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    SP tem reabertura tímida de restaurantes; Doria rejeita funcionamento à noite

    Com máscaras, álcool em gel e termômetros, funcionários de restaurantes da capital paulista estavam prontos para receber um público que quase não apareceu

    Da CNN

    O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rejeitou a possibilidade de permitir neste momento que bares e restaurantes operem à noite, apesar dos pedidos de proprietários desses estabelecimentos, que registraram pouco movimento no primeiro dia de reabertura na capital paulista após mais de três meses fechados devido à pandemia de coronavírus.

    Como a capital está na Fase 3 do plano de reabertura de setores da economia, a prefeitura permitiu nesta segunda a reabertura de bares, restaurantes e salões de beleza e barbeiros. No caso dos bares e restaurantes, limitou o horário de funcionamento de 11h às 17h, o que desagradou proprietários.

    “Como boa brasileira, a gente tem que manter a esperança. E é assim que a gente vai se embasar, porque esse horário não ficou bom, não é viável. O movimento vai ser pouco, porque não é o horário de trabalho, principalmente da região Vila Madalena”, disse Andreia Vieira, gerente financeira de um estabelecimento no bairro boêmio da zona oeste paulistana, à Reuters TV, diante de mesas vazias.

    “Cinco horas da tarde, me desculpe, não há como você vislumbrar que vai ser ótimo… Querendo ou não, a nossa rotina, onde a gente trabalha, é após às 17h”, disse ela, usando máscara.

    Prontos, mas vazios

    De pé, com máscaras no rosto, álcool em gel ao alcance das mãos e, em muitos lugares, armados com termômetros em formato de pistola, garçons e gerentes de São Paulo se perfilaram na porta de seus restaurantes nesta segunda-feira (6) para receber um público que quase não apareceu. Por toda a cidade, mesas distanciadas umas das outras ficaram vazias, enquanto os frequentadores continuam trabalhando de casa, no que no Brasil se chamou “home office”, ou tiveram receio de dar as caras enquanto o coronavírus ainda está em circulação.

    Entre os que chegaram a se sentar na mesa, um dos motivos confessados foi o “saco cheio” de encomendar comidas para entrega e a vontade de ver a rua.

    “Tinha um almoço mais perto. Mas fazia tempo que não vínhamos aqui, que é gostoso e mais barato”, disse a auxiliar de departamento pessoal Ariane Farias, de 18 anos, em um restaurante da Vila Madalena, zona oeste. Com dois amigos do trabalho, a moça havia decidido ir o restaurante que costumava frequentar antes da pandemia.

    “Tinha um buffet, a gente se servia, e tinha música também. Vinha aqui às vezes à noite também”, complementou a amiga, Dayane Conceição, de 24 anos.

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    A mesa era a única ocupada do Porto Madalena, restaurante que, segundo a gerente Andrea Viena, de 50 anos, servia 120 refeições por dia antes de a pandemia obrigar a adoção da quarentena. “A gente até começou a fazer delivery. Mas quem encomendou foi o cliente que já é da casa, não queria ver fechar”, disse. Ela chegou a fazer uma foto dos primeiros clientes a atender em cem dias de quarentena. Como todos os concorrentes do bairro que arriscaram abrir as portas neste primeiro dia, ela tinha duas grandes reclamações: “O horário”, disse ela, “e não poder usar as calçadas”.

    A reportagem percorreu dezenas de bares no eixo que vai do Largo da Batata até a Avenida Paulista. Não encontrou nenhum local em que as mesas não estivessem afastadas umas das outras ou que houvesse qualquer tipo de aglomeração. Ao conversar com funcionários e proprietários, a reclamação sobre a proibição de servir jantar foi constante.

    “O próprio município já defende isso”, disse Humberto Munhoz, do bar O Pasquim, que antes da pandemia só abria para o almoço entre sexta-feira e domingo. Ele disse que há preocupação dos donos das casas em manter a segurança dos locais e evitar as cenas de aglomeração como se viu no Leblon, no Rio. “O bar é uma empresa”, afirmou. Para aplacar o prejuízo, e tentar trazer mais gente para o lugar, sua casa terá um “bar office”, em alusão ao “home office”, entre terça e quinta-feira. Por um valor fixo, as pessoas podem passar a tarde no local, com consumo liberado de água, café e cerveja.

    Alguns restaurantes especializados em atender os funcionários dos prédios ao redor da Rua dos Pinheiros chegaram a montar algumas mesas no interior de suas casas – antes, elas ficavam na calçada. “Essa foi uma coisa que surpreendeu a gente. Nós sempre servimos na calçada e acho que ela é muito mais ventilada do que dentro”, disse o proprietário de um deles, o Cachaça e Companhia Artur Garcia, de 55 anos. Antes da crise, por alí passavam 200 pessoas por dia para almoçar, segundo conta.

    Das três mesas de Artur que estavam ocupadas por volta das 13 horas, uma delas era pelo empresário Eric Winck, de 41 anos, e seu funcionário, Ricardo Alexandre da Silva, de 43. “A gente veio aqui pegar comida para comer no trabalho. Nem sabia que estaria aberto. Mas, como estava, decidimos comer aqui”, disse.

    No trabalho deles, os funcionários estão se revezando, de modo que apenas parte da equipe fica em casa, o que é uma das explicações para haver pouca gente com eles. “Aqui, da forma como está, me sinto seguro. A gente já percebeu que tem de reabrir, não vai dar para ficar na quarentena para sempre. Então tem de ser assim, com segurança”, disse Winck, com a concordância do colega.

    A forma como esse primeiro dia de abertura transcorreu foi, na avaliação de um dos sócios do Figueira Rubaiyat, Diego Iglesias, bem diferente do que ocorreu na Espanha, onde esteve há algumas semanas para também acompanhar a reabertura dos restaurantes. “Lá teve muita euforia. Aqui, está tendo mais cuidado.”

    O famoso restaurante dos Jardins já tinha mesas distantes umas das outras, de modo que a única coisa que fazia a salão ser diferente dos dias atuais eram o público pequeno, as máscaras nos funcionários e o talheres nas mesas, envolvidos em sacos plásticos que tinham também kits de higiene com álcool em gel.

    Iglesias afirmou que as normas paulistas se assemelharam com as imposições das autoridades espanholas, à exceção do horário de fechamento mais cedo. Disse ainda que “o público ainda vai se acostumar, vai levar um tempo” para retomar a confiança de sair de casa. Da média de 100 a 150 refeições que servia por dia, no almoço, até as 14 horas desta segunda o empresário disse acreditar que havia atendido um público entre 20 e 30 pessoas.

    Doria: ‘Não queremos cenas do Rio’

    Indagado sobre os pedidos do setor para uma flexibilização no horário de funcionamento, Doria disse em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes que a decisão de limitar o funcionamento desses estabelecimentos foi tomada por unanimidade pelos 19 especialistas que compõem o Centro de Contingência do Coronavírus do governo estadual e descartou, ao menos por ora, alterar a regra.

    “Em relação a restaurantes, bares, pizzarias e similares, neste momento o horário estabelecido de fechamento é 17h por determinação do Centro de Contingência, do comitê de saúde”, afirmou o governador.

    “Nós não queremos em São Paulo as cenas que assistimos no Rio de Janeiro e em Londres. Nós não queremos super aglomeração, pessoas sem máscaras, pessoas com dosagem alcoólica elevada que não prestam atenção nem ao distanciamento, nem à sua própria proteção. E a orientação do comitê de saúde foi justamente de manter, nesta etapa, o funcionamento até 17h.”

    No fim de semana, foram registradas aglomerações em diversos bares na cidade do Rio de Janeiro, com pessoas desrespeitando o distanciamento social e deixando de usar máscaras, após a prefeitura da capital fluminense liberar o funcionamento de bares e restaurantes. Na capital britânica, onde o governo também permitiu a volta ao funcionamento dos tradicionais pubs ingleses, foram vistas imagens parecidas.

    Bares e restaurantes da capital paulista estavam com as portas fechadas desde o final de março, como parte das medidas de redução da circulação de pessoas para conter o coronavírus, podendo funcionar apenas com serviço de entrega.

    A flexibilização foi permitida após o Estado registrar queda no número de mortes por Covid-19 nas duas últimas semanas e ter reduzido a taxa de ocupação de UTIs para 63,9%, ante pico acima de 90% no auge da pandemia.

    De 28 de junho a 4 de julho foram registradas 1.733 mortes no Estado, ante 1.913 óbitos na semana de 14 a 20 de junho, de acordo com a secretaria estadual de Saúde. São Paulo é o Estado mais afetado pela Covid-19 no Brasil, com 323.070 casos confirmados e 16.134 mortes desde o início da pandemia.

    (Com informações de Reuters e Estadão Conteúdo)