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    Selic só volta a subir se o governo gastar demais e inflação parece passageira

    Para economistas, juros devem ficar em 2% até fim de 2021 e ajudar na retomada da economia, mas descontrole fiscal pode obrigar um aumento precoce

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (16) a primeira parada na sucessão de cortes da taxa básica de juros do país, a Selic, depois de um ano inteiro de reduções sucessivas que derrubaram a taxa de referência da economia de 6,5%, em 2019,  para 2% agora. 

    O Copom decidiu por manter a taxa nos 2% em que já estava, dando poucos sinais de que pode voltar a baixá-la nos próximos meses e nenhum de que ela volta a subir tão cedo. 

    O entendimento de analistas, que já esperavam o movimento e consideram acertada a decisão, é de que a Selic deve ficar estacionada nos atuais 2% até pelo menos o fim do ano que vem. Isto porque, mesmo com os choques recentes de preços, caso de alimentos como arroz, deve ser passageiro, e tanto a inflação quanto o consumo devem passar ainda uma boa temporada abaixo do ideal.

    Como países mais fortes, notadamente os Estados Unidos, já deixaram claro que deixarão seus juros perto de zero por um bom tempo ainda, o Brasil e outros emergentes ganham uma folga em relação a outro problema que poderia obrigá-los a subir juros antes de a economia estar forte: o câmbio. 

    Se os juros dos Estados Unidos subissem, os investidores tenderiam a tirar dólares daqui e levar para investir lá, e o preço da moeda subiria ainda mais, obrigando o país a elevar os juros internos também. 

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    Todas essas são ótimas notícias: na prática, elas deixam o caminho livre para que o Brasil possa passar este fim de 2020 mais 2021 praticamente inteiro sem precisar subir os juros. É um estímulo que será essencial para uma economia que deve despencar perto de 5% neste ano e sair dele com um nível de desemprego recorde

    Só resta um último grande fator colocando os juros baixos na berlinda: o risco de aumento desenfreado dos gastos do governo. “O Brasil vai sair deste ano com a dívida pública próxima de 100% do PIB; a questão vai ser se, daí para frente, ela terá sustentabilidade ou se terá dificuldades para ser rolada”, disse o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos.

    “Uma mudança institucional muito grande, como abandonar a regra do teto de gastos [que controla o crescimento anual das despesas] ou uma guinada para uma agenda mais populista e gastadora poderiam colocar essa confiança em risco.”

    A dívida do Brasil, que já era alta – de 75% do PIB no ano passado – deve bater nos 100% neste ano com a disparada extraordinária de ajudas contra os efeitos da pandemia. Há o consenso de que elas são temporárias e não devem continuar no ano que vem, mas o fato é que o temor de que o crescimento da dívida se torne um caminho sem volta já vem dando dor de cabeça para o caixa do governo. 

    Ressabiados, os investidores já estão cobrando juros mais altos dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. São esses títulos que financiam a dívida, e a dificuldade de colocá-los no mercado pode travar esse processo. 

    “Não existe outro fator que ameace a manutenção dos juros baixos que não seja uma ruptura fiscal”, disse o economista do Opportunity Marcelo Fonseca. “Isso significa os agentes econômicos começaram a duvidar da capacidade do setor público de se manter solvente, ou seja, a dívida pública começar a crescer em um ritmo muito rápido a ponto de o governo não ser mais capaz de pagá-la.”

    “A recuperação econômica do Brasil será sofrida, o desemprego está muito alto”, disse
    Matheus Jaconelli, analista na Nova Futura. “Mesmo que tenhamos estímulo de um novo programa social, teremos uma questão fiscal complicada de resolver, e isso aumenta o risco de uma crise.”

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