É preciso replicar o sucesso do agronegócio na indústria
Desafio não é pequeno, mas, assim como vimos a transformação do agronegócio brasileiro, podemos testemunhar uma revolução semelhante no setor industrial
Um dos fatos mais relevantes da história econômica brasileira recente é, sem dúvidas, o desenvolvimento do nosso agronegócio. Nas últimas cinco décadas, o país vem passando por uma verdadeira revolução nesse setor, que produz e exporta cada vez mais para todo o mundo. Com constante incorporação de novas tecnologias, o agronegócio brasileiro se desenvolveu de tal modo que alçou nosso país ao posto de um dos maiores fornecedores mundiais de bens alimentícios.
Estima-se que a soma de bens e serviços gerados pelo setor represente atualmente cerca de ¼ do PIB brasileiro. Esse crescimento gerou um efeito transformador na economia não somente nacional, mas também internacional, pois reduziu drasticamente o preço dos alimentos, melhorando a saúde e a qualidade de vida de toda população.
Não há dúvidas de que o agronegócio deve continuar a ser um importante vetor para o crescimento e o desenvolvimento de nosso país, junto com as atividades econômicas tradicionais, como a produção e exportação de petróleo, celulose e minério de ferro. Políticas públicas que incentivem o crescimento do setor primário exportador brasileiro devem ser mantidas e até mesmo intensificadas, pois são responsáveis pelo superávit da nossa balança comercial.
No entanto, embora o extrativismo e a exportação de matérias-primas sejam importantes, é necessário que o país não descuide de sua indústria. Setores essenciais para o desenvolvimento econômico de qualquer país, como defesa, saúde, transporte, comunicação e energia, dependem intrinsecamente de incentivos industriais e sofisticação produtiva.
O Brasil já chegou a estar entre os 25 países mais industrializados do mundo, há algumas décadas. Hoje, porém, ocupa a linha meramente intermediária, em torno da 50ª posição. Calcula-se que apenas 3% dos produtos exportados para a China, principal parceiro comercial do Brasil, são manufaturados. Para a Europa, esse percentual é de 33%, e, para os EUA, de 50%.
Nações que muito se desenvolveram economicamente nos últimos anos, como a própria China, fizeram justamente o caminho inverso do Brasil: investiram em competitividade da sua indústria, elevaram a complexidade da sua economia e a produção de bens de maior valor agregado.
Mesmo os países liberais da Europa e da América do Norte, como Estados Unidos e Canadá, vêm investindo pesadamente nas respectivas produções industriais, inclusive para permitir a construção de cadeias produtivas resilientes a intempéries, como as vividas durante a pandemia, bem como para enfrentar os desafios do mundo atual, permeado por conflitos armados e mudanças climáticas.
Como vem sendo salientado pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, não há desenvolvimento econômico e social sem política industrial. Incentivos à indústria têm efeitos multiplicadores na economia exponencialmente maiores do que os incentivos aos setores primários.
Nosso país precisa, portanto, unir a força do agronegócio, que nos confere uma sólida cadeia de suprimentos, à da indústria nacional, que, apesar do relativo declínio que vinha experimentando, continua sendo sofisticada e competitiva.
A despeito de não ter recebido a devida atenção nos últimos anos, a estrutura industrial brasileira ainda tem um nível de desenvolvimento superior à de outros países emergentes, e um grau de integração e diversificação também elevado. A produção industrial brasileira contempla bens de base, intermediários e de ponta, em setores igualmente variados, como o farmacêutico, têxtil, alimentício, automobilístico e energético, espalhados por todo o território nacional.
Sob o comando de Alckmin, o MDIC assumiu recentemente a nobre missão de pôr em prática uma política industrial para a próxima década. O projeto tem objetivos bem delineados: criar cadeias agroindustriais sustentáveis e que se valham de máquinas e equipamentos produzidos no país; produzir em território nacional medicamentos, vacinas, equipamentos e outros insumos ligados à saúde; ampliar a produção nacional nos segmentos tecnológicos e digitais; produzir tecnologias críticas para a defesa nacional e, ainda, promover o investimento verde na indústria, aproveitando a vantagem de termos quase 90% da nossa matriz energética baseada em fontes renováveis e expandindo o uso de energia eólica e solar.
O sucesso desse projeto grandioso não depende, porém, apenas do MDIC. Requer a união de forças entre vários outros setores do governo e da sociedade civil. Para ser efetivamente implementada, uma política com esta depende, evidentemente, de uma reforma tributária que desburocratize e desonere a indústria, de investimentos em ciência e tecnologia, e ainda da celebração de acordos comerciais com outros países que ampliem a exportação de produtos manufaturados brasileiros.
O desafio não é pequeno, mas, assim como vimos a transformação do agronegócio brasileiro nas últimas décadas, podemos também testemunhar uma revolução semelhante no nosso setor industrial. É o que todos esperamos, para bem das atuais e das futuras gerações.