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    Veja quais foram as ações mais buscadas por grandes investidores durante a crise

    Levantamento exclusivo da SmartBrain a pedido do CNN Business mostra ganhos e perdas dos investidores com a crise da COVID-19

    Painel com gráfico: os chamados "grandes investidores" apostaram na diversificação de carteira e em ações de empresas sólidas
    Painel com gráfico: os chamados "grandes investidores" apostaram na diversificação de carteira e em ações de empresas sólidas Foto: M. B. M./Unsplash

    Paula Bezerra

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, atingiu o pior resultado para um mês nos últimos 22 anos. No dia 31 de março, a B3 concluiu o pregão com uma queda de cerca de 30%, sendo a maior desde agosto de 1998, ano marcado pela crise financeira russa. No trimestre, a perda acumulada de 36,86% é a maior desde o início da série histórica, em 1986, segundo dados da Economatica. Diante desse cenário, fica a dúvida: é possível avistar um horizonte mais tranquilo em um futuro não tão distante? Grandes investidores já estão buscando as suas oportunidades. 

    E, sim, esses especialistas em renda variável também não estão tendo vida fácil. Longe disso. Mas como eles atuam diante de uma volatilidade como a de agora? Eles também estão perdendo dinheiro? Como investem? Para entender o comportamento deles, a SmartBrain, plataforma de controle e consolidação de investimentos, realizou um levantamento exclusivo feito a pedido do CNN Brasil Business.

    Considera-se um grande investidor no mercado aqueles que possuem uma carteira ativa de mais de R$ 300 mil. Para compreender como esses grandes “figurões” atuam em tempos voláteis, a fintech cruzou os dados de sua base entre os dias 26 de fevereiro a 20 de março e acompanhou as ações que eles compraram, as que mais venderam, lucros e perdas. 

    A primeira resposta encontrada pelo estudo foi que a diversificação, realmente, faz toda diferença. Isso porque, enquanto o Ibovespa acumulava perdas de 36,56% nos dias avaliados, os grandes investidores tiveram apenas uma redução de 9,12% em seus investimentos. Nem mesmo a turbulência dos seis circuit breakers que a bolsa sofreu nesse período impactou fortemente a carteira deles. 

    “Normalmente, os investidores que denominamos pessoas físicas são sempre os primeiros a ficar preocupados diante de uma crise como a de agora. Ficam receosos com os prejuízos e passam a vender as ações e os fundos”, diz Cassio Bariani, CEO e sócio-fundador da SmartBrain. “Contrariamente, o que notamos desta vez foi o oposto. Os investidores estão com maturidade e comportamento surpreendentes.”

    As ações mais negociadas

    Na direção contrária do estrangeiros, o fluxo de compra de ações no Ibovespa se manteve em alta. Até o dia 20 de março, data analisada pelo levantamento, o fluxo de investimentos das pessoas físicas na Bolsa manteve-se positivo em março até o dia 20 em 15,5 bilhões de reais. Já os fundos de ações tiveram captação líquida de R$ 5,84 bilhões neste mesmo intervalo.

    “Analisando a nossa base, constatamos que houve mais compras de ações e de fundos imobiliários do que vendas”, afirma Bariani. Para o executivo, dois fatores contribuíram para que os investidores continuassem apostando com convicção no mercado: a educação financeira, pelo fácil acesso à informação, e o apoio de especialistas em aportes. 

    Diante desse cenário, a ação mais compradas pelos grandes investidores entre os dias 26 de fevereiro a 20 de março foi a da Petrobras. Neste período, os papéis da companhia teve uma queda de 56,92%, passando de R$ 26,21, no dia 26 de fevereiro, para R$ 11,29 no dia 18 de março. A empresa foi afetada não só pela crise do coronavírus, que poderá deixar a empresa sem capital necessário para quitar a promessa de sua dívida, como, também, pela guerra do petróleo.

    Ainda assim, por ser uma empresa sólida e com muita liquidez, a recomendação dos especialistas foi apostar na estatal nesse momento de baixa, para colher bons resultados no futuro. “As ações da Petrobras caíram muito e é importante entender que a empresa não será mais a mesma”, diz Pedro Galdi, analista de investimento da Mirae Asset. “Mas o investidor busca liquidez, e isso a Petrobras garante.” 

    Além da Petrobras, a outra opção mais buscada pelos figurões foi a Vale. A empresa de minério de ferro também sofreu impactos pela COVID-19. No dia 26 de fevereiro, por exemplo, o preço das ações passaram a valer R$ 45,35, ante R$ 50,13 na semana anterior. No dia 12 de março, os papéis chegaram a R$ 35,35. “Além de ter caixa consistente, a Vale, por mais que tenha ocorrido toda a questão de Brumadinho, é uma empresa com margem e reage rápido a momentos de crise”, afirma Galdi. 

    Sobre os ETFs (exchange-traded fund), que despontaram em terceiro lugar, têm sido cada vez mais recomendados para dar mais dinamismo na carteira do investidor, assim como ampliar o leque de oportunidades. 

    Tradicionais nos Estados Unidos, os títulos de ETFs replicam índices como o Ibovespa ou o americano S&P, agrupando uma série de ações em um único papel. Nos dois primeiros meses deste ano, os ETFs listados na bolsa brasileira movimentaram mais de R$ 58 bilhões, segundo a B3 e a Bloomberg. Já em março, o valor já alcançava R$ 50 bilhões antes de acabar o mês. O BOVA11, que figura em terceiro lugar, teve valorização acima de 30% em 2019. Por isso passou a entrar na carteira dos grandes investidores. 

    Leia também: ETFs trazem liquidez e diversificação para carteiras de investimento

    Entre as ações mais vendidas, Galdi destaca as oportunidades de mercado – assim como a escolha por deixar de lado empresas com baixa liquidez na B3. No caso da Movida, por exemplo, ele acredita que o momento marcado pela COVID-19 foi crucial para que os investidores se desfizessem dos papéis. “Setores de turismo e entretenimento vão ser muito impactados com essa crise. Então, muitos investidores vão para empresas que garantam liquidez”, diz. 

    Mais maturidade e educação financeira 

    Os tempos são outros. Se desde 2016 o Ibovespa fechava o ano no azul, agora, as perdas têm sido expressivas. E, por mais clichê que seja ouvir que uma carteira diversificada faz muita diferença, este é o caminho seguido pelos grandes investidores – e que têm garantido menos perdas a eles. 

    Para Bariani, da SmartBrain, o acesso à educação financeira e análise meticulosa ao cuidar da carteira tem sido um grande diferencial entre a crise do mercado financeiro causada pela pandemia e a do subprime, em 2008.  Naquela época, quando a bolha imobiliária estourou nos Estados Unidos, o mercado financeiro brasileiro, assim como o global, também desmoronou. 

    No Brasil, um levantamento da Economática mostra que o Ibovespa perdeu 60% do seu valor entre os meses de maio e outubro de 2008. O efeito foi tão devastador que a bolsa brasileira só se recuperou 2.307 dias depois – em setembro de 2017

    Embora não seja possível calcular o tamanho do estrago que a pandemia trará ao mercado financeiro mundial e brasileiro – além do que já é observado com os tombos recentes – a análise da SmartBrian prevê algumas diferenças comportamentais. Para o CEO, os investidores acompanhados na análise estão mais maduros e consistentes. 

    “Os profissionais que movimentam a carteira desses investidores têm mostrado, em sua grande maioria, que a crise é significativa, mas que o mercado voltará a normalidade. Ou seja, não hora de ninguém tomar ações precipitadas”, diz. “E essa é a principal diferença entre a crise da bolha imobiliária americana em 2008 e a de agora: naquela época não tínhamos toda estrutura que temos hoje. Agora, o mercado está mais maduro”, afirma Bariani.