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    Startup usa nióbio e cria alternativa ao álcool em gel, xampu e até fungicida

    Spray antisséptico tem 99,97% de água em sua composição e é mais barato que o tradicional álcool em gel

    Leonardo Guimarães, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Uma empresa mineira desenvolveu um spray antisséptico eficiente contra o coronavírus, que protege as mãos, superfícies e até máscaras por 24 horas. O produto tem 99,97% de água em sua composição e é mais barato que o tradicional álcool em gel. O segredo? Nióbio e muita pesquisa. 

    Os responsáveis por esse e outros produtos são os pesquisadores e investidores por trás da Nanonib, uma startup que fez um insumo versátil com nanopartículas de nióbio. A partir desse insumo, os sócios já criaram alguns produtos. 

    A empresa começou com um grupo de pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que analisam o minério há 15 anos –Luiz Carlos Oliveira, Cintia Castro e Jadson Belchior. Depois, em 2019, os investidores Alessandro Tamietti, Poliana Tamietti e Joel Passos, do Grupo Alcatti, entraram com dinheiro e fundaram a Nanonib. 

    O minério usado pela empresa é conhecido por sua eficiência e versatilidade. Em uma tonelada de aço, acrescentar apenas 400 gramas de nióbio deixa o produto final muito mais maleável e resistente a corrosão e altas temperaturas. É por isto que um frasco de 100 ml do spray antisséptico da startup tem apenas 15 partes por milhão da nanopartícula desenvolvida a partir do nióbio. 

    O produto ainda está aguardando a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que deve responder até a próxima semana. Uma vez aprovado, o spray estará nas gôndulas de varejistas mineiros em até duas semanas, afirma Luiz Claudio Oliveira, um dos sócios da Nanonib. “O varejo está muito interessado e já temos negociações para colocar o produto nas prateleiras, só dependemos do aval da Anvisa”, conta Oliveira.

    A legislação brasileira não permite que a mesma empresa que produz o insumo também produza o cosmético. Mas os sócios da startup não queriam vender apenas o insumo para a indústria, já que perderiam margem nesse movimento. Para resolver o problema, compraram a Yeva Cosmétiques, que já tem mais de 400 pontos de venda em Minas Gerais e vai produzir o spray e outros produtos. 

    O insumo nanotecnológico não serve apenas para a produção do spray antisséptico. Na verdade, não foi este o produto que originou a startup, e sim um clareador dental que promete acabar com a sensibilidade causada pelos clareadores tradicionais e ser mais saudável. “Nosso produto não usa peróxido de hidrogênio (água oxigenada), que é associado ao câncer”, explica Oliveira. 

    Na área de cosméticos, a empresa ainda espera lançar xampus e sabonetes. 

    A Nanonib também está desenvolvendo uma solução para o agronegócio, que sofre muito com fungos e precisa usar pesticidas. A startup pensou em um defensivo mais saudável para se livrar dos fungos em plantações de soja, café, tomate, entre outros. A estatal Embrapa entrou como parceira para testar o produto em plantações. Luiz Carlos Oliveira diz que este “seria o primeiro fungicida não tóxico da história”. 

    Margem gorda 

    A grande vantagem a Nanonib é poder cobrar pela tecnologia e alcançar margens generosas. No spray antisséptico, por exemplo, quase 100% do que estará nos frascos é água, o que deixa a produção muito mais barata que a do concorrente álcool em gel.

    Além disto, o nióbio é brasileiro – 90% do mercado do produto está no país –, o que torna a startup independente da China (de onde vem grande parte do polímero, necessário para produzir o antisséptico mais usado hoje em dia) e do câmbio. 

    “Uma das instruções que recebemos é que o preço de uma tecnologia de 15 anos precisa estar nos produtos”, conta Luiz Carlos Oliveira. O conceito é o mesmo de uma consulta com um psicólogo, por exemplo: você paga pelo conhecimento. 

    Mesmo com um produto com alto valor agregado, a decisão da Nanonib para o spray –o primeiro produto na fila de lançamentos– foi praticar preços similares ao álcool em gel. “Este foi um pedido pessoal meu para os investidores. Não queremos oferecer um produto inacessível para os mais pobres”, diz Oliveira. 

    Gigantes de olho

    Muita gente já está de olho nesta pequena startup. Em novembro do ano passado, um fundo canadense ofereceu R$ 20 milhões para comprar a tecnologia. Os sócios recusaram a oferta, entendendo que a empresa ainda poderia crescer muito em valor. E parece que eles estavam certos. 

    Hoje, a UPL, multinacional indiana que ocupa o quarto lugar no mercado mundial de defensivos agrícolas, está interessada em comprar a Nanonib. “O responsável por novas tecnologias da UPL me disse que já tem o dinheiro separado para investir na nossa startup”, conta o sócio da empresa. Segundo ele, o investimento pode ser uma compra total ou de um produto específico. 

    E não é apenas a UPL que está de olho nas soluções com nióbio. Stellantis (dona da Fiat) e Embraer já procuraram os representantes da startup para colocar o spray antisséptico nos carros e aviões. 

    A química alemã Basf é outra empresa na lista de interessadas pela Nanonib por causa das soluções na área de defensivos agrícolas. “Tivemos reuniões com uma grande equipe deles e, agora, vamos conversar com setores específicos”, relata Oliveira. 

    A avaliação dos sócios é de que o valor da empresa vai crescer muito se a Anvisa aprovar o insumo com nanopartículas de nióbio. “As empresas começaram a nos procurar e nós mostramos a tecnologia. Agora, estamos preocupados em encontrar o parceiro ideal”. 

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