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    Volatilidade da bolsa disparou: por que ela aumenta o risco e como investir

    Instabilidade do Ibovespa chegou a quintuplicar após o "crash" do coronavírus, o que aumenta a imprevisibilidade e as perdas - mas também de ganhos

    Juliana Elias , do CNN Business, em São Paulo

    Mais do que fazer as bolsas de valores despencarem, a crise deflagrada pelo coronavírus nos últimos meses fez os mercados ficarem completamente instáveis e imprevisíveis. Quer dizer, o preço das ações e de outros ativos financeiros passou a ter quedas e altas muito fortes, alternadas entre si e, em grande parte das vezes, sem muita aderência e proporção com o que estava acontecendo na realidade. 

    É o que, nas mesas de analistas, bancos e corretoras, é medido pela volatilidade, uma das principais medidas de risco do mercado financeiro. Na prática, a volatilidade é a probabilidade tanto de perder quanto de ganhar muito com um ativo, e o quanto tanto uma coisa quanto a outra vão ficando completamente imprevisíveis.

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    O fato de o mercado ter ficado mais volátil não significa necessariamente que o investidor deva fugir dele. Mas, certamente, significa que serão necessárias mais atenção e muito mais tolerância às possíveis perdas e às turbulentas ondas de oscilações que vêm junto.

    “A volatilidade é o risco; quanto mais volátil um mercado ou um ativo, mais arriscado ele é”, disse Emerson Dias, professor de finanças e contabilidade da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “O risco não é uma coisa só positiva ou negativa, o risco é o risco por si. A volatilidade muito alta pode te fazer tanto perder quanto ganhar muito dinheiro; ela significa não conseguir prever, ficar à mercê do que pode acontecer.”

    Volatilidade quintuplicou na crise

    A volatilidade é calculada por uma fórmula estatística (o desvio padrão) que, na essência, compara a variação média no preço de um ativo com cada uma das variações efetivamente realizadas ao longo de um determinado período. Quanto mais distantes as variações reais da média, maior a volatilidade e, portanto, maiores a imprevisibilidade e o risco. A medida da volatilidade é dada em porcentagem. 

    A poupança, por exemplo, rende atualmente 2% ao ano, remunerando todo mês exatamente os mesmos 0,17% para chegar a isso – a volatilidade dela, portanto (o quanto as variações efetivas fugiram da média de 0,17%) é zero; quer dizer, não há risco absolutamente nenhum de acontecer algo diferente do que se espera. 

    Já uma ação também pode subir 2%, mas tendo caído 5% em um momento e subido 7% em outro, por exemplo – neste caso, o desvio da média e, portanto, a volatilidade e o risco, são bem maiores. 

    A volatilidade do Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, costumava ficar historicamente em torno dos 20%. Em março, logo após o “crash” do coronavírus, essa pontuação disparou para a faixa dos 100%, de acordo com cálculos do diretor de risco da gestora Constância Investimentos, Rogério Oliveira. 

    Nesse período intenso, não só a bolsa despencou dos quase 120 mil para 60 mil pontos em poucos dias. Ela também viu algumas das variações mais fortes em décadas: houve dias em que caiu 15%, para subir 14% no dia seguinte, para tornar a cair 14% (o que de fato aconteceu entre 12 e 16 de março). “O mercado ficou completamente disfuncional, as vendas foram indiscriminadas e muitas ações caíram muito mais do que faria sentido”, disse Oliveira.

    Altos riscos, altos ganhos

    O ideal é que ativos de maior risco, como a bolsa de valores, também sejam capazes de dar remunerações muito maiores do que a da poupança, por exemplo, justamente como uma espécie de contrapartida pela imprevisibilidade. Da mesma maneira, dentro da própria bolsa de valores há ações menos instáveis do que outras. O que vai atrair o investidor para as mais arriscadas é a possibilidade de ganhos maiores com elas. 

    É esta a lógica, também, que distancia os mercados em desenvolvimento dos países desenvolvidos: bolsas de valores e moedas emergentes são bem mais voláteis do que as dos mais ricos. Estima-se que a volatilidade histórica média do Ibovespa, por exemplo, seja cerca do dobro do S&P 500, o principal índice das bolsas norte-americanas.

    “Nas quedas, os ativos de risco geralmente caem mais, mas, nos momentos de alta, também podem dar ganhos muito maiores”, diz Oliveira, da Constância. “É por isso que o indicado é sempre ter uma carteira pulverizada, mesclando um pouco de cada. Quanto mais conservadora a pessoa, maior deve ser a parcela que ela destine para as ações menos voláteis.”

    Nos fundos geridos pela Constância, o nível de volatilidade é um dos grandes critérios olhados antes de incluir ou tirar uma ação do portfólio. Entram na análise outras contas também, como o potencial da empresa de crescer nos próximos anos e se o preço atual da ação dela está barato ou caro em relação ao quanto ela deveria valer. “Quanto mais volátil uma ação, mais você espera dela nos outros quesitos”, diz Oliveira.

    Ações mais e menos voláteis

    Um investidor individual sem ferramentas e sem domínio de estatística não vai conseguir calcular a volatilidade de uma ação sozinho, já que a conta exige mexer com o histórico de variações de cada papel. O melhor jeito de chegar a elas é por meio das indicações de gestores, profissionais e relatórios. Há entretanto ações e setores que tradicionalmente são mais estáveis na bolsa. 

    É o caso de setores com negócios razoavelmente perenes, que têm mercados bastante solidificados e mudam pouco ao longo das mudanças econômicas, como energia, saneamento, bancos, seguros e saúde. 

    Na outra ponta, empresas de varejo e construção, por exemplo, têm atividades mais cíclicos e podem ser mais voláteis. O setor de tecnologia, que pode ser facilmente balançado por um novo produto, também é mais sensível.

    Veja alguns exemplos de ações historicamente mais e menos voláteis, calculadas pela Constância Investimentos (considerados os níveis pré-crise):

    Ações com baixa volatilidade (próxima de 30%)

    CPFL – CPFE3  (energia)
    Energisa – ENGI11 (energia)
    Equatorial – EQTL3 (energia)
    Cemig – CMIG4 (energia)
    Embraer – EMBR4 (transportes)
    Tegma – TGMA3 (transportes)
    Iguatemi – IGTA3 (shoppings)
    Aliansce Sonae – ALSO3 (shoppings)
    Metal Leve – LEVE3 (indústria)
    Iochpe Maxion – MYPK3 (indústria)
    Somoto – SMTO3 (agropecuária)
    Porto Seguro – PSSA3 (seguros)
    Banco ABC – ABCB4 (financeiro)
    Santander – SANB11 (financeiro)
    Bradesco – BBDC4 (financeiro)
    Fleury – FLRY3 (saúde)
    Centro de Imagem e Diagnósticos – AALR3 (saúde)
    Arezzo – ARZZ3 (vestuário)
    Lojas Rennes – LREN3 (vestuário)
    Localiza – RENT3 (aluguel de veículos)

    Ações com alta volatilidade (próxima de 60%)

    Tenda – TEND3 (construção)
    CR2 Empreendimentos Imobiliários – CRDE3 (construção)
    Azevedo e Travassos – AZEV4 (engenharia)
    Hotéis Othon – HOOT4 (hotelaria)
    Teka – TEKA4 (têxtil)
    Haga – HAGA4 (bens industriais)
    Taurus – TASA4 (bens industriais)
    Wetzel – MWET4 (bens industriais),
    IdeiasNet – IDNT3 (tecnologia)