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    Geyze Diniz
    Coluna

    Geyze Diniz

    Cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, economista, conselheira da Península Participações e vice-presidente do Conselho do MASP

    OPINIÃO

    Abilio Diniz: Um Legado de Amor, Propósito e Transformação

    Falar de Abilio Diniz é pensar em fortaleza, disciplina, determinação, fé, empreendedorismo, olhar para o próximo, inventar, reinventar, arrojar, resiliência, propósito, curiosidade, intensidade e amor.

    18 de fevereiro completa um ano que Abilio fez sua passagem. Muitos sentimentos vêm à tona, mas os dois maiores são saudades e gratidão. Quem teve o privilégio de cruzar seu caminho nesta jornada chamada vida, seja em alguma relação de trabalho, de amizade, de família, em algum curso, no esporte, sempre pôde observar um homem forte, por vezes duro, mas um ser humano ímpar, com uma essência doce e que sempre pensou em como crescer e fazer os outros crescerem.

    Adepto ao autoconhecimento, além de praticar, encaminhou muita gente para a terapia. Dono de uma disciplina invejável, não hesitava em acordar cedo para fazer seus treinos na academia e depois seguir para um dia intenso de trabalho. Administrava bem o tempo e dizia que amava sua rotina, pois era ele mesmo quem a fazia. E sobre o tempo, dizia ainda que “numa caixa de 6 não cabem 12. Nem 7…”

    Abilio ocupou vários papéis durante sua trajetória de 87 anos. Identificou com clareza que seu propósito era “aprender e compartilhar” e em cada um desses papéis impactou milhares de pessoas e deixou sua marca nos mais diferentes setores. Definitivamente foi um homem que não passou em branco por essa vida. Ensinava que uma pessoa tem vários papéis na vida (marido, pai, profissional, filho, amigo, atleta, hobbies…) e que é fundamental haver equilíbrio entre eles.

    Do lado pessoal, se casou duas vezes e teve 6 filhos. Dizia que se reinventou ao casar-se com uma “menina” 35 anos mais nova, foi pai aos 70 e depois aos 73, fez novos amigos, aprendeu novos hobbies, topou fazer um período sabático fora do Brasil, sempre com bom humor e muita curiosidade. Afinal, ele queria aprender. E amar. Amava a vida. Amava viver.

    Na vida profissional, soube olhar para os desafios e transformá-los em oportunidades, tanto de crescimento pessoal como de negócios e foi inspiração para aqueles que estavam ao seu redor. Economista pela Fundação Getúlio Vargas, ingressou na segunda turma da faculdade, onde nos últimos dez anos exerceu um dos papéis que mais amava: o de professor. Se não fosse varejista, teria sido professor, dizia ele. Empreendeu junto ao pai e transformou uma ideia num negócio gigante. Entendia de varejo como poucos. Anos mais tarde, de varejista, se tornou investidor, tendo que aprender a exercer novas funções. De novo, ele se reinventando.

    E se reinventou ao ser tornar apresentador de TV. Esteve à frente de dois programas na CNN, o “Caminhos com Abilio Diniz” e o “Olhares Brasileiros” por dois anos, entrevistando 28 pessoas de diversas áreas de atuação. Adorava conhecer outras histórias e poder dividir conhecimento. Foi essa motivação de compartilhar que o fez escrever dois livros contando sua história de vida: Caminhos e Escolhas (2004) e Novos Caminhos e Novas Escolhas (2014).

    Tinha orgulho de ser brasileiro e fez muito pelo seu país, começando por gerar empregos, pois acreditava que um empresário tem que contribuir na geração de renda para um maior número de pessoas. E assim fez. Na década de 80 se dedicou atuando diretamente no governo para negociar a dívida externa.

    Na pandemia, não mediu esforços para ver como poderíamos ajudar e investiu tempo e recursos para diminuir a fome e a desigualdade social, para ajudar os pequenos empresários e empreendedores a manterem seus negócios, além de construir hospitais que funcionam até hoje.

    Apaixonado pelo esporte, co-criou o NAR, Núcleo de Alto Rendimento de desenvolvimento de atletas, além de muitos apoios que fez na área. Na educação, participava com afinco nas reuniões estratégicas do Instituto Península.

    De tantas facetas de um mesmo homem, uma das mais marcantes era sua fé em Deus. Fé que ele exercitava diariamente em suas orações, nas missas semanais, na sua crença e entrega. Chegava a ser emocionante vê-lo conversando com Deus.

    Como qualquer pessoa, também teve seus percalços e obstáculos. Enfrentou um sequestro, a quase quebra do Grupo Pão de Açúcar, uma briga na família, a separação da primeira esposa, o desfecho complicado com o sócio francês Casino e, o maior de todos, o falecimento de seu filho João Paulo.

    Por ser uma pessoa de muita opinião e atuação, para alguns, Abilio era muito esquentado; para outros, muito frio, mas nunca morno. Um homem ambicioso, determinado, apaixonado e apaixonante. Calculista, intuitivo, polêmico, obstinado, teimoso, exigente, sensível, visionário, emotivo. Mas principalmente alguém que pensou grande o bastante para que muita gente coubesse em seus planos.

    Tive a imensa felicidade de viver com o Abilio por 24 anos. Vivemos um grande amor onde nada ficou para trás. Aprendemos, trocamos, celebramos, dançamos, viajamos, trabalhamos juntos, construímos, compartilhamos, rezamos… vivemos! E como fruto, Rafaela e Miguel, nossos amores. Por isso tudo, segue a saudade, uma eterna gratidão, e a certeza de que seu legado segue vivo.

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