Vacinação, temporada de balanços: os temas que devem pautar os mercados em maio
Após alcançar a segunda alta mensal seguida em abril, Ibovespa busca superar o patamar dos 120 mil pontos neste mês
Em abril, o Ibovespa superou o patamar de fechamento de março e cravou a segunda alta mensal consecutiva. Agora, os investidores brasileiros querem encontrar motivos para fazer o indicador superar os 120 mil pontos e se manter acima desse patamar.
Com o imbróglio do Orçamento (aparentemente) superado, o mercado acionário tirou uma das âncoras de seus pés e viu o câmbio recuar. Agora, os investidores e analistas mapeiam outras pautas que certamente influenciarão nas negociações daqui para frente.
Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos, assinou um relatório sobre os principais assuntos para ficar de olho em maio. Em entrevista ao CNN Brasil Business, ela disse estar animada com os próximos 21 dias de negociações. E, como toda boa analista, garante que a animação não é (só) torcida: “Há motivos para o otimismo”.
O primeiro motivo não é uma pauta externa, mas a relação entre preço e lucro dos papéis listados no Ibovespa. As ações brasileiras são negociadas, hoje, com uma relação preço/lucro de 10 vezes. Ou seja, o preço atual das ações é, em média, 10 vezes menor que o lucro por ação das empresas nos últimos 12 meses.
“Há ainda a revisão para cima da projeção de lucros das empresas do Ibovespa, o que anima e mostra que a bolsa está atrativa”, avalia Betina.
Vacinação
O ritmo da imunização contra a Covid-19 é uma das pautas que faz preço nos mercados há alguns meses. Em maio, não será diferente. Com o Brasil atrasado em relação a outros países, o tema acaba se tornando motivo de preocupação entre os investidores.
Ao mesmo tempo, o mercado norte-americano, que é referência para as operações brasileiras e do mundo, vive um momento completamente diferente, com indicadores mostrando uma reabertura econômica acelerada e até um pouco mais cedo que o esperado.
O mercado brasileiro tem, neste caso, dois caminhos: olhar para o ritmo acelerado da vacinação nos EUA e desanimar quando pensar na realidade local ou ficar otimista com a esperança de que o mercado daqui seguirá o mesmo caminho.
Para Betina, a segunda opção é que prevalece, por enquanto. “Alguns podem pensar que é muito cedo para pensar em reabertura econômica, mas o que o mercado faz é antecipar as tendências para montar posição, por isso olhar para EUA gera otimismo”, explica.
Temporada de balanços
A primeira quinzena será cheia de divulgação de resultados do primeiro trimestre. Nesta semana, divulgam resultados Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC3, BBDC4), Magazine Luiza (MGLU3) e Gerdau (GGBR4). A segunda semana será ainda mais agitada, com vários balanços divulgados na terça (11) e na quarta (12), entre eles os de BTG Pactual (BPAC11), Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e Marfrig (MRFG3).
Os setores que mais atraem atenção não mudam: bancos e commodities. As empresas ligadas a materiais como papel e celulose, minério de ferro e petróleo se aproveitam da alta dos preços no mercado internacional para inflar seus resultados. A Vale (VALE3), empresa mais valiosa da B3, inaugurou a temporada com o pé direito, superando em US$ 500 milhões as expectativas de analistas para seu lucro líquido.
Já os bancos estão voltando ao patamar pré-pandemia e animam o mercado. “A base de comparação ajuda, o primeiro trimestre do ano passado já foi muito ruim. Agora, esperamos que os bancos elevem os lucros para os níveis de 2019 com menores provisões [para se proteger de calotes] e maior volume com a retomada econômica”, explica a estrategista-chefe da Rico.
O fantasma da inflação
Enquanto as empresas ligadas a commodities ganham com a alta dos preços lá fora, o mercado se preocupa com um antigo vilão: a inflação. O Petróleo Brent, por exemplo, começou maio do ano passado negociado na casa dos US$ 35. Hoje, vale mais de US$ 66.
Segundo o relatório da Rico, a menção ao termo “inflação” durante teleconferências de resultados das companhias nos EUA cresceu mais de 300% ano contra ano, o que mostra como as empresas estão preocupadas com o assunto.
Mesmo assim, ainda é um bom momento para investir em ações, segundo Betina Roxo. “Por ora, não vemos uma inflação descontrolada –projetamos 4,9% para 2021 e 3,5% no próximo ano. Além disso, a bolsa brasileira está descontada e os ativos reais são importantes para se proteger da deterioração da moeda”.