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    Wizard defende cloroquina, mas quer comprar 100 mil vacinas para funcionários

    Empresário, dono da holding Sforza, atua com Luciano Hang, da Havan, para comprar vacinas. E continua defendendo o tratamento precoce com hidroxicloroquina

    Carlos WIzard Martins, empresário: quer agilizar a compra de vacinas para seus colaboradores
    Carlos WIzard Martins, empresário: quer agilizar a compra de vacinas para seus colaboradores Foto: Sforza Holding/Divulgação

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O empresário Carlos Wizard Martins, dono da holding Sforza e de marcas como Mundo Verde, Pizza Hut e KFC no Brasil, admite que ficou conhecido como “Mr. Cloroquina” nos últimos meses por defender (e continuar defendendo) o tratamento precoce. Mas o foco dele, agora, é a vacina. O empresário quer comprar imunizantes para os seus mais de 50 mil colaboradores. Não só ele: Luciano Hang, fundador da Havan, entrou no balaio e, juntos, ambos pretendem adquirir 140 mil vacinas para atender todas as suas equipes.

    Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro sancionou o Projeto de Lei 534/2021 que autorizou estados, municípios e o setor privado a comprarem vacinas contra a Covid-19. Porém, todos precisam priorizar o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Plano Nacional de Imunização (PNI). Dessa maneira, os grupos prioritários continuarão recebendo os imunizantes em primeiro lugar.

    Logo, Martins pode até comprar vacinas, mas precisará dar os imunizantes ao governo. Ele, no entanto, enxerga que começa a ter jurisprudência para que ele consiga dar as vacinas para os funcionários.

    “Esse processo passa pelo amparo jurídico. A primeira batalha é a de criar os mecanismos jurídicos que nos dêem autonomia para fazer essa aquisição”, diz ele. Martins dá dois exemplos ocorridos no Distrito Federal – em que juízes liberaram motoristas de aplicativos e magistrados a comprar vacinas para uso próprio.

    Martins diz que não quer furar a fila da vacinação em prol dos seus colaboradores, mas que Hang e ele querem dar agilidade ao processo. Martins afirma que existem outros 100 empresários nesse grupo com eles, mas não quis dizer os nomes. Segundo o empresário, eles querem evitar a “vaidade” no grupo.

    Porém, mesmo que ele consiga a jurisprudência, há outro problema: não existem vacinas disponíveis para compras no mundo, e empresários não estão liberados a comprar os imunizantes.

    Mesmo assim, Martins não desanima. Para ele, estamos próximos de chegar a um tempo em que as vacinas estarão sobrando para serem compradas. E, como o governo ainda tem o foco de vacinar os grupos prioritários, o empresário quer investir para conseguir imunizar a sua força de trabalho.

    Confira, a seguir, a entrevista completa:

    Como surgiu a ideia de você e o Luciano Hang entrarem na compra de vacinas?

    O Luciano Hang e eu, como empresários, somos 100% a favor da vacina no combate a essa crise. Nós sabemos que devemos focar na solução, não no problema. Na imunização da população. Mas nós também entendemos que, por natureza, a máquina pública é muito lenta.

    Recentemente estive no Ministério da Saúde e a orientação que eu ouvi é que o governo pretende imunizar o grupo prioritário, que são os profissionais da saúde, idosos e as pessoas que tenham alguma doença com comorbidade. Minha próxima pergunta foi qual era o tamanho dessa população e me foi falado que era de 70 milhões de brasileiros. Pensando racionalmente, levando em conta o cronograma e logística de distribuição, quanto tempo vai levar? Entre 3 a 5 meses, no máximo 6 meses. Se formos projetar mais 6 meses, já será o final do ano.

    Então, teremos o ano de 2021 totalmente enclausurados, de quarentena e distanciamento social, já que não teremos acesso a essa vacina. Nós, como empresários, voltados à causa humanitária, em apoio ao governo, tomamos essa iniciativa de imunização. Nós queremos comprar essas doses e darmos gratuitamente para os nossos colaboradores.

    Mas a ideia é vacinar os seus colaboradores antes dos grupos prioritários?

    Queremos antecipar essas vacinas. Não estamos tentando competir com o Plano Nacional de Imunização e nem estamos pensando em furar a fila. Estamos trabalhando em consonância e com o próprio programa do SUS. A nossa parcela de contribuição contará com todo o trabalho de distribuição, armazenagem e custo. Todos sabemos que, para comprar de milhões e milhões, tem um custo. Estamos fazendo parte dessa doação e visando a normalidade.

    O problema é que falta vacina no mundo. Diversos países estão com dificuldade de comprar os imunizantes, não só o Brasil. Como vocês conseguirão ter acesso a elas?

    Nesta semana, nós tivemos um avanço muito grande já que a Anvisa liberou estados e municípios a adquirirem vacinas de fornecedores que já são credenciados nos seus próprios países. Ou seja, se temos um fabricante no Japão, na China ou nos Estados Unidos e nos órgãos de saúde local já tem o credenciamento, não é necessário que os fabricantes sejam novamente credenciados pela Anvisa. É uma portaria que nos dá autonomia e liberdade. Com isso dito, começamos a ter um universo maior de fornecedores.

    Obviamente que cada um deles vai ter o interesse de atuar com o Brasil. Entendemos que o Brasil também está se empenhando em produzir com países estrangeiros para atender a nossa demanda nacional. E, sendo bem sincero, não vai levar muito tempo, vai ter sobra de vacinas no Brasil. É uma questão do hiato do tempo. Mas, passados seis meses, de repente vai sobrar vacinas. E nós temos que entender é o seguinte: a vacina tem validade.

    Mas, de novo, o problema é que ainda não está sobrando. Estamos vendo países desenvolvidos não conseguindo imunizantes. Como fazer para vocês conseguirem vacinas em um momento como esse?

    Esse processo passa pelo amparo jurídico. A primeira batalha é a de criar os mecanismos jurídicos que nos dêem autonomia para fazer essa aquisição. Temos que citar um juiz do Distrito Federal que concedeu autonomia a motoristas de aplicativo a ter acesso a essa importação diretamente. Também tivemos magistrados, por meio de um juiz do Distrito Federal, que tiveram a liberação. Vai ser um efeito dominó. Outras entidades de classe vão entrar, e acontecerá com esse pedido e essa jurisprudência existindo.

    E quanto à falta de imunizantes?

    Sim, existem países que estão tendo dificuldades. Mas os próprios Estados Unidos estão prevendo que, até maio, a população que quiser ser imunizada estará imunizada. Se eles preveem isso, obviamente vão começar a disponibilizar essas cotas para outras vacinas. A notícia dessa semana é que os EUA estão oferecendo doses para o Brasil. Ou seja, o que nós antevemos, o que vai acontecer em breve, já começa a dar sinais.

    Então, vocês mesmos preveem que essa compra não seria para agora, mas para o futuro?

    Não posso falar se será em três, quatro ou cinco meses ou até mesmo se é em um mês. Queremos ter autonomia e ter essa negociação e antecipação, independentemente do prazo. Estamos trabalhando diretamente com o apoio da Associação Brasileira de Farmácias para ajudar no manuseio técnico das vacinas. Não posso comprar 50 mil doses e entregar em um depósito. Não temos a experiência de fazer a temperatura da armazenagem. A Abrafarma tem cinco mil farmácias, que estão com os equipamentos e profissionais para aplicar.

    Essa iniciativa é sua e do Luciano Hang ou tem mais empresários?

    São cerca de 100 empresários que trabalham conosco e queremos convidar não somente a população, mas empresários e governantes. Queremos conscientizar a população da importância da vacinação e de que não podemos manter o país paralisado.

    Poderia citar outros nomes?

    Não estamos citando os nomes por causa da questão da vaidade. Mas estamos falando de 10 milhões de trabalhadores que compõem esse grupo.

    A ideia é imunizar somente os colaboradores ou auxiliar no programa de imunização?

    Todo o projeto se deu para imunizar os nossos colaboradores. O Luciano quer comprar 40 mil, para 20 mil colaboradores, e eu quero comprar 100 mil, para os 50 mil funcionários. Quando tivermos um grupo significativo de empresários, estaremos falando de milhões. Não só estamos assumindo e poupando o governo do custo.

    Mas vocês estariam dispostos a ajudar, caso fosse para contribuir com o programa?

    Se nós aceitássemos, seria como falar para o governo que não faremos nada. Não é uma questão de falta de recurso. Eu passei o ano passado como conselheiro do Ministério da Saúde, que tem uma verba de R$ 150 bilhões. Recurso tem, o que falta é agilidade da máquina pública. Conforme eu falei, é ajudar de maneira solidária. E está tendo um trabalho de exclusão do governo, que está focando em 70 milhões, e excluindo os 140 milhões restantes.

    Ao entrar nessas compras, não existe o risco de inflacionar o custo das vacinas?

    Vamos trabalhar alinhados com os fornecedores que apresentaram as propostas ao Ministério e comprar em uma faixa de preço aceitável. Pela informação que nós temos, as vacinas estão custando entre US$ 7 e US$ 13. Obviamente, cada uma tem um grau de eficácia e há uma variação do preço. Não vamos fazer compras de forma impensada e nem pagar valores exorbitantes. Estamos prevendo pagar, em média, US$ 10.

    Vocês vão focar em alguma vacina em específico?

    Não estamos priorizando pelo país de origem, mas pelo grau elevado de eficácia. Existem vacinas com grau de eficácia de 50%. Então, se nós dois tomarmos a vacina, existe a chance de você estar imunizado e eu não.

    Mas essa percepção não está correta. Uma vacina com 50% de eficácia, como é o caso da Coronavac, tem uma eficiência maior para evitar evoluções graves da Covid-19. Caso só tenha ela para comprar, vocês comprariam? Ou vão focar nas outras?

    Você fez uma premissa inexistente e nem vou responder. Ela não é a única vacina.

    Como está o diálogo com o governo federal? 

    Eu acredito que o ministro Eduardo Pazzuello é favorável ao apoio dos empresários. Também acredito que o Élcio Franco, que é o secretário de Saúde, também é favorável. No entanto, em todos os momentos que estivemos juntos, eles me disseram que somos um país com muitos poderes. Temos o Congresso, temos a Anvisa e temos o presidente da República.

    Há momentos em que a legislação não permite certas intenções, mesmo que sejam de interesse da população. Não basta a intenção, é preciso passar por todo o processo de Legislação. É uma situação que vivemos com um clima de politização. A Covid-19 se transformou em uma questão ideológica.

    Como você avalia o atual momento da doença?

    Eu lamento muito o problema de colapso e por resistência do tratamento precoce, que foi recomendado pelo Ministério da Saúde, e que houve tanta resistência.

    Mas não existe eficácia comprovada para o tratamento precoce. A Organização Mundial da Saúde, a agência regulatória norte-americana, a FDA, e a própria Anvisa afirmaram que isso não existe. O senhor segue acreditando?

    Eu acredito, eu sigo, eu defendo e eu pratico. De 15 em 15 dias, eu tomo o meu tratamento profilático, com hidroxicloroquina e ivermectina. Eu tomo vitamina D diariamente. Até o momento, eu passei isento. A minha esposa, que foi acometida pelo coronavírus, depois de três dias estava bem. Não teve nenhum sintoma. Todos os pacientes que me contataram, eu indico médicos. Por outro lado, aqueles que ficaram em casa, que não trataram a doença e deixaram-na evoluir, nós estamos perdendo. Por uma questão ideológica.

    Você estimula os seus colaboradores a aderirem ao tratamento precoce?

    Eu estimulo os meus colaboradores, os meus seguidores, os meus amigos e os meus contatos. Já fui chamado de “Mister Cloroquina” do Brasil.

    E o senhor gosta desse apelido?

    Eu gosto de ser chamado de uma pessoa que defende a vida. Lamentavelmente, há mais pessoas voltadas à ideologia do que a salvar vidas.