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    Geyse Diniz
    Coluna

    Geyse Diniz

    Cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, economista, conselheira da Península Participações e vice-presidente do Conselho do MASP

    Fome de Futuro

    Ser criança é viver com o coração aberto, imerso no presente, onde cada momento é uma nova descoberta e um universo de possibilidades. A essência da infância é a pura presença. E, talvez, seja esse o grande segredo que elas carregam: a capacidade de estar plenamente no aqui e agora, de ver o mundo com olhos de quem vive intensamente cada segundo, sem pressa, sem medo.

    Crianças precisam brincar, explorar, aprender e se desenvolver. No entanto, essa nem sempre é a realidade. Muitos pequenos ao redor do mundo enfrentam desafios que vão além do que a infância deveria proporcionar, sendo marcados pela falta de comida e de nutrientes adequados. De acordo com dados do IBGE, mais de 37% das crianças de 0 a 4 anos no Brasil vivem em lares com algum nível de insegurança alimentar. Isso significa que o básico — a alimentação — se torna uma luta constante. Globalmente, a UNICEF aponta que 181 milhões de menores de 5 anos estão em situação de pobreza alimentar severa. Esse cenário é especialmente prejudicial nos primeiros anos de vida e pode causar danos irreparáveis.

    Os primeiros 1.000 dias — da gravidez até o segundo aniversário — são fundamentais para o crescimento saudável e o desenvolvimento pleno. A primeira infância, que abrange do nascimento até os seis anos, é um período importante para estabelecer as bases da saúde física, cognitiva e emocional. A nutrição durante essa fase é essencial.

    Entretanto, o compromisso com uma alimentação completa não é uma tarefa fácil. Em situações de conflito, desastres naturais e crises humanitárias, as barreiras tornam-se ainda mais desafiadoras. Muitas famílias vivem com recursos limitados, dificultando a obtenção de comida. Isso não se trata apenas da ausência de dinheiro, mas também do acesso a alimentos saudáveis, que muitas vezes estão distantes ou são caros.

    Sem uma refeição adequada, crianças e adolescentes enfrentam dificuldades, aumentando a evasão escolar e a distorção idade-série. A fome prejudica o aprendizado, gerando impactos duradouros e elevados gastos públicos em saúde, educação e assistência social. Além disso, a insegurança alimentar pode aumentar a violência e a criminalidade, perpetuando um ciclo de pobreza que dificulta o progresso econômico e social do país.

    Políticas públicas eficazes são essenciais para combater esse problema. É preciso um enfoque integrado que valorize a agricultura sustentável, amplie o acesso a programas de assistência e fortaleça redes de apoio comunitário. Iniciativas que busquem reduzir a desigualdade social e promover a inclusão econômica são fundamentais para garantir que todas as famílias tenham acesso a refeições completas e nutritivas.

    No Pacto Contra a Fome, estamos comprometidos em mudar essa realidade, mas a luta não pode ser enfrentada sozinha. Recentemente, desenvolvemos um material de apoio para as próximas gestões municipais, que, juntamente com os estados e o Governo Federal, terão um papel relevante no combate à fome e ao desperdício. O documento é estruturado em quatro eixos prioritários: Gestão de Segurança Alimentar e Nutricional, Inclusão Produtiva e Acesso à Renda, Distribuição de Alimentos e Transição dos Sistemas Alimentares. É importante ressaltar que diversos candidatos a prefeito e prefeita já assinaram este compromisso, que se apresenta como um plano estratégico de combate à fome aplicável a todas as administrações.

    As propostas são fundamentais e, juntas, demonstram que, apesar da complexidade do problema, existem caminhos viáveis a serem seguidos. O Brasil precisa de uma agenda integrada e sistêmica para a segurança alimentar e nutricional, condizente com a gravidade do tema. Nesse contexto, a participação ativa da sociedade civil é essencial para o exercício de direitos e para promover conscientização e mobilização. Além disso, as empresas têm um papel relevante ao colaborarem e adotarem práticas mais sustentáveis.

    Garantir que todos os cidadãos, especialmente as crianças, tenham acesso a uma alimentação adequada é fundamental para que possam viver com dignidade, saúde e liberdade, atingindo assim seu pleno potencial.