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    Sindicatos temem por transporte e falta de testes na reabertura em SP

    Algumas entidades apoiam a retomada parcial das atividades, mas desde que garantidos cuidados como frota ampliada e adaptações no comércio e empresas

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Os sindicatos que representam os trabalhadores paulistas estão divididos em relação à reabertura gradual que começou a ser promovida pelo governo do estado e pela prefeitura de São Paulo na semana passada. 

    Para uma parte das entidades, a volta parcial das atividades pode ser importante, desde que respeitada uma série de medidas de segurança que vêm sendo debatidas junto às autoridades e empresários. A outra metade vê a reabertura como uma medida precipitada, em um momento em que as infecções e mortes por coronavírus no país ainda crescem de maneira acelerada.

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    O ponto de concordância é que há diversos fatores que ainda fragilizam a volta dos paulistas às ruas e aos estabelecimentos, e, que devem estar amparados pelas empresas e governos antes de uma tentativa de retorno. 

    A principal reclamação das entidades é quanto ao transporte público, única opção de deslocamento para boa parte dos trabalhadores: redução da frota (o que aumenta a lotação), resistência em manter condutores e técnicos de grupos de risco afastados e falta de testagens dos colaboradores estão entre as principais reclamações no que diz respeito aos ônibus e trilhos da região metropolitana da capital. Isso, afirmam, coloca não só os trabalhadores das redes em risco, como também os passageiros. 

    Necessidades de cuidados extra e adaptações internas no que diz respeito ao trabalho dentro das lojas e empresas são outros temas que têm sido defendidos pelos sindicatos. 

    Shoppings, lojas de rua, escritórios, serviços imobiliários e concessionárias de veículos são os serviços que voltaram a poder abrir, com restrições de horários e lotação, nas cidades onde o controle das infecções por coronavírus é considerado mais avançado pelo governo do estado. Na capital, a prefeitura permitiu a abertura de escritórios e concessionárias a partir da sexta-feira (4), também com limitações.

    “É uma equação complexa, e as vidas vêm em primeiro lugar, mas, se forem tomados os cuidados necessários, nós achamos que é possível [fazer uma reabertura]”, disse Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SECSP), que representa os empregados de frentes como shoppings, lojas, supermercados (que seguiram abertos), alguns escritórios e outros serviços, como as concessionárias de veículos.

    Ele destaca o difícil dilema entre o avanço da pandemia e os altos níveis de desemprego e falências – especialmente cruéis no setor de comércio e serviços – como razão para considerar a reabertura cautelosa. 

    “Nossa principal preocupação é com o transporte público”, diz ele, destacando a necessidade de ampliação da frota de ônibus na capital, reduzida durante as semanas de quarentena. “Transporte público e testagem são os maiores gargalos. A testagem é fundamental e uma obrigação do empresário; ele tem que testar seus funcionários e arcar com esses custos.”

    Equipes e horários restritos, entrada e saída fora dos horários picos, limitações no número de clientes e medição de temperatura obrigatória pelas empresas estão entre as demandas do sindicato e que estão nos protocolos estipulados para a reabertura dos primeiros comércios na capital. Uso de carpetes especiais e revisão nos sistemas de ar condicionado (para maiores trocas de ar) são outras recomendações mencionadas pelo SECSP, em especial para os shoppings, que são fechados. 

    Contrário à abertura, o sindicato dos bancários de São Paulo e região menciona os números ainda agressivos da panemia no país. “Para uma reabertura segura, é preciso uma redução consistente no número de casos por 15 dias seguidos, taxa de ocupação de UTI de 60% ou menor e adesão ao isolamento social mínima de 55%, e a capital paulista não atingiu nenhuma dessas condições”, escreveu em carta aberta a presidente do sindicato, Ione Silva, mencinonando as diretrizes definidas pelo próprio comitê de crise do estado.

    Os escritórios e sedes admisnistrativas dos bancos e instituções financeiras também passam a poder reabrir nesta primeira fase de reabertura.

    35 motoristas mortos

    Ônibus, trens e metrôs tiveram o número de veículos reduzidos durante as semanas da quarentena, e ampliação das frotas para o mais próximo possível dos 100% é um pleito coletivo dos sindicatos. É isso, defendem, que vai evitar que os veículos tenham aglomerações maiores conforme o número de passageiros volte a crescer também. 

    “O metrô é um local de grande concentração de pessoas e grandes chances de contaminação, e, mesmo com a queda no número de usuários, vinha registrando aglomeração de pessoas nos horários de pico”, disse Wagner Fajardo, coordenador geral do sindicato dos metroviários de São Paulo, representante dos 8.500 trabalhadores da categoria. A entidade é contra a reabertura neste momento. “Expõe os trabalhadores e, principalmente, entendemos que a curva de contaminações ainda não começou a cair”, disse. 

    “Nós apoiamos a abertura” diz Valmir Santana da Paz, presidente interino do SindMotoristas, “mas precisamos de condições, com retorno de 100% da frota, para que os motoristas não fiquem expostos e também os usuários, que vão andar nos ônibus superlotados”. 

    O SindMotoristas representa os cerca de 55 mil motoristas, cobradores e outros empregados das concessionárias de ônibus municipais de São Paulo. Paz menciona a retomada das atividades econômicas, bem como a proteção do emprego da categoria (que teme risco de demissões caso a receita do sistema siga em baixa por muito tempo), como benefícios de uma abertura gradual e cuidadosa. 

    O chefe do sindicato diz que não tem informação de que as empresas tenham realizado testes com seus funcionários, mas afirma que algumas fazem medição das temperaturas, uma das medidas de prevenção indicadas para os ambientes corporativos. Trabalhadores sob suspeita de infecção e também os maiores de 59 anos foram afastados. 

    Acompanhamento feito pelo SindMotoristas contava, até 19 de maio (levantamento mais recente) 131 infecções de Covid-19 confirmadas e outras 520 suspeitas entre os empregados dos ônibus paulistanos, além de 35 profissionais mortos, sendo que nove tinham tido a confirmação do vírus e 26 ainda estavam com os resultados do teste pendentes. 

    Naquela data, o Ministério da Saúde contava 271 mil casos confirmados em todo o país e 17,9 mil mortes – no levantamento oficial da última quarta-feira (3), os números já haviam dobrado, para 584 mil infecções e 32,5 mil mortes.

    Em nota, a prefeitura de São Paulo e a SPTrans informaram ao CNN Business que a frota da cidade vinha operando com 65,5% de sua capacidade, ou 8,4 mil veículos. Com o primeiro passo de reabertura anunciado ontem pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), a malha ganhará o reforço de mais 2.000 ônibus. O novo total passa a representar pouco mais de 80% da frota em circulação. 

    “A SPTrans segue monitorando a demanda de passageiros e a frota será reforçada quando constatada a necessidade ou de acordo com as aprovações dos protocolos para abertura” dos primeiros estabelecimentos, afirmou a entidade. 

    Obrigatoriedade de máscaras, sinalização de distanciamento nos terminais, mensagens de orientação e higienização dos veículos foram alguns dos cuidados implementados durante a quarentena “Todos esses cuidados serão intensificados conforme o protocolo de abertura seja iniciado”, informou a nota. 

    No Metrô, briga por testes e funcionários de risco

    A realização de testes em massa nos colaboradores é também uma das principais reinvindicações dos metroviários ao Metrô de São Paulo – o que não chegou a ser feito nenhum vez, de acordo Fajardo, o coordenador do sindicato do setor. O protocolo da estatal é afastar por 72 horas os que apresentem sintomas e expandir a licença caso o quadro evolua.  

    O sindicato contabiliza 90 infecções confirmadas – “são as que ficamos sabendo, o Metrô não divulga” – e um total de 140 funcionários que foram afastadas por apresentarem algum sintoma ou terem se exposto a pessoas contaminadas.

    O afastamento de trabalhadores com mais de 60 anos, considerados grupo de risco, só foi conseguido graças a uma liminar pedida pelo sindicato na Justiça. Um funcionário com Aids, que também é considerada condição de risco pela baixa imunidade, não foi dispensado pela equipe da empresa e só conseguiu o afastamento na Justiça, ainda de acordo com o sindicato.

    Procurado, o Metrô informou em nota que “fornece todo o suporte necessário para que seus colaboradores trabalhem de maneira segura”. “Para manter o funcionamento seguro deste serviço essencial, disponibilizamos aos passageiros uma alta oferta de trens em circulação, mesmo com queda brusca na demanda”, afirmou a entidade.

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