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    Vale a pena pagar US$ 50 mil para estudar online em Harvard? Veja respostas

    A universidade anunciou no início deste mês que planeja retomar as aulas de forma totalmente virtual

    Anna Bahney, , do CNN Business

    A estudante Lucy Tu está bem familiarizada com aulas online e eventos virtuais. No último ano do ensino médio, que acabou de cursar de forma online, Lucy trabalhou como editora do jornal da escola envolvida em bate-papos virtuais e videochamadas, competiu em um torneio nacional de discursos por meio de vídeos e até mesmo celebrou a formatura com uma pequena festa no Zoom.

    Mas isso é passado. Agora, enquanto se prepara para começar seu primeiro ano na Universidade de Harvard, em setembro, Lucy quer muito poder assistir às aulas pessoalmente.

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    “Eu já insisti nisso no último ano escolar”, contou. “Sei o que se perde quando não estamos lá pessoalmente. Não consigo imaginar falar ‘oi’ para todo mundo que quero conhecer usando apenas uma tela”.

    A Universidade de Harvard anunciou no início deste mês que planeja retomar as aulas de forma totalmente online. Embora a instituição espere alternar estudantes de graduação dentro e fora do campus em pequenos grupos, com calouros vindo no outono (do Hemisfério Norte) e veteranos na primavera, muitos estudantes não estarão in loco. Já quem vive no campus poderá frequentar as aulas (online) em seus dormitórios.

    Lucy estava preparada para sentir algumas diferenças no início do ano letivo (que acontece a partir de setembro nos EUA), dada a pandemia do coronavírus. Mas ficou surpresa ao saber que o alto valor da anuidade – US$ 49.653, sem incluir alojamento e alimentação, para o próximo ano letivo – continuaria o mesmo.

    Para um aluno como Lucy Tu, os planos de Harvard apresentam três opções pouco convidativas: pagar até US$ 63 mil para viver no campus por um semestre, tendo uma experiência limitada com seus colegas de classe e participando de aulas online; pagar US$ 54 mil pela anuidade das aulas online permanecendo na casa de seus pais em Omaha, Nebraska; ou tirar um ano sabático em um momento em que as viagens internacionais são complicadas e os estágios mais difíceis de encontrar, à espera da volta das aulas presenciais em 2021.

    “Foi um turbilhão de decepções e estou tentando permanecer otimista”, relatou. “Mas, quando decidi pagar a anuidade, entendi que iria usufruir de todos os benefícios do campus, incluindo a convivência com meus colegas. As aulas são uma pequena parte do que a gente paga”.

    Opções na balança

    Depois da difícil decisão de escolher uma universidade entre aquelas que podem pagar, os estudantes norte-americanos enfrentam agora escolhas mais complicadas e confusas. Qual opção devem escolher: aulas online morando no campus ou em casa? E vale mesmo a pena pagar a universidade agora?

    “O custo está pesando demais para mim”, confessou Lucy Tu, que não recebeu ajuda financeira e planeja pagar a faculdade com bolsas de estudos, empréstimos e pagamentos divididos com os pais. “Para meus pais, que pagam uma parte disso, a pergunta é: vale a pena o custo?”

    A mãe de Lucy, Libin Pan, prefere reduzir os custos de hospedagem e alimentação com a filha optando por aulas em casa durante o ano. A renda de sua família é alta para dar direito à ajuda financeira, mas não é bastante para pagar pela educação de Lucy e de seu irmão mais velho. Além disso, Pan, engenheira de computação, sofreu uma redução nos ganhos por causa da pandemia.

    “Neste momento difícil, eu gostaria que as escolas reduzissem o valor da anuidade para aliviar a carga sobre os pais”, disse Pan. “É por isso que preferimos que ela fique em casa. Pelo menos não precisaríamos pagar o custo da moradia”.

    Para a jovem, no entanto, estudar em casa é a opção menos atraente.

    “Se eu fizer um ano sabático, depois terei a chance de viver um ano de caloura mais típico”, explicou. “Se eu me mudar para o campus neste ano, pelo menos vou ter o gostinho de saber como ele é. Mas, se ficar em casa, não terei nada disso. Não sei se posso continuar motivada, ou se será suficiente”.

    Vale o custo quando é só online?

    Famílias e estudantes vão sofrer por pagar o valor total para as aulas online, segundo Mark Kantrowitz, especialista em ajuda financeira e empréstimos para estudantes, além de editor do site Savingforcollege.com. “É uma escolha entre cuidar da saúde e a segurança do seu filho versus adiar a educação por um ano. As famílias precisam decidir se o custo vale a pena”, disse.

    Algumas instituições fizeram ajustes de custos em função das circunstâncias. A Universidade de Princeton, por exemplo, anunciou a redução da taxa em 10% este ano. O MIT divulgou ter cancelado o aumento na anuidade previsto para este ano, além de reduzir o preço das refeições e passar a oferecer uma bolsa única para estudantes de graduação. O aumento da anuidade de Harvard continua em vigor, embora, para compensar os custos de manutenção do aprendizado à distância, a escola ofereça um subsídio de US$ 5 mil por semestre aos estudantes que recebem ajuda financeira e não moram no campus.

    Para Kantrowitz, mesmo sem as mudanças trazidas pela pandemia, as universidades enfrentaram a sensibilidade do mercado ao aumento dos valores.

    “É possível obter uma educação tão boa em uma universidade pública por um quarto do custo de uma particular”, comparou. “Mas muitas pessoas ainda acham que frequentar uma universidade da Ivy League ou uma instituição de elite gera um valor adicional”.

    Muitos estudantes ficaram ainda mais céticos nesse sentido.

    Entre os que ingressam na universidade, 21% mudaram sua principal opção ainda no primeiro semestre, citando o custo e a localização como os principais motivos, de acordo com uma pesquisa da McKinsey feita com formandos do ensino médio em maio. Ao considerar a possibilidade de aulas remotas no início do ano letivo em setembro, apenas 23% dos estudantes estavam confiantes de que poderiam receber uma educação de qualidade dessa maneira e apenas 19% achavam que poderiam estabelecer relacionamentos remotos.

    Quase metade dos estudantes planejam mudar seus planos para o ano por causa do coronavírus, segundo o relatório da McKinsey. E 15% dizem que provavelmente adiarão pelo menos um semestre.

    Kantrowitz acha que, embora tirar um ano sabático seja uma escolha atraente, isso pode afetar a ajuda financeira.

    No sistema norte-americano, quem tira um ano sabático e assiste às aulas em um community college ou uma faculdade mais perto de casa, entra depois na universidade escolhida como estudante transferido. “A ajuda financeira para estudantes transferidos é milhares de dólares menor que aquela disponível para novos estudantes”, explicou.

    Planos em evolução para 2020

    Ethan Shaotran ficou agradecido por Harvard ter oferecido aos alunos a chance de fazer um ano sabático a partir de setembro. Em vez de estudar online, o rapaz, que vive em Palo Alto, Califórnia, planeja estagiar em uma empresa de tecnologia e talvez escrever um terceiro livro sobre ciência da computação. Ethan espera morar com outros estudantes que também adiaram a entrada para que eles possam aprender, trabalhar e socializar juntos no próximo ano.

    “Um ano sabático é ótimo para o crescimento pessoal, pois me permite explorar o que me interessa”, disse. “Acredito que as coisas talvez estejam diferentes no outono de 2021.”

    Mas Anya Henry, que recebeu ajuda financeira total para frequentar Harvard, planeja aparecer no campus por causa do risco de perder esse suporte.

    Anya quer estudar as disciplinas de governo, economia ou história afro-americana no primeiro semestre. No próximo, ela vai se juntar a outros calouros de Harvard em uma viagem pelos EUA, visitando parques nacionais, mas sem perder a conexão com a universidade. “Dessa forma, eu posso ter uma experiência de ano sabático enquanto ainda estiver em aula”, contou.

    Já a decisão de aparecer no campus ou ficar em casa não foi difícil para Anicia MIller, que vai estudar engenharia biomédica ou bioquímica em Harvard a partir da mesa perto da janela de seu quarto em Chicago. Para ela, que planeja participar com ajuda financeira e bolsas de estudos, frequentar o campus em 2020 é sinônimo de riscos à saúde, dificuldades logísticas e custos desnecessários.

    “Fiquei decepcionada por não poder começar o primeiro ano lá, conhecer pessoas e me envolver com os clubes acadêmicos”, afirmou a jovem. “Mas estamos em uma pandemia. Não vejo sentido em correr riscos à saúde para mim ou minha família. E ir para o campus arcando com esses custos de hospedagem apenas para ter aulas online me parece um custo desnecessário”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).