafiscal fortemente expansionistas com o objetivo de manter o nível de atividade aquecido. 

    A pergunta é quem vai ceder, o Executivo ou o Banco Central? Se o Banco Central ceder e deixar de perseguir a taxa de juros que leva a inflação para a meta, teremos mais inflação. Se o Executivo ceder, tornando as políticas fiscal e parafiscal contracionistas, teremos mais desemprego. Se o impasse persistir, teremos o que na teoria dos jogos se caracteriza como um equilíbrio de Nash, mais desemprego e mais inflação.

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