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    Weintraub foi demitido de banco por resultados insatisfatórios, dizem ex-colegas

    Weintraub entrou como trainee no Banco Votorantim e trabalhou na instituição por 18 anos - entre junho de 1994 e maio de 2012

    O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante entrevista coletiva em Brasília
    O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante entrevista coletiva em Brasília Foto: José Cruz/Agência Brasil (3.dez.2019)

    Raquel Landim, Marcelo Sakate e Aline Scherer Da CNN, em São Paulo

    Ao ser questionado sobre a indicação do agora ex-ministro Abraham Weintraub para o Banco Mundial, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ironizou: “É.. Não sabem que ele trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009, e ele era um dos economistas. Mais alguma pergunta?”.

    O comentário de Maia, no entanto, deixou uma outra questão no ar. Como foi a passagem de Weintraub pelo Banco Votorantim, que hoje mudou de nome para Banco BV? O CNN Brasil Business conversou com pessoas que conviveram com o ex-ministro naquela época para responder.

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    Weintraub entrou como trainee no Banco Votorantim e trabalhou na instituição por 18 anos – entre junho de 1994 e maio de 2012. Era considerado um economista inteligente e até brilhante, mas já tinha o temperamento difícil. Ex-colegas dizem que não dava para prever, contudo, os arroubos e polêmicas nos quais entraria como ministro da Educação.

    Com a bênção de Wilson Masao, então presidente e um dos fundadores do Banco Votorantim, Weintraub se tornou economista-chefe e, em março de 2004, diretor da corretora do banco. Masao gostava de cultivar jovens talentos e Weintraub era um deles. O ex-ministro foi o responsável por abrir filiais da corretora em Nova York e em Londres.

    O banco naqueles tempos não era exatamente conhecido pela excelência na gestão — o sistema de avaliação de risco na concessão de crédito, por exemplo, era considerado falho pelo mercado –, mas a carreira de Weintraub parecia promissora, porque o Votorantim deslanchava, embalado pela expansão de crédito dos primeiros anos do governo Lula.  

    Só que, quatro anos depois, a turbulência que sacudiu o mercado financeiro provocada pela crise do sub-prime nos Estados Unidos colocou o Banco Votorantim em risco. O tradicional grupo industrial de mesmo nome sofreu perdas bilionárias com contratos derivativos de câmbio, e isso levou a uma corrida de saques ao banco. Além disso, a instituição tinha apostado pesado no financiamento de veículos, embalada pelas políticas de estímulo tributário para a compra de carros, e passou a sofrer perdas relevantes com inadimplência.

    Em janeiro de 2009, o Votorantim só não quebrou porque foi socorrido pelo Banco do Brasil, que comprou 49% da instituição então pertencente à família Ermírio de Moraes. Nos dois anos seguintes, o banco foi obrigado a passar por uma profunda reestruturação, que culminou na troca de seu presidente e de boa parte de equipe em setembro de 2011. Weintraub, no entanto, continuou. Segundo ex-colegas, ele não teve relação com as decisões equivocadas de financiamento de veículos.

    Sob sua orientação, a corretora do Banco Votorantim tinha se voltado para operações de varejo numa época de um mercado de capitais brasileiro ainda menor do que hoje e os resultados do negócio eram decepcionantes pela nova diretoria. Ainda dava um pequeno lucro, mas não estava em linha com se desejava.

    Os embates de Weintraub com os novos chefes tornaram-se constantes. Eles queriam que a corretora voltasse a atender apenas grandes fundos e empresas, mas o economista não concordava. Começaram a ocorrer divergências até em questões básicas de contabilidade. Para Weintraub, a corretora não tinha lucro relevante porque as contas estavam erradas. Até que, em maio de 2012, ele acabou sendo demitido por resultados insatisfatórios, conforme pessoas que acompanharam o assunto de perto.

    Weintraub demorou mais de um ano para se recolocar. Em agosto de 2013, começou a atuar na Quest Investimentos, gestora do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Acabou saindo de lá em setembro de 2014. Desde então vinha na área acadêmica até ingressar na campanha de Jair Bolsonaro e depois no governo federal.
     
    Procurado pelo CNN Brasil Business, o ex-ministro não quis se manifestar. No Twitter, respondeu a um seguidor que o questionou sobre os comentários do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Trabalhei no Votorantim por 18 anos. O banco existe até hoje. Nunca quebrou. Atualmente invisto em títulos dessa instituição por acreditar em sua solidez e seriedade. Espalhar fake news sobre a solvência de uma instituição financeira é muito grave”, disse Weintraub.