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    José Marcio de Camargo
    Coluna

    José Marcio de Camargo

    PhD em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e economista chefe da Genial Investimentos

    OPINIÃO

    Fiscal e eleições reforçam ceticismo

    A mediana das expectativas para a inflação bateu no limite do intervalo de metas para 2024, 4,50%, na pesquisa Focus desta semana. E os sinais não são muito promissores quanto à possibilidade de estancar esta desancoragem das expectativas.

    Apesar das declarações de membros da equipe econômica indicando que a estratégia de conseguir equilíbrio e atingir as metas do acabou fiscal somente com medidas de aumento de impostos e de arrecadação tenha se esgotado, o que vai exigir a adoção de políticas de corte estrutural de gastos públicos, os investidores têm se mostrado bastante céticos quanto a esta possibilidade.

    Este ceticismo decorre do fato de que grande parte deste ajuste fiscal terá de ser feito com redução de gastos sociais, como o fim da indexação dos pisos da Previdência Social, do Benefício da Prestação Continuada (BPC), do seguro desemprego e do abono salarial, dos reajustes reais do salário mínimo, além da desvinculação dos gastos mínimos com saúde e educação da variação das receitas tributárias.

    O ceticismo é reforçado pelo fato de que o governo continua a adotar uma política fiscal fortemente expansionista, com o anúncio de novos projetos de aumento de gastos e a utilização de fundos públicos para financiar novas despesas, gerando excesso de demanda e aumento da pressão sobre a taxa de inflação.

    Por outro lado, o aumento da dívida pública gera desconfiança quanto à capacidade do governo de cumprir seus compromissos financeiros no futuro, o que gera aumento do prêmio de risco e faz com que os investidores cobrem taxas de juros cada vez maiores para financiar a dívida pública, ao mesmo tempo em que reduzem os prazos dos títulos.

    O resultado é que as taxas dos títulos mais longos já voltaram a níveis próximos a 13,0% ao ano, o que pressiona a dívida, e a taxa de câmbio voltou a ultrapassar R$ 5,70 por Dólar.

    Diante deste cenário, sem uma decisão clara de medidas estruturais de corte de gastos, a deterioração do cenário fiscal e, em consequência, do cenário inflacionário, irá persistir, forçando o Banco Central a adotar uma política monetária ainda mais contracionista. Nossa projeção é que, caso o Banco Central deseje efetivamente atingir a meta de 3,0% de inflação no terceiro trimestre de 2026, terá de levar a SELIC a 13,50% ao ano.

    Por outro lado, caso os partidos da direita consolidem seu excelente desempenho nas eleições municipais, elegendo prefeitos em um número significativo de capitais onde estão no segundo turno, como Manaus, Belém, Goiânia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, além de São Paulo, a situação poderá se tornar ainda mais difícil para o governo, o que irá exigir um maior compartilhamento de poder com estes partidos no Congresso.

    Finalmente, caso o ex-Presidente Donald Trump vença as eleições nos Estados Unidos, o que está parecendo cada vez mais provável, e adote a promessa de implementar um programa altamente protecionista, com a introdução de uma tarifa de 10% sobre todas as importações e de 60% sobre as importações vindas da China, devemos ver um retorno da pressão inflacionário forçando o banco central americano (Federal Reserve) a voltar a aumentar a taxa de juros no país, além de gerar uma maior desaceleração da economia chinesa, nosso maior parceiro comercial.

    *Coluna com a colaboração de Yihao Lin, Lucas Farina, Gabriel Pestana e Pedro Alfradique